Lava Jato e Globo desviam atenção pública para prisão de empresário falido, e o golpe avança

Acho que nunca foi tão difícil viver no Brasil. Já passamos por outras crises, mas nunca por um surto fascista coletivo dessa natureza. Ser um blogueiro político, ou acompanhar um blog político, e ficar na linha de frente dessa guerra, é um desafio quase sobrehumano.

Tenho fé que venceremos mais essa luta. Mesmo que não tivesse fé, esse é meu trabalho, não sei fazer outra coisa, então só me resta segurar as pontas por aqui e lutar com as armas que temos.

A quantidade de arbítrios diários supera a minha capacidade de combatê-los. Com paciência, todavia, vamos respondendo um a um.

Por exemplo, a estratégia de hoje é: 1) satanizar Eike Batista; 2) associá-lo o máximo possível ao PT.

O golpe – liderado pelo consórcio midia-Lava Jato – continua em curso. Enquanto a Globo solta fogos de artifício com a prisão de um empresário falido, desviando a atenção pública, o governo prossegue sua corrida para cortar direitos sociais, entregar patrimônio público e abrir os cofres para a grande mídia.

É uma jogada ensaiada.

A última trincheira ainda não conquistada pelo golpe é a consciência dos brasileiros que seguem resistindo, mesmo que em silêncio, para não sucumbir a esta era de pós-verdade.

A principal luta hoje se dá no íntimo de nós mesmos. Se nos aprofundarmos na metafísica do golpe, veremos que ele nos pôs em face de um grande desafio espiritual, que devemos vencer sem ajuda de ninguém.

As instituições públicas foram todas contaminadas: judiciário, ministério público, polícia federal, imprensa. As instituições privadas ou sociais progressistas (movimentos, partidos, sindicatos) foram tão atacadas que hoje precisam gastar o resto de energia que ainda possuem para não serem aniquiladas.

O lutador contra o golpe nunca se sentiu tão sozinho. Ele sabe que existem milhões como ele, mas são milhões de solitários, isolados uns dos outros.

Mas essa solidão absoluta pode ser o casulo de onde sairão grandes pensamentos, grandes ideias, grandes projetos.

No enterro de Teori Zavascki, o juiz Sergio Moro o chamou de “heroi”. Ora, Teori, com todo o respeito, não foi heroi. O heroi não é o juiz com supersalários, superluxos, paparicado pela mídia, recebendo prêmios aqui e lá fora, andando de jatinho privado de empresários, aceitando o golpe em troca de conforto e blindagem midiática.

O heroi, numa democracia, jamais pode ser um beleguim do Estado autoritário, como se tornaram hoje delegados, procuradores, juízes, e jornalistas da grande mídia.

O nosso heroi de hoje é o indivíduo solitário, sem Estado, sem governo, sem mídia, e que, mesmo assim, continua lutando pelo que ele acredita ser o melhor para seu país.

O indivíduo que permanece na luta contra o golpe, hoje, é uma espécie rara, e por isso tão nobre, de heroi.

Os coxinhas enchem a boca para falar em ética. Nos xingam de “defensores de bandidos”. O seu ódio, no entanto, deriva da má consciência e da inveja de saber que a nossa resistência, mesmo que puramente cerebral, é a principal e última fortaleza ética do país.

A Lava Jato não é combate à corrupção. A Lava Jato é um movimento de suporte a um golpe de Estado. Ponto. Ética, para mim, portanto, é combater o golpe.

Não nos confundamos, porém. A Lava Jato não precisa do governo Temer. O que ela precisa, como Rodrigo Janot deixou bem claro em Davos, é ser “pró-mercado”, o que, em nossa sintaxe política, significa ser entreguista, antinacional e antissocial. Ela quer transformar o Brasil numa pocilga miserável, dominada por corporações estrangeiras, com o povo sendo oprimido por uma casta de mandarins autoritários, e mantido na ignorância pela mídia mais concentrada do planeta.

Os coxinhas e trolls podem vir se esgoelar por aqui à vontade. Para mim, o seu nervosismo é o sinal de sua degeneração moral. Eles sabem que os corruptos são eles. Suas mentes foram corrompidas, e não apenas pela corrupção vulgar das propinas, mas por uma bem pior, pela corrupção do bom senso, pela corrupção do sentido de fraternidade e tolerância, pela corrupção do sentido de liberdade, soberania e democracia.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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