Moro bate boca com advogado de Lula em audiência sobre o “caso triplex”

Em audiência do “caso triplex”, Sérgio Moro chama advogado de Lula de inconveniente. Juarez Cirino rebate: “Eu não respeito Vossa Excelência enquanto o senhor não me respeita enquanto defensor do acusado”.

A audiência sobre o “caso triplex” ganhou nesta segunda-feira,12, mais um debate acalorado entre o juiz Sérgio Moro e o advogado de Lula, Juarez Cirino.

A discussão ocorreu em meio ao testemunho da engenheira Mariuza Aparecida da Silva Marques, da OAS. O procurador do Ministério Público Federal questionou Mariuza e indagou-lhe se Marisa Letícia, esposa do ex-presidente, foi tratada pela OAS como parte interessada na aquisição do triplex.

Juarez intercedeu à fala da testemunha e protestou contra a pergunta. Para ele, a engenheira responsável por fazer vistorias em imóveis já vendidos poderia recorrer a achismos para responder a questão.

Insatisfeito, Moro chamou o advogado de inconveniente e afirmou ter poder para impedi-lo de se manifestar.

Cirino: Fica o protesto de novo, Excelência, porque ele está pedindo a opinião da testemunha.

Moro:  Doutor, o senhor está sendo inconveniente. Já foi indeferida essa questão.

Cirino: A defesa não é inconveniente na medida em que estamos no exercício da ampla defesa.

Moro: Já foi indeferida! [tom elevado]

Cirino: Vossa Excelência não pode cassar a palavra da defesa…

Moro: Posso, doutor, porque o senhor não deixa de ser inconveniente.

Cirino: Não pode, porque estamos colocando uma questão muito importante. O ilustre procurador da República está pedindo a opinião da testemunha, e ele não pode!

Moro: Doutor, o senhor está sendo inconveniente. Já foi indeferido essa questão. Já está registrado. E o senhor respeite esse juízo [aos berros]

Cirino: Mas, escuta, eu não respeito Vossa Excelência enquanto o senhor não me respeita enquanto defensor do acusado. Aí então o senhor tem o respeito que é devido a Vossa Excelência. Mas se Vossa Excelência atua aqui como acusador principal, perde todo o respeito.

Moro: Sua questão já foi indeferida e o senhor não tem a palavra!

Nesse momento do julgamento, o juiz Sérgio Moro cobrou uma resposta da testemunha, que respondeu que dona Marisa Letícia foi “tratada como se imóvel já tivesse sido destinado” a ela.

O procurador da Lava Jato foi mais incisivo e perguntou se Mariuza achava que o apartamento pertencia a Lula.

“Eu disse que a gente tinha um cliente em potencial, que seria o ex-presidente Lula”, respondeu a engenheira.

“Pode detalhar o que passaram?”, acrescentou o procurador.

“Do cliente em potencial? Só falaram que era um cliente que não é… é uma pessoa comum… uma pessoa… é… o ex-presidente que teria interesse na compra da unidade. Foi isso que me informaram. Não tem como detalhar mais do que isso?”

Questionada por Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula, Mariuza caiu em contradição. Como mostra o vídeo abaixo, Zanin perguntou se quem entregou o projeto do triplex à Mariuza mencionou antecipadamente que o imóvel pertencia a Lula. Então, ela deu de ombros e disse “não”.

A conversa entre defesa e promotoria evidencia o que já estava sendo discutido pela mídia independente nos últimos dias: a maioria das testemunhas ouvidas pela força-tarefa da Lava Jato para apresentar a denúncia do caso triplex não tinha condições de afirmar que o apartamento seria de Lula.

O MPF acredita que a OAS repassaria o imóvel para o ex-presidente como forma de pagar vantagens indevidas.

A engenheira Mariuza Aparecida Marques, em seu primeiro depoimento à Lava Jato, veiculado em setembro pelo Estadão, contou que esteve presente na segunda visita de Marisa ao triplex.

Ao final da entrevista, o membro da Lava Jato disse que ela estava muito “reticente” durante o interrogatório e resolveu perguntar diretamente de quem era o apartamento. Ela respondeu que, segundo as informações que possuía, o apartamento era da OAS. “Era para ser vendido para qualquer cliente”, comentou.

Neste último vídeo, o procurador pergunta: “A senhora pode me dizer se esse apartamento era de Lula ou alguém da familia dele?”

“Não”, rebateu Mariuza. E continuou: “Eu tenho acesso ao sistema da empresa para todos os clientes. Para mim, esse apartamento consta como OAS Empreendimentos. Ele não aparece com outro nome. É o que tenho de acesso na empresa. Então, para mim, esse apartamento é da OAS.”.

Em um primeiro depoimento, Mariuza afirmou ter recebido junto ao projeto da reforma do triplex a informação de que a unidade seria melhorada para “um potencial cliente”. Apesar disso, ela não citou Lula. Quando pressionada, disse que seria para “qualquer cliente”.

Agora, diante de Moro, Mariuza disse que a ex-primeira-dama disse que a reforma estava ficando boa, o que faz a engenheira imaginar que o “apartamento estava direcionado” para a família de Lula.

Em sentenças passadas, Moro sinalizou que, para o julgamento, o que importa é o que é dito nas audiências.

Dica: Jornal GGN

Redação:
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