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Lula à Folha: porque querem me condenar

(Charge: Vitor Teixeira) Por que querem me condenar por Luís Inácio Lula da Silva, na Folha Em mais de 40 anos de atuação pública, minha vida pessoal foi permanentemente vasculhada -pelos órgãos de segurança, pelos adversários políticos, pela imprensa. Por lutar pela liberdade de organização dos trabalhadores, cheguei a ser preso, condenado como subversivo pela […]

20 comentários
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(Charge: Vitor Teixeira)

Por que querem me condenar

por Luís Inácio Lula da Silva, na Folha

Em mais de 40 anos de atuação pública, minha vida pessoal foi permanentemente vasculhada -pelos órgãos de segurança, pelos adversários políticos, pela imprensa. Por lutar pela liberdade de organização dos trabalhadores, cheguei a ser preso, condenado como subversivo pela infame Lei de Segurança Nacional da ditadura. Mas jamais encontraram um ato desonesto de minha parte.

Sei o que fiz antes, durante e depois de ter sido presidente. Nunca fiz nada ilegal, nada que pudesse manchar a minha história. Governei o Brasil com seriedade e dedicação, porque sabia que um trabalhador não podia falhar na Presidência. As falsas acusações que me lançaram não visavam exatamente a minha pessoa, mas o projeto político que sempre representei: de um Brasil mais justo, com oportunidades para todos.

Às vésperas de completar 71 anos, vejo meu nome no centro de uma verdadeira caçada judicial. Devassaram minhas contas pessoais, as de minha esposa e de meus filhos; grampearam meus telefonemas e divulgaram o conteúdo; invadiram minha casa e conduziram-me à força para depor, sem motivo razoável e sem base legal. Estão à procura de um crime, para me acusar, mas não encontraram e nem vão encontrar.

Desde que essa caçada começou, na campanha presidencial de 2014, percorro os caminhos da Justiça sem abrir mão de minha agenda. Continuo viajando pelo país, ao encontro dos sindicatos, dos movimentos sociais, dos partidos, para debater e defender o projeto de transformação do Brasil. Não parei para me lamentar e nem desisti da luta por igualdade e justiça social.

Nestes encontros renovo minha fé no povo brasileiro e no futuro do país. Constato que está viva na memória de nossa gente cada conquista alcançada nos governos do PT: o Bolsa Família, o Luz Para Todos, o Minha Casa, Minha Vida, o novo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), o Programa de Aquisição de Alimentos, a valorização dos salários -em conjunto, proporcionaram a maior ascensão social de todos os tempos.

Nossa gente não esquecerá dos milhões de jovens pobres e negros que tiveram acesso ao ensino superior. Vai resistir aos retrocessos porque o Brasil quer mais, e não menos direitos.

Não posso me calar, porém, diante dos abusos cometidos por agentes do Estado que usam a lei como instrumento de perseguição política. Basta observar a reta final das eleições municipais para constatar a caçada ao PT: a aceitação de uma denúncia contra mim, cinco dias depois de apresentada, e a prisão de dois ex-ministros de meu governo foram episódios espetaculosos que certamente interferiram no resultado do pleito.

Jamais pratiquei, autorizei ou me beneficiei de atos ilícitos na Petrobras ou em qualquer outro setor do governo. Desde a campanha eleitoral de 2014, trabalha-se a narrativa de ser o PT não mais partido, mas uma “organização criminosa”, e eu o chefe dessa organização. Essa ideia foi martelada sem descanso por manchetes, capas de revista, rádio e televisão. Precisa ser provada à força, já que “não há fatos, mas convicções”.

Não descarto que meus acusadores acreditem nessa tese maliciosa, talvez julgando os demais por seu próprio código moral. Mas salta aos olhos até mesmo a desproporção entre os bilionários desvios investigados e o que apontam como suposto butim do “chefe”, evidenciando a falácia do enredo.

Percebo, também, uma perigosa ignorância de agentes da lei quanto ao funcionamento do governo e das instituições. Cheguei a essa conclusão nos depoimentos que prestei a delegados e promotores que não sabiam como funciona um governo de coalizão, como tramita uma medida provisória, como se procede numa licitação, como se dá a análise e aprovação, colegiada e técnica, de financiamentos em um banco público, como o BNDES.

De resto, nesses depoimentos, nada se perguntou de objetivo sobre as hipóteses da acusação. Tenho mesmo a impressão de que não passaram de ritos burocráticos vazios, para cumprir etapas e atender às formalidades do processo. Definitivamente, não serviram ao exercício concreto do direito de defesa.

