Tomara que Luciano Huck seja candidato a presidente

Por Pedro Breier

Em 2007 Luciano Huck foi assaltado no Itaim Bibi, bairro nobre de São Paulo. Levaram seu relógio caríssimo da marca Rolex.

Indignado, o presidenciável escreveu um artigo para a Folha em que mostrou toda a sua revolta e apresentou soluções para o país. Selecionei alguns trechos para as leitoras do Cafezinho (o artigo completo está aqui).

No início, Huck demonstra o tamanho de seu ego ao imaginar o que aconteceria se ele tivesse morrido no assalto:

LUCIANO HUCK foi assassinado. Manchete do “Jornal Nacional” de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura.
Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.

Multidão triste, governador envergonhado (uau!) e presidente em silêncio. O presidente nem se envergonha porque era o Lula, e o Huck já sabia – assim como todos os coxinhas-raiz – que ele era o grande vilão do país.

Depois de soltar o clássico “pago todos os meus impostos” (“uma fortuna”, ressalta), Huck mostra como vai resolver o problema da segurança pública se for eleito presidente:

Onde está a polícia? Onde está a “Elite da Tropa”? Quem sabe até a “Tropa de Elite”! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto.

30 dias para os assaltos serem extintos, vejam vocês! E eu achando que o problema da segurança pública era extremamente complexo e demoraria alguns bons anos para ser amenizado caso fossem adotadas as políticas corretas…

Se não der para ser candidato a presidente, ao menos Huck está habilitado para ser vice de Bolsonaro. Chamem o capitão Nascimento!

Mais algumas pérolas do artigo, com meus comentários em negrito:

Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso. Um ego à procura de afago.

Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo para concluir -com um 38 na testa- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase “infantis” para uma sociedade moderna e justa. Não é por causa do Rolex, imagina.

Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de “extraterrestres” fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo? Extraterrestres… Quem sabe se a polícia passar a dar umas “prensas” em quem não está vestido como manda o figurino dos bairros nobres de São Paulo? Ah, é mesmo, ela já faz isso.

O nada menos do que patético artigo de Luciano Huck após perder um relógio de milhares de reais (as aberrações que só o capitalismo pode oferecer para você) em um assalto demonstra sua visão de mundo e suas preocupações.

Enquanto a miséria da população serve para que pessoas se matem em provas imbecis para talvez ganhar algum prêmio do apresentador, dando audiência e consequentemente lucro, está tudo muito bem.

Quando mexem com o Rolex do Huck, para tudo. Deu merda. Que país é esse?

Além de ser quase uma caricatura perfeita do coxinha brasileiro, Huck trabalha na Globo, a grande causadora e fiadora do golpe de 2016. Será bastante fácil, na campanha, demonstrar a conexão entre o apresentador, a emissora e a estrondosa piora nas condições de vida da população após o golpe.

Huck ainda tem alguns importantes esqueletos no armário, como os rolos com a licença ambiental de uma mansão em Angra dos Reis (aqui); com uma marca de roupas que tentava lucrar em cima de preconceitos (aqui); e com Alexandre Accioly, apontado como laranja de Aécio Neves na Lava Jato (aqui).

A linda amizade com o próprio Aécio (vejam aqui as fotos dos dois apagadas por Huck quando da divulgação dos áudios do Joesley) pode ser considerada um belo esqueleto sobre o qual Huck terá que dar bastante explicações.

A tentativa de emplacar Luciano Huck como um candidato de centro para fazer um contraponto aos radicais Lula (risos) e Bolsonaro não vai funcionar porque Huck é a cara da direita brasileira.

Lucrar em cima de pobres e preconceitos, tentar se apropriar de espaços públicos e só se revoltar quando os efeitos da desigualdade social atrapalham a vida de luxo é o comportamento habitual da nossa elite mesquinha.

O homem é uma caricatura ambulante.

É, portanto, um ótimo candidato a presidente. Para a esquerda.

 

 

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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