Estadão interroga Carmen Lucia, uma juíza atormentada e desorientada a serviço do golpe

O Estadão publicou ontem um vídeo-entrevista com a presidente do STF, Carmen Lucia.

É uma pérola de confusão.

Não dá para entender nada. A impressão que passa é que o Estadão tentou reunir os únicos 4 minutos de entrevista que faziam algum sentido, e mesmo assim não conseguiu.

Carmen Lucia se mostra uma pessoa completamente desorientada.

Sobre seu voto favorável a Aécio Neves, a presidenta do STF repete o nervosismo errático que caracterizou sua fala naquela votação:

“Eu apresentei, eu não apresentei”…

“Eram dez horas da noite”…

Num outro momento, Carmen Lucia diz que fundamentou seu voto num determinado capítulo de uma lei de 1789, da França!

Ora, excelentíssima, este blogueiro é um estudioso e um fã da revolução francesa, mas eu entendo que seria aconselhável que a senhora fundamentasse suas decisões na Constituição brasileira de 1988!

Em outro momento, quando o repórter fala sobre o pedido de vistas por um de seus colegas, Dias Toffoli, ela se derrete em sorrisos maliciosos, cúmplices, que eu achei absolutamente indelicados.

Até porque esse lobby de setores do STF em favor de restrições ao foro especial para políticos é bizarro, pois exclui os próprios juízes!

Na chamada da entrevista, há uma frase algo misteriosa: “Presidente do STF diz que restrição do foro privilegiado na Corte ‘favorece’ operação”.

Supõe-se que o editor refere-se a um trecho que não aparece no vídeo, no qual ela deve ter admitido mais um casuísmo absurdo do STF, no sentido de engavetar a Constituição e a tradição democrática de séculos, para “favorecer” a… “operação”.

A “operação”, obviamente, é a Lava Jato, núcleo nervoso do golpe de Estado e do regime de exceção, e que precisa ser sempre fortalecida, favorecida, blindada, justamente por ser o fundamento onde se assentam as forças do golpe.

Sem a Lava Jato, o golpe não seria possível. Nem o desmonte do Estado. E para haver Lava Jato, é preciso estar sempre pondo a faca no pescoço dos juízes.

Pelas poucas perguntas que se ouvem no vídeo, observa-se facilmente o que já se tornou regra: o repórter da grande imprensa, quando aborda um ministro do STF, age como um camisa negra fascista que vê Sergio Moro e demais operadores da Lava Jato como lideranças políticas supremas, intocáveis, incriticáveis.

O repórter não pergunta ao juiz, ele o intima. Ameaça-o.

Não é uma entrevista. É quase um depoimento de “delação premiada” à Lava Jato.

E os ministros do STF cedem, covardemente, a essas chantagens.

A ministra Carmen Lucia, por exemplo, pouco antes de assumir a presidência do STF, aceitou alegremente receber uma propina da Globo, através do prêmio Faz Diferença.

Prêmio para juiz é pior que propina, porque vale mais, sobretudo se vier da maior concessão pública de TV do país, propriedade da família mais rica do Brasil.

Tanto era propina que, a partir dali, a ministra Carmen Lucia passou a seguir rigorosamente as diretrizes da Globo e do golpe.

Como toda propina, porém, o prêmio da Globo era também um grilhão. A desorientação mental de Carmen Lucia mostra que ela se tornou uma prisioneira infeliz, atormentada, da narrativa fantástica da mídia.

Ela precisa, constantemente, talvez para se sentir segura, proferir algum clichê que deixe bem claro que ela se manterá obediente a seus carcereiros.

Para assistir ao vídeo, clique na imagem abaixo:

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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