Passados dois anos de operações, sempre vazadas com estardalhaço, não conseguiram encontrar nada capaz de vincular meu nome aos desvios investigados. Nenhum centavo não declarado em minhas contas, nenhuma empresa de fachada, nenhuma conta secreta.

Há 20 anos moro no mesmo apartamento em São Bernardo. Entre as dezenas de réus delatores, nenhum disse que tratou de algo ilegal ou desonesto comigo, a despeito da insistência dos agentes públicos para que o façam, até mesmo como condição para obter benefícios.

A leviandade, a desproporção e a falta de base legal das denúncias surpreendem e causam indignação, bem como a sofreguidão com que são processadas em juízo. Não mais se importam com fatos, provas, normas do processo. Denunciam e processam por mera convicção -é grave que as instâncias superiores e os órgãos de controle funcional não tomem providências contra os abusos.

Acusam-me, por exemplo, de ter ganho ilicitamente um apartamento que nunca me pertenceu -e não pertenceu pela simples razão de que não quis comprá-lo quando me foi oferecida a oportunidade, nem mesmo depois das reformas que, obviamente, seriam acrescentadas ao preço. Como é impossível demonstrar que a propriedade seria minha, pois nunca foi, acusam-me então de ocultá-la, num enredo surreal.

Acusam-me de corrupção por ter proferido palestras para empresas investigadas na Operação Lava Jato. Como posso ser acusado de corrupção, se não sou mais agente público desde 2011, quando comecei a dar palestras? E que relação pode haver entre os desvios da Petrobras e as apresentações, todas documentadas, que fiz para 42 empresas e organizações de diversos setores, não apenas as cinco investigadas, cobrando preço fixo e recolhendo impostos?

Meus acusadores sabem que não roubei, não fui corrompido nem tentei obstruir a Justiça, mas não podem admitir. Não podem recuar depois do massacre que promoveram na mídia. Tornaram-se prisioneiros das mentiras que criaram, na maioria das vezes a partir de reportagens facciosas e mal apuradas. Estão condenados a condenar e devem avaliar que, se não me prenderem, serão eles os desmoralizados perante a opinião pública.

Tento compreender esta caçada como parte da disputa política, muito embora seja um método repugnante de luta. Não é o Lula que pretendem condenar: é o projeto político que represento junto com milhões de brasileiros. Na tentativa de destruir uma corrente de pensamento, estão destruindo os fundamentos da democracia no Brasil.

É necessário frisar que nós, do PT, sempre apoiamos a investigação, o julgamento e a punição de quem desvia dinheiro do povo. Não é uma afirmação retórica: nós combatemos a corrupção na prática.

Ninguém atuou tanto para criar mecanismos de transparência e controle de verbas públicas, para fortalecer a Polícia Federal, a Receita e o Ministério Público, para aprovar no Congresso leis mais eficazes contra a corrupção e o crime organizado. Isso é reconhecido até mesmo pelos procuradores que nos acusam.

Tenho a consciência tranquila e o reconhecimento do povo. Confio que cedo ou tarde a Justiça e a verdade prevalecerão, nem que seja nos livros de história. O que me preocupa, e a todos os democratas, são as contínuas violações ao Estado de Direito. É a sombra do estado de exceção que vem se erguendo sobre o país.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA foi presidente do Brasil (2003-2010). É presidente de honra do PT (Partido dos Trabalhadores)

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Comentários

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Torres

18/10/2016 - 10h21

A pergunta é: foi o Lula que escreveu esse texto?

    Alan

    18/10/2016 - 10h24

    A resposta é: isso faz alguma importância?

    cousinelizabeth

    18/10/2016 - 10h35

    A pergunta é ociosa, me desculpe. Todo empresário de um certo porte, assim como todo homem público muito requisitado pela imprensa costuma ter seu assessor para compilar suas ideias e ajuda-lo a redigir um artigo que seja adequado para o veículo que irá publica-lo. Como profissional de comunicação sei que essa é a prática, até porque já redigi artigos para empresários de setores diversos. Faz parte do dia a dia de qualquer assessor de imprensa. Por que é que o Lula, um homem público de tão grande importância para o País, não poderia ter assessores para ajuda-lo a redigir seus artigos? Nem sei se ele usou ou não assessores, até porque as ideias e pensamentos retratados nesse artigo da FSP são absolutamente idênticos a tudo o que ele diz nos palanques mas se tiver usado um redator ou um revisor de texto não vejo qual seria o problema. Sinto muito mas me parece um pouco de preconceito de sua parte. Até o presidente da Fiesp e o da Febraban usam redatores para transmitir suas ideias.

