As Primárias Cidadãs do PS na França servem de exemplo para a esquerda brasileira?

Por Theo Rodrigues, colunista do Cafezinho

 

Na noite da última quinta-feira, a centro-esquerda francesa assistiu ao primeiro debate das primárias que escolherão o candidato presidencial do Partido Socialista.

Sete pré-candidatos disputam a indicação: Manuel Valls, ex-primeiro-ministro; Vincent Peillon, ex-ministro da Educação; Arnaud Montebourg, ex-ministro da Economia; Benoît Hamon, sucessor de Peillon na Educação; Sylvia Pinel (Partido de Esquerda Radical); François de Rugy (Os Verdes); e Jean-Luc Bennahmias (Frente Democrática).  Os quatro primeiros são quadros do próprio PS. Os três últimos vêm de outras formações.

A consulta democrática se dá num momento em que o PS está fragilizado: a impopularidade do governo socialista fez com que o presidente François Hollande sequer tentasse a reeleição.

Além da fragilidade do PS, outro problema aflige a esquerda francesa: a falta de unidade. Além dos sete pré-candidatos que disputam a indicação socialista, a Front de Gauche, da qual faz parte o PCF, já anunciou que lançará Jean-Luc Mélenchon.

O primeiro turno das primárias acontecerá em 22 de janeiro e o segundo turno na semana seguinte, no dia 29. O vencedor disputará a eleição presidencial de abril contra a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, e o candidato da centro-direita, François Fillon.

Olhar para esse cenário francês suscita a seguinte pergunta: a experiência das Primárias Cidadãs pode servir de exemplo para a também fragilizada esquerda brasileira?

Desde o fim do ano passado, vem ganhando corpo no Brasil a ideia da realização, no início do ano que vem, de prévias para a escolha de um programa e de um candidato único do campo progressista para a eleição de outubro de 2018.

O movimento tem sido animado por intelectuais como a economista Laura Carvalho e o filósofo Marcos Nobre, entre tantos outros.

O obstáculo que os defensores das prévias enfrentam é o açodamento das decisões unilaterais de alguns partidos. Enquanto petistas dizem não abrir mão da candidatura de Lula, por exemplo, pedetistas estão convencidos de que Ciro Gomes tem que ser candidato de qualquer maneira. Marina Silva e sua REDE também dificilmente toparão aceitar um resultado das prévias que não seja o que consagre seu nome. Já o PSOL, é conhecido por não ceder a alianças para além do pequeno PCB.

Ressalte-se: a falta de unidade não é um privilégio da esquerda brasileira. Também na França faltou unidade. O ideal seria que Mélenchon disputasse as Primárias Cidadãs. Provavelmente vencerias se disputasse. Mas entre o ideal e o real há um abismo…

Independente desses empecilhos, há no experimentalismo político uma máxima: é preciso seguir aprendendo com os erros e os corrigindo ao longo do tempo.

Ainda que as prévias no Brasil não alcancem as expectativas idealistas em 2018, será um aprendizado pedagógico para a unidade da esquerda no médio e longo prazo.

Theo Rodrigues: Theo Rodrigues é sociólogo e cientista político.
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