Maior do que a falta de caráter da imprensa é a cara-de-pau de sua criação

Brasília - DF, 11/11/2016. Presidente Michel Temer durante Gravação pa Rede TV - Roda Viva no Palácio da Alvorada. Foto: Beto Barata/PR

por Pablo Villaça, em seu Facebook

“Como você conheceu a Marcela?” é a pergunta-síntese da desintegração ética do jornalismo brasileiro.

Primeiro, porque é absolutamente irrelevante. O cara é considerado ilegítimo por imensa parcela da população (e É); sua vida romântica não importa. Como ele é um golpista abominado pela população — até mesmo por quem não gostava de Dilma —, não dá entrevistas e, assim, esta seria uma oportunidade ímpar para que jornalistas de verdade pudessem questioná-lo sobre a gravação do “ministro” Jucá no qual este planeja o golpe; sobre os 23 milhões de caixa 2 depositados na conta do “ministro” Serra; sobre o cheque de um milhão em seu próprio nome, e assim por diante. “Ah, mas eles perguntaram sobre o cheque!”. Não, eles TOCARAM NO ASSUNTO, o que é bem diferente. Questionar é fazer perguntas complementares, apontar as provas que desmentem a resposta e, principalmente, voltar ao assunto se o entrevistado tenta desviar o foco da conversa.

Em vez disso, os “jornalistas” (haja aspas pro Brasil de hoje) preferiram fazer perguntas adolescentes que seriam bem mais apropriadas em uma matéria de Caras.

Em segundo lugar, fizeram uma pergunta cuja resposta todos sabem: ele conheceu a esposa quando tinha 60 anos e ela, filha de um amigo, era menor de idade.

O único propósito da pergunta, portanto, era o de tentar “humanizá-lo”. E quem faz isso não é jornalista, é um Relações-Públicas.

Não é à toa que, após a entrevista, Temer, o Pequeno, gravou um vídeo no qual agradeceu pela propaganda. E, sim, ele disse “propaganda”. Porque maior do que a falta de caráter de nossa imprensa é a cara-de-pau de sua criação.

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