      Torres

      18/10/2016 - 11h11

      pergunta ociosa? hehehe…
      eu sou profissional de comunicação tb.
      sei bem como funciona.
      não é problema algum, na verdade.
      apenas uma demonstração de como funciona o discurso.
      marketing puro.

        Fernanda Viriato Bandeira

        18/10/2016 - 11h37

        Você deve então fazer muito esta pergunta aos integrantes da FIESP, por exemplo. Ah, não, claro que não, que ingenuidade minha, eles não requisitam trabalho eles compram pessoas como você.

        Esther

        18/10/2016 - 12h11

        de qualquer forma sua pergunta continuou sendo ociosa.

          Torres

          18/10/2016 - 12h16

          E de qualquer forma o português sofreu um ataque incrível de alguém que diz ser comunicador

          Edson

          18/10/2016 - 12h54

          esses jovens abaixo dos 40 anos são todos fascistas!!!!

          Torres

          18/10/2016 - 13h00

          Então é um problema dos jovens?
          Não é problema a esquerda ter se corrompido.
          Entendo.

          cousinelizabeth

          18/10/2016 - 15h36

          Não acho que seja um problema de idade. Meus filhos e inúmeros parentes e amigos são jovens abaixo dos 40 anos e não são fascistas. Esse cavalheiro deve pertencer, por seu discurso, às fileiras da direita obnóxia que está instalada em nossa classe média e, como tal, não suporta opiniões contrárias ou sequer a ideia de um torneiro mecânico ser melhor comunicador do que ele e seus pares.

          Torres

          18/10/2016 - 15h44

          lamento, Elizabeth, te desapontar.
          mas votei no Lula e fui filiado ao PC do B durante muitos anos.
          o que eu não gosto é de irresponsabilidade fiscal e populismo.
          Lula foi austero.
          e admiro sua administração nesse sentido.
          Dilma veio e ferrou com o belo legado de Lula, jogando-o às traças.
          há anos leio os avisos sobre a quebra do Brasil diante do populismo e de medidas anti-mercado.
          quebrou.
          fui empresário na área de comunicação e senti a crise desde 2012.
          Dilma apenas empurrou a crise para frente, as custas de endividamento público.
          lamentável.

        cousinelizabeth

        18/10/2016 - 15h34

        Não é “marketing puro” se condiz com a prática e o que é dito pessoalmente pelo autor em todas as suas aparições públicas ao longo de décadas. Um belo profissional de comunicação deve ser você se não sabe distinguir o que é marketing puro de um discurso autêntico.

          Torres

          18/10/2016 - 15h36

          o texto é escrito profissionalmente, com técnicas de marketing.
          adaptado ao discurso.
          mas feito sob medida para vender o discurso.
          marketing puro.

    Edson

    18/10/2016 - 12h49

    e qual eh o problema??? você escreveria melhor??? golpista!!!!

      Torres

      18/10/2016 - 12h53

      Escreveria.
      Mas com certeza Lula não.

        cousinelizabeth

        18/10/2016 - 15h37

        Você é apenas um imbecil. Sinto ter perdido meu tempo na tentativa de escrever mais de duas linhas dirigidas à sua inteligência.

          Torres

          18/10/2016 - 15h39

          lamento que vc não mantenha o bom nível.
          eu não respeito pessoas que vem com agressões diante de um debate educado.

      Clarivaldo Freire

      18/10/2016 - 14h23

      O problema deste imbecil, não é o texto, o problema é o Lula.

      Ele morre de inveja da liderança e capacidade de gestão do Lula.
      E, morre de medo que ele retorne e enterre de vez os arroubos autoritário do seu partido e sua lideranças arcaicas. Leia-se, FGAGAC e Serra, vulgo vampiro, Aluisio 300 mil, etc…

Onda Vermelha

18/10/2016 - 10h04

Acessem e divulguem o site http://naoapec241.com.br/. E assinem a Petição contra a Draconiana PEC 241! E no twitter espalhem ao máximo! #PecDoFimDoMundo #ContraPEC241 – O Governo Temer quer congelar os gastos com Saúde e Educação por 20 ANOS! Não à PEC241! Até o presente momento 486.394 pessoas(e subindo!) já assinaram a petição!! Vamos chegar a MEIO MILHÃO!!

https://www.youtube.com/watch?v=4GvEIjBh3Xw

Camilo Lelhis

18/10/2016 - 09h26

Lula, você também tem que refletir seus erros como presidente: 1) Fez um péssimo e fraco sucessor: Dilma. 2) Poderia ter reformado e feito uma limpeza nos serviços de inteligência ABIN e Policia Federal. 3) Poderia ter feito uma reforma e democratização nos meios de comunicação nacional (ter liquidado com parasítico o Grupo Globo).


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