Globo quer esconder Dilma, novamente, nos porões da ditadura

(Charge: Schroeder, no Correio do Povo, citada em matéria do Bahianoar)

A Globo perdeu, há tempos, qualquer escrúpulo de esconder sua participação no golpe de 2016.

Para isso, ela conta, é verdade, com um trunfo espetacular: a total submissão do aparelho jurídico do Estado às suas diretrizes.

A Lava Jato prendeu os marketeiros de sua campanha, cujos únicos crimes foram… fazer campanha, no Brasil e em outros países. Mas, principalmente, fazer campanha para Dilma e… ganharem!

Coordenarem duas campanhas vitoriosas de um partido de esquerda, esse foi o maior crime de João Santana e Mônica Moura!

Então ameaçam-nos com prisões perpétuas, o que é o tipo mais diabólico de tortura psicológica. Em seguida, acertam com seus advogados que eles devem participar de um programa de auditório (que é o que se transformaram os depoimentos gravados em vídeo e vazados imediatamente à grande mídia), “confessando”, de boa vontade, espontaneamente, tudo o que os procuradores querem ouvir.

A aparição em vídeo vazado à mídia visa promover um impacto político na opinião pública. Por isso mesmo é um dos pontos que imitam os famigerados “processos de Moscou”, quando revolucionários caídos em desgraça no regime estalinista tinham que “confessar”, igualmente de “bom grado”, o seu papel em conspirações e crimes dos quais nunca haviam participado.

É incrível como a história se repete. Assim como nos processos de Moscou, a “confissão” serve para desmoralizar o indivíduo também junto a seu próprio campo. Dá certo: João Santana e Mônica Moura são imediatamente demonizados junto a toda sociedade. Para os inimigos do PT, são bandidos. Para os amigos do PT, são desprezíveis delatores, além de mentirosos covardes. Ou seja, João e Mônica perdem qualquer resquício de dignidade. São convertidos em monstros, em dejetos morais.

Essa é a pena máxima da Lava Jato: a total humilhação.

É também o preço cobrado, ao delator, em troca de sua liberdade, ou seja, em troca da vida.

Ou a pessoa se submete ao mais terrível processo de degradação moral que eu já testemunhei na minha vida, que é se tornar um delator da Lava Jato, expostos à execração pública, ou permanecerá presa ou perseguida judicialmente por toda a vida.

Os fatos já demonstraram que o Estado fascistizou-se de tal maneira que ele passou a perseguir abertamente indivíduos, e não para até que um determinado objetivo político seja cumprido. Ou seja, se João Santana não delatar, mas obter um habeas corpus para seguir em liberdade, a Lava Jato inventará outra denúncia contra ele, e Sergio Moro ordenará outra prisão cautelar. Não há escapatória.

Não concordo, por isso mesmo, com a demonização dos torturados. Todo o teatro lavajatense, como mostrar Monica Moura à vontade, rindo, num vídeo, não pode ser confundindo com a realidade: João Santana e Monica Moura são presos políticos e foram torturados barbaramente.

Ambos se destacavam como os melhores profissionais de sua área (marketing político) da América Latina e, portanto, estavam entre os melhores do mundo.

Um país democrático, decente, deveria usar seus talentos, para promover o Brasil lá fora e não trancafiá-los, ameaçá-los com prisões perpétuas ou humilhá-los diante de milhões de brasileiros com a exigência de que se tornem delatores de seus próprios clientes.

Claro, é bom repetir: o crime deles foi trabalhar em campanhas políticas para candidatos da esquerda. Se João e Mônica tivessem sido marketeiros de Fernando Henrique Cardoso, jamais teriam qualquer problema com a justiça.

(Atenção: quando eu falo isso, não quero vir aqui defender a prisão dos marketeiros do PSDB. A Lava Jato, para mim, não se redime estendendo seus tentáculos fascistas para outros partidos. O que eu critico é a criminalização da política e de todas as atividades correlacionadas, como o marketing político).

João e Mônica não tem nada a ver com esquemas montados na Petrobrás há mais de 30 anos. Mas eles já entenderam que a Lava Jato segue o mesmo modelo do julgamento do mensalão, em que empresários do setor de publicidade foram condenados a décadas de prisão por terem participado de uma (delirante) “conspiração” política para manter o PT no poder. Houve conspiração, sim, mas não do PT, e sim dos agentes jurídicos, sempre sob a coordenação política da Globo, para criminalizar o PT e qualquer organização vinculada à classe trabalhadora.

João e Mônica foram torturados e falaram o que os procuradores quiseram ouvir: mentiras e/ou verdades “ajustadas” às narrativas da Lava Jato.

