Bolsonaro sobre mortes violentas por ano no Brasil: “tem que passar para 80 mil”

No minuto 35:20 da entrevista ao programa Canal Livre, Bolsonaro explica seu plano para segurança pública no país: elevar o número de mortes violentas no Brasil para 80 mil por ano.

Eu não entendi bem se Bolsonaro quis dizer se é preciso aumentar o número de assassinatos cometidos por policiais de 40 mil para 80 mil, ou se a “meta” de 80 mil corresponderia ao total de vítimas de mortes violentas.

A frase exata de Bolsonaro foi a seguinte: “No tocante aos 60 mil mortos, tem que ter uma linha de corte. Quantos bandidos e quantos inocentes morreram? Se morreram 40 mil bandidos, tem que passar para 80 mil. Não tem outro caminho. ”

Segundo estudo atualizado, 62 mil pessoas morreram de morte violenta em 2016, um recorde histórico.

Se o Brasil “passasse para 80 mil” o número anual de mortes violentas, em oito anos de “governo Bolsonaro” teríamos 640 mil mortos.

Segundo fontes oficiais, o número de militares americanos mortos na II Guerra Mundial foi de 292 mil nos diversos fronts de guerra, além de 83,4 mil mortos em outras circunstâncias.

Em 20 anos de guerra do Vietnã foram mortos 58 mil soldados americanos.

Em suma, se o cenário desenhado por Bolsonaro se materializasse, a quantidade de brasileiros mortos (a maioria negros e jovens da periferia) em oito anos seria equivalente a todas as mortes em combate somadas das dez principais guerras em que os Estados Unidos, um dos países mais bélicos da modernidade, já se envolveram desde o século XIX.

Outra comparação, segundo dados do governo americano, os Estados Unidos, que tem pena de morte, executaram 1465 pessoas desde 1977. Ou seja, 1465 criminosos, ou considerados como tal pela justiça americana, foram executados ao longo de mais de 4 décadas. Bolsonaro quer matar 640 mil “criminosos” nos oito anos em que pretende governar o país.

Detalhe: o Brasil não tem pena de morte e a maioria da população ainda é contra dar ao Estado o direito de tirar a vida de um cidadão brasileiro.

Eu nunca pensei que fosse testemunhar um candidato a presidência da república, com bom posicionamento nas pesquisas, falar coisas assim.

Sempre é bom lembrar que Bolsonaro é cria da grande mídia brasileira, que é a origem de todo o fascismo incrustrado na consciência da sociedade brasileira.

Ele preconiza também que proprietários de terras tenham fuzis para atirar em trabalhadores sem-terra, alegando que a “propriedade privada é sagrada”.

Pelo jeito, ninguém ensinou ao candidato, nem algum jornalista lembrou de observar, que a vida humana é muito mais sagrada que a “propriedade privada”.

Tampouco lhe recordaram que, segundo a Constituição brasileira, a propriedade rural deve ter uma função social.

Igualmente não lhe recordaram que a história do Brasil é marcada pela herança do latifúndio.

A entrevista completa pode ser vista no Youtube ou na página do programa Canal Livre.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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