O plebiscito de Dilma ou o feirão de deputados de Temer: qual é o melhor Brasil?

Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERS

Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Por Tadeu Porto

O Brasil do golpe envergonha mais que o “gemidão do Whatsapp”, no volume máximo, no metrô de São Paulo em hora de pico.

Só de imaginar a aberração de aceitar que a mesma casta que se lambuzou num presidencialismo “toma-lá-da-cá” de coalização vai ser a responsável por mudar o sistema político que ela mesma prática, meu estômago embrulha e minha bile vem passear na minha boca.

Nossa situação atual se assemelha em colocar um réu para ser juiz do seu próprio caso, sem ter, sequer, o contraponto de um júri para tal. Uma dessas aberrações que só acontece no Brasil pois a população parece estar anestesiada, tanto pelo massacre midiático que a aliena da conjuntura nacional, quanto pelo sentimento de desesperança oriundo da falta de confiança em todas as nossas instituições.

Me dá arrepios (daqueles ruins, claro), só de pensar que são os votos do Centrão, o bloco mais fisiológico da política brasileira moderna, que vão decidir mudanças estruturantes para o país, como a Reforma Política, tão necessária nesse momento em que os brasileiros e brasileiras não confiam mais em seus representantes.

Ou seja, a mesa casa que elegeu Eduardo Cunha como presidente, derrubou uma presidenta honesta por causa de “pedaladas” e livrou um presidente cujo assessor recebeu uma mala com meio milhões de reais de um empresário confessadamente criminoso.

Esse mesmo legislativo – em parceria com o executivo – recebeu dinheiro público de maneira recorde, promoveu isenções fiscais para os grandes aglomerados do país e compromete a arrecadação do governo federal para, depois, jogar nas costas da classe média e pobre a conta pela fisiologia, bem representado pelo aumento abusivo de combustíveis que o usurpador Temer promoveu.

A grande discussão agora é acerca do Distritão, um tipo de voto que pouquíssimos países do mundo usam e que, basicamente, acabam com as instituições coletivas para dar destaques a figuras individuais e, com isso, fazer da política uma revoada de pássaros em voo solo, cada um querendo bater suas asas para onde lhe convém.

Sem falar no Parlamentarismo, que foi derrotado nas urnas mas que ser implementado pela grande articulação Serra-Temer-Gilmar-Globo (quem quiser chamar de eixo do mau tá liberado).

A tristeza é ainda maior quando pensamos que a então presidenta Dilma – no auge dos atos de 2013 –  propôs um plebiscito para que nós, brasileiros e brasileiras, pudéssemos definir os rumos do país justamente em temas que englobam a Reforma Política.

Naquele ano – e a história já nos mostrou que não foi coincidência – Aécio Neves e Michel Temer, os homens das malas de meio milhão, correram para o palco da Globo para dizer que plebiscito era “inconstitucional” e que o correto seria fazer um referendo para essa questão. Obviamente, tudo que eles queriam era matar a ideia da Presidenta eleita, afinal, chegamos aos finalmentes da Reforma Política e, atualmente, o legislativo nem sonha em abrir qualquer tipo de consulta popular para definir os rumos da política nacional.

Em nenhum cenário, muito menos em alguma ideologia, a proposta da Dilma em 2013 era pior que a atual proposta de Maia e Temer. Nem mesmo a direita brasileira deveria ser contra esse determinado tipo de política, afinal, o mínimo que se espera de uma democracia é a participação popular (e não é à toa que plebiscitos e referendos estão na Constituição de 1988).

Um cenário desse é suficiente para que todos e todas possam ter a real noção do quão anti-democrático e autoritário o Brasil se tornou. Um país que propõe mudanças profundas sem consultar o povo não tem outro nome que seja Ditadura.

 

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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