Quem derrubou Temer?

(Presidente Michel Temer e o colunista do GLOBO Ricardo Noblat. Foto: Maria Lima)

Exclusivo para o Cafezinho!

Quem derrubou Temer não foi a Globo. A luta só começou, e se dará nas ruas

Por Roberto Ponciano, um marxista, sobre a necessidade da análise dialética nesta hora em que as teorias da conspiração tão em moda retiram a força das ações coletivas da história

Gente com falso maquiavelismo achando que tudo que aconteceu ontem foi só “a Globo tentando dar golpe dentro do golpe”.

Este falso determinismo histórico, em geral, vem de uma visão materialismo mecânica e não dialética do mundo. A mesma que dizia que seria melhor eleger Trump para a presidência dos Estados Unidos, porque ele primeiro iria arrumar a casa e distensionaria as relações imperialistas pelo mundo afora. Estas análises deterministas vulgares, falso maquiavelistas, partem do pressupostos que as variantes históricas, as classes sociais, as frações de classe, as instituições, são variantes matemáticas facilmente determináveis, e que numa lógica aristotélica e de silogismo podem predizer o futuro como o oráculo de delfos.

O problema é que o futuro é uma esfinge que vive devorando estes predicadores de feira.

Não, a delação de ontem não foi um ato da Globo para dar o golpe dentro do golpe. A Globo sim, agora, junto com os conservadores e os extremistas de direita, vai apoiar uma saída na qual os golpistas não tenham que devolver o poder ao povo, mas no pior cenário possível para eles.

A Globo só publicizou o que aconteceu ontem, porque, como diria Foucault, o sistema de provas judicial e de verdade, inaugurado pela civilização ocidental com Descartes é o meio processual jurídico, no qual, determinadas evidências não tem como ser descartadas.

Com certeza, alertada pelos próprios meios que vivem vazando notícias contra o PT, da delação da JBS, a Globo se viu numa escolha de Sofia. Calar-se e ver o maior escândalo da história da República sair num blog sujo como O Cafezinho, ou no El País, ou na BBC Brasil, ou apressar-se em jogar a merda no ventilador e tentar salvar alguma aparência de “imparcialidade”.

E este, na verdade, o jogo que a Globo joga desde ontem. Notícias deste tipo não são fabricadas, elas são bem maiores que as intenções e que o controle da Globo.

Os interesses de classe da grande mídia e de seus patrocinadores foram duramente afetados ontem. Só se pode explicar a delação da JBS pelas próprias defecções, rachas, brigas internas dentro do golpe, que transformou Brasília num balcão de negócios entre quadrilhas rivais. Conectando a delação com a própria fala do Aécio em eliminar, matar rivais, a denúncia da JBS se apresenta muito mais do que um resguardo de integridade física pessoal e da própria empresa (que dependendo do tamanho da propina a ser paga pode mesmo ser levada à falência), do que um interesse determinante em derrubar um governo.

A derrocada em segundos do Governo Temer, que tinha uma popularidade de 4%, e que se mantinha num misto de chantagem, corrupção, compra de votos e compra de apoio da imprensa, não estava na conta da Globo e dos outros veículos de imprensa que apoiaram o golpe não.

Na conta deles, até ontem, estavam a “urgência” da reforma da previdência e trabalhista, a venda do pré-sal, o fatiamento da Petrobras, o desmantelamento do BB e da CF.

É lógico, que com o escândalo de ontem, esta agenda fica adiada sine die e o jogo político no Brasil está em aberto.

Sim, em aberto, não sou um otimista que tem certeza que teremos eleições diretas em 2017. É lógico que as forças golpistas tentarão impor uma solução “Carmem Lúcia” (com a imagem bastante desgastada também por seu apoio às reformas) ou uma eleição indireta num Congresso corrupto e sem respaldo. Mas isto não está dado ou determinado.

Depende da nossa iniciativa. As forças progressistas e populares voltam a ter a iniciativa. Nosso papel é tomar as ruas e exigir eleições diretas já!

A mídia corrupta, principalmente a Globo não consegue esconder sua participação no golpe, é forçoso lembrar que ainda ontem a Globo passava a propaganda regiamente paga pelo bandido Temer a favor das reformas. Que o pagamento de propina deste governo, também é o pagamento de propina aos meios de comunicação, e que nem a Globo nem nenhum outro meio de comunicação tem hoje algum lastro para chamar qualquer tipo de movimentação politica, muito menos de rua.

As forças reacionárias, desde ontem, estão na defensiva. Depende da ousadia da nossa ofensiva alcançar ou não as eleições diretas já em 2017.

Em política a iniciativa conta muito. Se não fosse a iniciativa de Lênin, um partido pequeno e minoritário, como era o Bolchevique na Rússia, jamais teria tomado o poder de Estado.
Se tivermos a iniciativa e formos as ruas, não pedindo, mas exigindo não só eleições diretas, mas anulação de todas as reformas, leilões de petróleo, todos os atos lesivos e corruptos deste governo vende-pátria, inclusive, uma investigação das ligações de Temer, Cunha, Aécio com elementos do MPU e do Judiciário, poderemos sim virar o jogo e retomar o controle do país.

Desta vez com uma pauta ainda mais avançada!

Até a vitória final! Pátria livre! Venceremos!

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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