Os dois poderiam ser investigados por crimes de evasão fiscal e ocultação de patrimônio no exterior, mas isso não acarretaria prisão e sim um acerto de contas com a Receita. Inclusive poderiam se beneficiar da nova lei de Temer, de anistia a contas no exterior, e terem até mesmo esses crimes perdoados.

O pedido de prisão de Dilma, por sua vez, feito por Merval Pereira, reflete o ódio da emissora pelo fato da presidenta continuar resistindo ao golpe, através de sua militância política. É claro que isso incomoda, e muito, todos os que patrocinaram o impeachment.

O golpe depende da narrativa da Globo para sobreviver. As denúncias de Dilma atrapalham a sustentação dessa narrativa.

Por isso é preciso silenciar a presidenta, humilhá-la, prendê-la. Torturá-la novamente.

Entretanto, Dilma é feita de outra cepa.

Dilma não é João Santana. Não é Mônica Moura.

Os marketeiros são profissionais de talento, mas jamais imaginariam que, em pleno 2016, alguém poderia ser martirizado em praça pública. Não resistiram, e eu não os culpo por isso.

Mas também não os felicito. Aos delatores, eu dedico um desprezo suave e compassivo, como deve ser o desprezo que dedicamos aos fracos.

Até porque não sabemos o que nós faríamos na mesma situação: não fomos expostos a esse tipo de martírio.

Dilma, sim. Dilma já passou pelas câmaras de tortura da ditadura militar e resistiu. Por anos a fio.

Dilma, ela não cede às ameaças.

Dilma resiste.

A capacidade de resistência de Dilma Rousseff é um fenômeno que as forças da ditadura, de 1964 e hoje, jamais conseguiram entender.

Dilma não apenas resiste, como avança. Não dá para esconder o avanço da popularidade da presidenta. Onde ela vai, é ovacionada, enquanto Temer, seus ministros ou qualquer político que apoiou o golpe, não conseguem mais dar bom dia da janela.

Dilma permanece vitoriosa na política. Ganhou as eleições presidenciais de 2010. Ganhou as eleições presidenciais de 2014. Em 2017, Dilma segue na resistência, sem derrotismo, sem medo da Globo, sem medo dos meganhas da ditadura judicial.

Prendam Dilma, meganhas! Experimentem!

Vocês a transformarão, imediatamente, em mártir.

Será o fim da Lava Jato.

Esse é o grande dilema da operação. Toda ela caminha para uma grande apoteose midiática, política por fora e fascista por dentro, que seria a prisão de Lula e Dilma.

Ao mesmo tempo, seria a implosão moral da Lava Jato. A narrativa sairia completamente do controle. Por isso, é preciso prender figuras moralmente dúbias, como Palocci, João Santana, etc, porque esses não oferecem muito risco.

***

No site da Dilma

“Globo promove justiçamento e incita à prisão”

O jornalismo de guerra promovido contra mim e o presidente Lula é a prova de que a escalada autoritária contaminou radicalmente os formadores de opinião pública, como Merval Pereira, que hoje sugere, no Globo, a minha prisão.

A cobertura das Organizações Globo, defendendo o justiçamento de adversários políticos, quer substituir o Judiciário – e todas as demais instâncias operadoras do Direito – pelo escândalo midiático. Julgam e condenam.

Buscam se constituir numa espécie de poder judiciário paralelo sem as garantias da Justiça, base do Estado Democrático de Direito. Fazem, assim, verdadeiros linchamentos, tentando destruir a biografia e a imagem de cidadãos e cidadãs. Nesse processo, julgam sem toga e promulgam sentenças sem direito de defesa.

Ferem de morte a liberdade de imprensa pois não respeitam a diversidade de opinião e a Justiça. Selecionam alvos e minimizam malfeitos. Seu único objetivo é o maior controle oligopólico dos meios de comunicação, para impor um pensamento único: o seu.

Em outros tempos, em outros países, tais práticas resultaram na perseguição política e na destruição da democracia levando à escalada da violência e do fascismo.

Não adianta a intimidação. Não vou me curvar diante dessas ameaças e muito menos do jornalismo de guerra praticado pela Globo. Nem a tortura me amedrontou.

Repito o que tenho dito, dentro e fora do país: o Golpe de 2016 não acabou. Está em andamento. Não foi contra o meu governo, apenas. Foi contra o povo brasileiro e o Brasil. Está sendo executado todos os dias pela Globo, pelo governo golpista e todos que tentam desesperadamente consolidar o Estado de Exceção e a destruição de direitos.

Não vão me calar!

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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