A reforma trabalhista e o implacável pêndulo da história

Por Pedro Breier, colunista do Cafezinho

A história parece mover-se mais ou menos como um pêndulo. Eu, um irremediável otimista, creio que a base que sustenta este pêndulo, que vai de um lado para o outro, move-se apenas em um sentido, rumo à emancipação humana, à liberdade.

O problema é que o pêndulo brasileiro – e, de resto, o do mundo – é viciado. A enorme força dos detentores do dinheiro e, portanto, do poder acaba viciando o pêndulo da história. Assim, a cada mínimo avanço da liberdade corresponde um brutal e desmedido contra-ataque.

Façamos um breve panorama da história política brasileira desde o golpe de 64 para exemplificar.

João Goulart tentou implementar as reformas de base e foi deposto por meio de um golpe.

A ditadura militar puxou o pêndulo para o extremo do autoritarismo violento e da desigualdade social.

A Constituição de 1988 foi a reação oposta. Trata-se de uma das Constituições mais avançadas do mundo, com grande enfoque nas questões sociais e nas liberdades individuais.

Após a promulgação da Constituição, manifestou-se o vício do pêndulo. O poder econômico e seu grande baluarte, a mídia monopolizada, sequestram a política e impedem que importantíssimos, sob o ponto de vista da liberdade, da dignidade e da democracia, artigos da Constituição saiam do papel. Muitos não são aplicados porque não foram regulamentados, quase 30 anos após a promulgação da Carta!

A reação à Constituição Cidadã foram anos do carcomido neoliberalismo, cujo resultado foi a permanência do Brasil no vergonhoso time dos campeões mundias em desemprego, desigualdade social, miséria e fome.

Em 2002 o pêndulo novamente se movimentou para a esquerda, com a vitória do PT nas eleições presidenciais. Iniciou-se um período de redução da miséria e do desemprego. De oportunidades inéditas para milhões de brasileiros que foram os primeiros de suas famílias a terem acesso ao ensino superior.

O golpe de 2016 é a brusca reação do pêndulo no sentido oposto. O objetivo é nada menos do que exterminar a parca rede de proteção social construída a duras penas nos anos anteriores.

A reforma trabalhista, por exemplo, é um acinte. Foram contemplados exclusivamente os interesses dos empresários no projeto de lei que provavelmente será votado amanhã, no Senado. A Justiça do Trabalho, que garante um mínimo de proteção aos trabalhadores, restará completamente esvaziada caso o monstrengo seja aprovado. É um projeto que visa rebaixar ainda mais as condições de vida da classe trabalhadora. Isso em um dos países mais desiguais do mundo!

A aprovação da reforma trabalhista, somada à terceirização irrestrita, já em vigor, transformará o Brasil no paraíso dos que não têm escrúpulos e, por isso mesmo, não se importam de ganhar a vida – e fazer fortuna, muitas vezes – nas costas da miséria e do sofrimento alheios.

Entretanto, o movimento pendular, senhores senadores, é infalível. Quanto mais vocês esticarem a corda, mais pesada será a volta.

Se os governos bastante moderados do PT já foram um estorvo para o conservadorismo brasileiro, esperem para ver o que acontecerá se essas reformas anti-povo forem colocadas em prática.

Quando a monarquia se descolou demais da realidade e puxou o pêndulo para o seu lado como se não houvesse amanhã, foi implodida. Maria Antonieta mandou o povo francês que passava fome comer brioches e perdeu a cabeça.

Sigam neste delírio insano de que a política deve ignorar o povo e “servir ao mercado”, como disse o apalermado Rodrigo Maia, nosso provável próximo presidente ilegítimo.

Mas saibam que, indubitavelmente, vai ter volta. E das boas.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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