A PEC 241 é o cúmulo do aparelhamento do Estado pela direita

(Charge: Angeli)

Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho

Começa hoje a sessão da Câmara que dará início à votação da PEC 241, que, se aprovada, congelará o gasto público por 20 anos.

O que está em jogo aqui são duas visões diferentes do papel do Estado, que se chocam pelo mundo todo.

A defendida pela esquerda hoje, a grosso modo, é a de que o Estado deve gerir alguns setores estratégicos, os quais não podem ser explorados apenas pela iniciativa privada – que segue somente a lógica do lucro – porque são essenciais para o bem-estar da população.

Educação e saúde certamente são dois destes setores, e os países com melhor IDH confirmam a tese da esquerda: na Finlândia, por exemplo, referência mundial em educação, todas as escolas são públicas.

Já a visão de Estado defendida pela direita, ou seja, pelos que bancaram a ascensão do governo golpista, é a de que o Estado deve ser o menor possível, limitando-se a garantir a ordem e a propriedade privada através do uso da força.

Uma proposta de Emenda Constitucional que congele os investimentos públicos em saúde e educação pelos próximos 20 anos nada mais é, portanto, do que a imposição da receita da direita para a economia aos próximos presidentes eleitos.

Não basta dar um golpe para colocar no poder a ideologia que perdeu as últimas quatro eleições presidenciais.

É preciso garantir que os próximos eleitos sigam a cartilha neoliberal, nem que seja na marra.

Caso seja aprovada a PEC 241, as eleições serão, daqui para a frente, apenas um teatro para mostrar ao mundo como a nossa democracia e as nossas instituições estão funcionando perfeitamente.

É ou não é o maior caso de aparelhamento do Estado por uma ideologia de que se tem notícia?

Claro que, para tentar angariar algum apoio da população, Temer e sua grande fiadora, a mídia cartelizada, vendem a PEC 241 não como uma posição ideológica, mas como a única salvação possível para o Brasil.

‘Vamos tirar o Brasil do vermelho’, diz a propaganda governamental.

A Globo diz, em editorial, que ‘Se as corporações (referindo-se ao MPF, que manifestou-se dizendo que a PEC é inconstitucional) conseguirem sabotar o ajuste, o desastre terá dimensões de catástrofe. Inclusive contra elas próprias, devido aos efeitos na vida de mais de 200 milhões de brasileiros causados pela hecatombe econômica que virá’.

Para a grande comandante do golpe e da direita nacional, o importante é o Estado manter as gordas verbas publicitárias para a mídia amiga (O Cafezinho revelou o aumento escandaloso do dinheiro público injetado na mídia de direita após o golpe, aqui, aqui e aqui). Em outros setores menos importantes, como saúde e educação, o Estado deve se abster de investir e deixar os mega empresários do ensino privado e dos planos de saúde lucrarem em paz oferecendo serviços de péssima qualidade.

Michel Temer bancou ontem um jantar – provavelmente com o nosso dinheiro – para convencer deputados a votarem a favor da PEC.

Se não conseguirmos impedir esse gigante retrocesso, o que sobrará à população são mesmo os ossos, e olhe lá.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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