A condenação de Lula foi sua (nossa) vitória

Ricardo Stuckert: Lula em SP pela democracia

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Por Tadeu Porto*

“Os fracassos são minhas vitórias. E eu odiaria estar do lado de quem me venceu” (Darcy Ribeiro)

Dizem por aí que a velocidade do projétil que atravessou o coração de Getúlio Vargas é diretamente proporcional à entrada do seu nome para a história.

Particularmente, no passado questionei se esse foi o melhor caminho a ser seguido pelo gaúcho mais mineiro de todos os tempos, contudo mudei de ideia quando passei a considerar que esses 10 anos de sobrevida que Vargas deu à democracia brasileira trouxeram, entre outros feitos, a maturidade política que elegeu Jango e que, em outro cenário senão o suicídio, teríamos uma ditadura militar ainda mais duradoura.

Ou seja, saiu do coração estático de Getúlio um dos poucos sopros de democracia que temos e, considerando nossa história golpista, qualquer brisa de pensamento democrático consegue fazer a diferença de um tornado.

E se pensávamos que o Golpe deixou de ser regra na nossa política, 2016 foi como um balde de água fria para quem acreditou numa república democrática e, claro, consequentemente a aristocracia nacional se assanhou em aprofundar sua eterna guerra contra o povo e, portanto, tentar aniquilar qualquer força popular do país.

Por essas e outras Lula é tão massacrado.

Não há em toda nossa história quem representa melhor a força do povo do que um operário nordestino que venceu a fome e o preconceito para ser o melhor presidente que esse país já teve. Obviamente, a elite nacional (e mundial) nunca aceitaria isso. Cada vitória do eterno presidente – e não foram poucas – aumentou o recalque de seus algozes que aproveitam a ocasião covarde, onde são protegidos por togas e revistas, para desopilar todo seu ódio guardado contra o petista.

Sendo assim, e dói meu coração em escrever isso (não deixo de ter solidariedade ao sofrimento do Luis Inácio), o pior cenário possível seria o de absolvição do presidente Lula. Afinal, o Golpe de 2016 não aliviaria (jamais!) a vida de quem joga contra a agenda neoliberal.

Guardada as devidas proporções, seria como se a República do Galeão amenizasse a perseguição a Getúlio, o deixando vivo e pavimentando melhor o caminho para que o Golpe de 64 se antecipasse em uma década.

Portanto, Lula condenado de maneira cruel, pela mídia e pela justiça, significa, dentre várias análises, que a direita brasileira o vê como um grande adversário. E, convenhamos, ser o inimigo número um de uma elite escravocrata que prefere beber whisky de segunda em Miami ao invés de tomar uma boa cachaça em Minas Gerais é digno das mais variadas homenagens, desde estátuas em praça pública a músicas do Chico Buarque.

Por isso, se essa casta burguesa perdoasse o Lula significaria, única e exclusivamente, que ele deixou de representar algum tipo de perigo para ela. E isso, indubitavelmente, não condiz com a história do operário mais querido do Brasil.

A guerra continua e nossa luta também. E nessa disputa injusta onde um lado mata o outro de fome para poder jogar comida fora, o pior cenário seria estar do lado da falsa vitória.

*Tadeu Porto é editor do Cafezinho e diretor da Federação Única dos Petroleiros e do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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