A lavagem cerebral da mídia e a novelização da Justiça

Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho

Estava eu utilizando o metrô de São Paulo, ontem, quando apareceu na TV Minuto, ‘emissora’ responsável pela programação que fica passando nas tvs acopladas ao metrô, uma notícia afirmando que Sérgio Moro havia marcado a data em que iria ouvir o depoimento de Cláudia Cruz.

A TV Minuto foi a principal recebedora de recursos federais na categoria Mídia Exterior tanto em 2015, ainda com o governo Dilma, quanto em 2016, com Temer, conforme apurou o editor do Cafezinho, Miguel do Rosário, neste post.

No comparativo entre os meses de maio/agosto de 2015 e de 2016, constata-se que houve um aumento 182% nos valores destinados à TV Minuto com a ascensão do governo golpista.

A TV Minuto pertence à Band, ou seja, o fato de ela ser a campeã de recebimento de verba de publicidade federal em sua categoria significa mais favorecimento público ao oligopólio midiático inconstitucional.

Como bem apontou o Miguel no post referido acima, ‘A proliferação de mídias externas, em especial tvs acopladas aos meios de transporte de massa, é uma nova etapa do controle das consciências pelas corporações, na medida em que os conteúdos jornalísticos vem das mesmas empresas de sempre: Abril, Globo, Folha. Mais uma vez, é assustador que os governos do PT não apenas não tenham feito nada para mudar isso, como sequer organizaram debates para discutir esse problema.’

Vivemos praticamente dentro do Big Brother imaginado por George Orwell em 1984, mas ao invés de um governo temos os grandes veículos de comunicação de massa fazendo uma espécie de lavagem cerebral na população através de todas as mídias possíveis.

Rádio, TV, jornal e agora essas televisões nos meios de transporte público: quantos conseguem escapar do Grande Irmão?

Com tal domínio sobre os meios de comunicação fica fácil criar a narrativa política mais útil aos interesses dos donos das empresas de mídia.

‘Moro marcou a data para ouvir Cláudia Cruz’ é uma ‘notícia’ bizarra, que não faria sentido nenhum em condições normais.

Milhares de juízes marcam datas para ouvirem depoimentos todos os dias.

Mas o controle dos meios de comunicação permite que os barões da imprensa escolham o processo que lhes interessa (primeiro o mensalão, agora a lava jato) e criem, em cima dele, uma novela, com seus heróis e vilões, que passa diariamente em todos os veículos de mídia.

Nessa novela, o salvador da pátria, Moro, é notícia até quando comete um ato corriqueiro como a marcação da data de um depoimento.

A Justiça, que deveria ser sóbria e discreta, para não perder a credibilidade perante a população, vira uma novela de quinta categoria ao se submeter à agenda do oligopólio midiático brasileiro.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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