O indiciamento de Lula pela PF faz parte do próximo passo do golpe

Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho

E Lula foi indiciado pela PF no caso do tríplex do Guarujá, juntamente com sua esposa, Marisa Letícia, e mais três pessoas, dentre elas Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS.

Diferentemente do que escrevi aqui, nem os fatos são impedimento para que a PF indicie Lula.

O que orienta as ações da PF, Moro e do MPF é a agenda política do golpe.

Ou há outra explicação possível para esse indiciamento sair justamente durante a última fase do impeachment, a votação no Senado?

O timing é perfeito demais, como sempre.

Na medida para a repórter da Globo News falar, com ar de gravidade, que “é uma notícia que pode provocar impacto aqui no Congresso”.

E o que há de provas para a alegação de que Lula é o verdadeiro dono do tríplex e tentou ocultar o patrimônio?

A realização de reformas, pela OAS, no apartamento. Fernando Brito resolve a questão em três frases no Tijolaço:

Lula é indiciado por ter recebido da OAS obras num apartamento que não é seu nem de qualquer pessoa que, em seu nome, o tenha recebido e ocultando patrimônio para ele.
Pertence à OAS e assim está registrado em cartório.
Ainda que fosse verdade que a OAS pretendesse entregá-lo a Lula, ou que o tenha oferecido pela cota que, até alguns anos atrás, Marisa Letícia tinha no estabelecimento, mesmo assim, não haveria crime: primeiro era preciso que a doação se consumasse, a ele ou a terceiro e que, em troca, houvesse algum ato de favorecimento por parte de Lula ou por sua ordem.

Enquanto Lula apresenta documentos comprovando que possuía uma cota-parte no empreendimento do Guarujá e depois desistiu da compra, a PF apresenta como “provas” conversas entre Léo Pinheiro e Paulo Gordilho, ex-diretor da OAS. Trecho de matéria do G1:

De acordo com o relatório da Polícia Federal, Gordilho se encontrou pessoalmente pelo menos uma vez com Lula. Mensagens de texto entre o ex-diretor da OAS e o ex-presidente da empresa, Léo Pinheiro, apontam que tanto o ex-presidente, quanto a ex-primeira-dama podem ter participado diretamente das obras de reforma do sítio e também do apartamento.

Um “podem ter participado” baseado em mensagens de texto basta para que a cabeça de Lula seja oferecida mais uma vez nas manchetes dos portais ao exército de zumbis midiáticos.

A PF chega ao disparate de dizer que Lula entrou em contradição no depoimento prestado em março, quando disse que não se lembrava de conhecer Paulo Gordilho pelo nome, porque há uma foto dos dois juntos.

A resposta, óbvia, do Instituto Lula: “O ex-presidente não é obrigado a conhecer ou lembrar de todas as pessoas com quem tirou foto, muito menos o nome completo de alguém que tirou foto com ele 2 anos antes do depoimento”.

O delegado responsável pelo indiciamento, Márcio Anselmo, com toda a sobriedade e imparcialidade para investigar de quem comentou “Alguém segura essa anta, por favor” em uma notícia sobre Lula, sabe muito bem do ridículo das acusações.

Aliás, é patético acusar o presidente da república mais popular desde Getúlio Vargas de favorecer empreiteiras em negócios que envolvem bilhões em troca de reformas em um sítio e em um apartamento no Guarujá.

Está embutido aí inclusive o velho preconceito de classe contra Lula: um nordestino que veio da pobreza não precisa de milhões em contas no exterior para ser comprado, bastam umas reformas em um sítio e um apartamento e pronto.

Mas a fragilidade patente das acusações não importa.

O que importa é que Lula, apesar dos ataques incessantes desferidos pelo consórcio midiático-judicial contra ele nos últimos anos, continua líder nas pesquisas para ser o próximo presidente da república.

E qual seria o sentido de subverter todas as instituições e derrubar o governo eleito para Lula ser eleito novamente em 2018?

Para os golpistas, nenhum.

O indiciamento de Lula é apenas parte do próximo passo do golpe: dar um jeito de condenar Lula judicialmente para impedi-lo de ser candidato nas próximas eleições.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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