Tacla Duran tinha razão: conteúdo do Mywebday está perdido, Drowsys foi alterado

A reportagem do Globo, reproduzida abaixo, é destinada às historiadoras do futuro.

O jornalismo brasileiro vive um momento histórico curioso. Qualquer movimento da enxada, por mais tímido que seja, faz vir à tôna um monte de minhoca.

No caso, as minhocas são as mentiras que a Lava Jato – e a própria Globo – inventaram para dar o golpe contra Dilma, sustentar as reformas de Temer e tirar Lula do jogo.

A Lava Jato foi inteiramente construída em cima de informações falsas, delações forjadas e cálculos de propinas exagerados ou distorcidos.

A delação da Odebrecht, que serviu para chantagear e intimidar centenas de políticos, não passou de uma grande farsa, encenada por executivos aterrorizados, de um lado, e procuradores ansiosos em oferecer dados que confirmassem a narrativa já previamente escrita por eles mesmos e pela mídia.

O incrível é que as suspeitas aventadas na reportagem abaixo, chanceladas por um dos procuradores principais da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, confirmam o depoimento do ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Durán. Mesmo assim, nem a Globo nem a Lava Jato ousam mencionar o nome de Tacla Durán.

Por que?

Porque tanto a Globo quanto a Lava Jato não tem compromisso com a verdade. Sua única preocupação agora é como produzir uma outra narrativa, que lhes permitam transitar da grande farsa que montaram – e que já está ruindo – para uma explicação qualquer que satisfaça a opinião pública idiotizada que criaram.

***

No Globo

Polícia Federal e MPF não conseguiram acessar MyWebDay e Drousys pode ter sido adulterado

Passado mais de um ano desde a assinatura do acordo de leniência da Odebrecht, o Ministério Público Federal (MPF) corre o risco de jamais acessar o Mywebday, um dos dois sistemas usados por funcionários do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht — mais conhecido como setor de propina da empreiteira — para organizar pagamentos ilegais a políticos.

Cinco discos rígidos com cópia de dados do software foram entregues há quase seis meses aos investigadores, em atendimento ao acordo assinado com a empresa. Juntos, foram entregues dois pendrives que, em tese, permitiriam o acesos aos dados. Mas, até hoje, nem MPF nem Polícia Federal conseguiram navegar no sistema.

— O sistema está criptografado com duas chaves perdidas, não houve meio de recuperar. Nem sei se haverá. Não houve qualquer avanço nisso — admite um dos coordenadores da Lava-Jato em Curitiba, Carlos Fernando dos Santos.

O Mywebday era o sistema de comunicação usado por funcionários do setor de propina para controlar e organizar os pagamentos a agentes públicos. O programa detalhava, em códigos, desde o nome do executivo responsável pelo pedido de pagamento ilegal e o propósito do pagamento, até a cidade onde ele ocorreu, o destinatário de valores e o doleiro usado para viabilizar o repasse.

Nas investigações em curso, o MPF tem usado informações de outro sistema paralelo, também entregue pela Odebrecht: o Drousys. Este sistema era usado para comunicação entre funcionários do departamento e o mundo externo, isto é, operadores financeiros — como doleiros e controladores de contas mantidas no exterior.

O Drousys traz dados semelhantes aos disponibilizados pelo Mywebday, mas com algumas lacunas de informação. Quando fechou o acordo com a Odebrecht, o MPF esperava ter acesso aos dois sistemas — para conseguir cruzar dados de fontes distintas e corroborar informações de depoimentos dos 77 colaboradores.

Segundo Carlos Fernando, como não foi possível verificar os dados com os pendrives entregues pela empreiteira, as circunstâncias em que outros pendrives de acesso ao mesmo sistema foram destruídos ou apagados estão “sob investigação”. Ele admite que esta é uma situação delicada, em função do direito constitucional de qualquer investigado de “não se autoincriminar”.

O procurador admite que o caso pode ter repercussão nos benefícios concedidos à empresa. Mesmo posicionamento da cúpula da PF em Curitiba, que aguarda o desdobramento do episódio. O escritório de advocacia que monitora internamente o programa de compliance da Odebrecht apura, também, o caso. A empresa diz que sua colaboração com as autoridades é “ampla, detalhada e contínua”e que “todos os fatos estão sendo esclarecidos à Justiça”.

Os dispositivos foram submetidos a perícia nos últimos meses, bem como outros que foram encontrados durante ações de busca e apreensão em endereços da empresa. Há suspeita de que dados dos dispositivos tenham sido subscritos — isto é, apagados e reescritos. Nem Odebrecht, nem MPF testaram os tokens no momento de entrega dos dados à Lava-Jato.

Por meio de nota, a Odebrecht admitiu não dispor “de credenciais de acesso aos dados cifrados” do Mywebday, mas disse ter colocado à disposição das autoridades todas as informações de que dispunha, “inclusive mais de 30 mil arquivos” do próprio sistema.

Apesar de ter entregue em agosto cópia do Mywebday extraída de servidor na Suíça, a empresa afirma que o sistema encontra-se atualmente “apreendido, custodiado e gerenciado pelas autoridades” daquele país. “A determinação da Odebrecht é não deixar dúvidas sobre os atos que praticou e sobre a responsabilidade de todos os envolvidos. É por isso que a colaboração da empresa está resultando em desdobramento de investigações e ações judiciais no Brasil e em diversos países”, escreveu a empresa em nota oficial.

A Odebrecht afirma ainda que seu compromisso “é com a verdade e com o aprimoramento de práticas empresariais que combatam qualquer forma de corrupção e coloquem a empresa em nova trajetória de crescimento, com ética, integridade e transparência”.

O Globo

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.