A história lhe ouve, presidenta!

(Presidenta Dilma Rousseff. Foto: Moreira Mariz/Agência Senado)

 

 

Por Ricardo Azambuja, correspondente do Cafezinho no Senado

 

Às 9h40 da manhã do dia 29 de agosto de 2016, a presidenta Dilma Rousseff começa a discursar no Senado diante de seus algozes e aliados, transformando uma hora de depoimento em um momento histórico. Suas palavras confirmam o que já foi provado por peritos e pelo MPF (Ministério Público Federal), a injustiça de uma frágil retórica jurídica baseada em provas produzidas que a acusa de um crime que não cometeu.

À semelhança com o passado sujo da história política brasileira, é inevitável a comparação com ex-presidentes que também foram vítimas de golpes.

“O presidente Juscelino Kubitschek, que construiu essa cidade, foi vítima de constantes e fracassadas tentativas de golpe. O presidente João Goulart (…) superou o golpe do parlamentarismo, mas foi deposto e instaurou-se a ditadura militar em 1964. O presidente Getúlio Vargas, que nos legou a CLT e a defesa do patrimônio nacional, sofreu uma implacável perseguição, a hedionda trama orquestrada pela chamada República do Galeão, que o levou ao suicídio”.

Denuncia que o golpe foi planejado pelos mesmos setores da elite do passado, que não medem esforços para remover do poder quem contrarie os seus interesses políticos e econômicos.

“Desde a proclamação dos resultados eleitorais, os partidos que apoiavam o candidato derrotado nas eleições fizeram de tudo para impedir a minha posse e a estabilidade do meu governo. Disseram que as eleições haviam sido fraudadas, pediram auditoria nas urnas, impugnaram minhas contas eleitorais e, após a minha posse, buscaram de forma desmedida quaisquer fatos que pudessem justificar retoricamente um processo de impeachment”. E continua: “Como é próprio das elites conservadoras e autoritárias, não viam na vontade do povo o elemento legitimador de um governo. Queriam o poder a qualquer preço”.

Dilma convence, demonstra honestidade e retidão de caráter em sua fala. Afirma que não enriqueceu, não desviou dinheiro em benefício próprio ou de seus familiares e não tem conta no exterior. Ao contrário do responsável pela abertura do seu pedido de impeachment no Congresso, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.

Não esquece de sublinhar o apoio escancarado de setores da mídia a sua deposição. “Não há respeito ao devido processo legal quando a opinião condenatória de grande parte dos julgadores é divulgada e registrada pela grande imprensa, antes do exercício final do direito de defesa.”

Relembra o seu triste passado. “Diante das acusações que contra mim são dirigidas, não posso deixar de sentir novamente o gosto amargo da injustiça e do arbítrio. Mas como no passado, quando fui torturada, resisto. Não esperem de mim o obsequioso silêncio dos covardes”, uma crítica explícita ao governo usurpador de Michel Temer, famoso por seus atos de covardia e traição.

Na galeria do plenário, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e o cantor e compositor Chico Buarque mostram-se visivelmente emocionados com o discurso de uma mulher alçada ao mais alto cargo de uma nação por mais de 54 milhões de votos, que com honra e dignidade defende, acima de tudo, a democracia.

“Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder, como é próprio dos que não tem caráter, princípios ou utopias a conquistar. Luto pela democracia, pela verdade e pela justiça. Luto pelo povo do meu País, pelo seu bem-estar.”

A presidente julgada exibe a firmeza de uma valente que foi torturada e enfrentou um tribunal militar há mais de 40 anos. A mesma força com que lutou contra um câncer descoberto em 2009.

“Venho para olhar diretamente nos olhos de Vossas Excelências, e dizer, com a serenidade dos que nada tem a esconder, que não cometi nenhum crime de responsabilidade. Não cometi os crimes dos quais sou acusada injusta e arbitrariamente.”

E, por fim, alerta os senadores: “Hoje o Brasil, o mundo e a história nos observam e aguardam o desfecho deste processo de impeachment.”

A presidenta Dilma Rousseff entrará para a história, não por erros cometidos que fez questão de assumir, mas por sua valentia e coragem em defender a democracia e o povo brasileiro.

Aos golpistas, restará apenas a lata de lixo da história.

 

 

Abaixo, discurso histórico do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) (TV Senado)

Ricardo Azambuja:
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