A PF foi enganada por uma criança de cinco anos? Vale tudo contra Lula e Dilma

Por Bajonas Teixeira de Brito Junior, editor de política do Cafezinho

Ontem a Globo divulgou o que seria um grande achado da Polícia Federal, duas fotos de um ex-diretor da OAS com Lula ao fundo. Se, contudo, as imagens estiverem no arquivo eletrônico com a mesma resolução com que nos foram mostradas, dificilmente deixarão de ter a autenticidade  contestada.

Nas duas imagens, o rosto de Paulo Gordilho, que aparece sobre o fundo branco de uma geladeira, lembra mais um meme que uma foto. Ou melhor, há memes em que os contornos são muito melhor realizados, imensamente mais naturais, e deixam uma fresta muito menor para dúvidas. Observe-se o contorno do rosto que destacamos com duas linhas amarelas abaixo. A impressão que dá é que foi feito um recorte com tesoura, colado em seguida sobre o fundo branco da geladeira. Será apenas o efeito de uma resolução muito baixa? Ou a resolução está muito baixa para encobrir uma edição que, de outro modo, ficaria evidente?

 

A Polícia Federal deve perguntar-se se não está sendo alvo de uma pegadinha de alguma criança de cinco anos. Ela terá que descobrir, caso não tenha imagens em melhor resolução para nos mostrar, em que jardim de infância esses memes foram produzidos.  (Em tempo: a segunda foto, que usamos para ilustrar o artigo, em que o rosto de Paulo Gordilho quase desaparece na escuridão das sombras, é ainda mais curiosa.)

Seja como for, o velho truque da dobradinha imagética em que uma notícia, com ou sem fundamento,  é usada como isca para capturar a atenção do público, permitindo que a entrada em cena de uma outra seja sentida como natural, foi usado novamente. Primeiro as duas fotos introduziram, ontem, um clima de suspeita – o que permitiu que dissessem coisas como “causa estranheza que Lula diga que não conhece Paulo Gordilho e apareça em foto com ao lado dele”. Hoje, sobre esse fundo já preparado, foi colado o indiciamento pela Polícia Federal. A escolha da data para a divulgação desses fatos – ontem, do Relatório da PF e as fotos, e hoje, do indiciamento –, não poderia ser mais óbvia. Chegaram a tempo e a hora, numa pontualidade britânica que no Brasil só ocorre em coisas bem planejadas.  Foram produzidos e divulgados para causar impacto sobre o julgamento do impeachment no Senado. Mas também, inversamente, para fazer com que o clima tensionado pelo julgamento, ajude a confundir a opinião pública sobre a ligação com o crime que querem imputar a Lula.

A Globo, na práxis feroz que tem adotado, deu uma manchete garrafal e a manteve a tarde inteira na home do G1:

A defesa foi rápida em caracterizar os crimes atribuídos a Lula como “mera peça de ficção”, com “caráter e conotação políticos”. Sobretudo, a pressa e o desleixo na produção dessa acusação, o que faz suspeitar de muitos outros defeitos não tão visíveis, permitiram o erro grosseiro de indiciar Lula e Marisa por corrupção passiva,  cuja premissa exclusiva é o de tratar-se de funcionário público, o que evidentemente não é o caso dos dois:

“Lula e sua esposa não são proprietários do imóvel que teria recebido as melhorias; não são funcionários públicos, que é a premissa do crime de corrupção passiva; Lula não participou da contratação indicada no relatório, de forma que o relatório pretende lhe atribuir a prática de um crime sem que ele tenha qualquer envolvimento (responsabilidade objetiva, estranha ao Direito Penal)”.

Assim como o baixo nível de resolução das fotos-memes, o baixo nível do indiciamento que estamos assistindo mostra uma decadência geral do nível de profissionalismo no país. Tudo parece ficção. Infelizmente, porém, como estamos cansados de constatar, a ficção, mesmo a mais rasteira, é justamente o combustível do golpe que estamos vivendo.

As farsas, que em qualquer outro lugar envergonhariam os autores, aqui servem, ao contrário, justamente por sua desfaçatez, para consolidar a unidade, o espírito grupal, dos condutores políticos e das massas de classe média irmanados no golpe. Seja como for, é sempre bom deixar claro que eles só enganam a eles mesmos.

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Bajonas Teixeira:
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