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Considerações sobre os efeitos da Lava Jato sobre a economia do Rio

Com 12 milhões de eleitores, correspondendo a 8,4% do eleitorado nacional (que atingiu este ano 147 milhões de eleitores registrados no TSE), atrás apenas de São Paulo (33 milhões) e Minas Gerais (15,7 milhões), o Rio de Janeiro é, evidentemente, uma peça chave no jogo de xadrez da política brasileira. Até 2014, que eu considero […]

3 comentários
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Com 12 milhões de eleitores, correspondendo a 8,4% do eleitorado nacional (que atingiu este ano 147 milhões de eleitores registrados no TSE), atrás apenas de São Paulo (33 milhões) e Minas Gerais (15,7 milhões), o Rio de Janeiro é, evidentemente, uma peça chave no jogo de xadrez da política brasileira.

Até 2014, que eu considero o ano 1 do golpe, em função do início da operação Lava Jato, o Rio  vinha crescendo acima da média nacional. Mas olhar apenas o crescimento não nos dá a dimensão da esperança que tínhamos no futuro do estado. O mais importante é que era um crescimento ancorado em grandes obras de infra-estrutura, que geravam milhares de empregos e prometiam gerar ainda mais, por muito tempo.

Esses fatores positivos, em especial essa confortável sensação do “pleno emprego” (que dura até o final de 2014), cegaram muitos analistas em relação a problemas essenciais, sobretudo no tocante à gestão do governo do estado, como a falta de investimento em educação básica e secundária, o abandono sistemático da agricultura familiar, a dependência perigosa em relação a uma commodity de preço tão volátil como o petróleo, a ausências de políticas públicas estruturantes para o setor de turismo, a falta de investimento em saneamento, urbanismo e mobilidade nas áreas mais pobres da região metropolitana, uma política de segurança baseada exclusivamente em operações de polícia, um processo de corrupção crescente, e por aí vai.

Quer dizer, a gente até sabia dos problemas, mas achava que todos seriam corrigidos ao longo do processo. A economia crescia, quase todo mundo tinha trabalho, e havia a sensação de viver uma democracia relativamente livre.

Segundo números da Firjan, a construção civil vinha crescendo a um ritmo chinês no estado, 7% em 2012 e 5,8% em 2013.

O PIB regional, como se vê no gráfico que abre o post, subia acima do índice nacional: avançara 2% em 2012 e 1,3% em 2013.

A indústria de transformação, por sua vez, registrara um crescimento vigoroso de 2,4% em 2013, apesar das turbulências políticas daquele ano, que testemunhou as maiores manifestações políticas de sua história.

Na expectativa de aproveitar o boom econômico do país, a alemã ThyssenKrupp tinha investido 5,2 bilhões de euros numa siderurgia em Santa Cruz, no coração da área mais pobre da capital, que entra em plena atividade a partir de 2010.

O porto de Sepetiba, finalmente, havia saído do papel e recebeu muitos novos investimentos, com o aumento substancial de seu calado, o que permitiria ao Rio receber, pela primeira vez, os gigantescos navios de carga que, até então, só podiam atracar em Santos, além de novas linhas de acesso rodoviário e ferroviário, que permitiriam ao porto de Sepetiba receber caminhões e trens de carga oriundos das grandes regiões produtoras do sudeste, em especial zona da mata e sul de Minas, a um frete bem menor em relação a Santos.

A proximidade de Sepetiba interessava às indústrias de aço e petróleo, que lidam com peças imensamente pesadas, com intenso fluxo internacional. Boa parte dos investimentos de modernização do porto vieram da ThyssenKrupp e da Petrobras.

Na área do petróleo, duas perspectivas provocavam comichões no estômago dos analistas fluminenses: de um lado, a construção da Comperj, que seria a maior refinaria de petróleo da América Latina, representaria a libertação econômica e social da Baixada, uma das regiões mais violentas e miseráveis do país; de outro, o avanço da exploração do pré-sal na bacia de Campos trazia imensas oportunidades econômicas para o norte do estado, cuja renda per capita havia caído, nas últimas décadas, para índices mais baixos do que as piores regiões do nordeste.

A realização de dois grandes eventos na capital, a Copa e as Olimpíadas, apesar das críticas duras que sofreram de setores mais à esquerda (muitas delas procedentes, outras não), traziam a oportunidade de grandes investimentos em mobilidade urbana. A derrocada política do governo federal, que começou em 2013, quando a Globo consegue, num golpe semiótico, assumir o controle narrativo das “jornadas de junho”, somado ao início da Lava Jato, que marca efetivamente o início das conspirações golpistas, possivelmente bloquearam inúmeras iniciativas progressistas que poderiam, sob pressão dos movimentos sociais, advir desses dois grandes eventos. Mas isso é apenas especulação e temos elementos mais objetivos a analisar.

Os estaleiros do Rio vinham produzindo com força total, impulsionados pela florescente indústria do petróleo e pela decisão estratégica da Petrobrás de investir na compra de produtos nacionais.

Tudo ruiu com o ataque devastador de duas forças terríveis e simultâneas, a Lava Jato e o golpe, que desabaram sobre o Rio com a violência parecida (guardadas as devidas proporções) aos ataques militares dos EUA contra o Iraque, em 2003.

A Lava Jato foi ainda pior que o golpe, porque arrasou, de uma vez só, todos os setores estratégicos do estado: os estaleiros, a siderurgia, a indústria de óleo e gás, a usina nuclear, a construção do submarino, a Comperj, produzindo um efeito dominó que derrubou toda a economia, jogando o Rio de Janeiro numa situação desesperadora.

Há uma terceira força cujo poder destrutivo não quero minimizar: a corrupção. Esta não teve o efeito de uma bomba sobre a economia; agiu antes como um veneno de ação lenta, intoxicando e enfraquecendo as relações políticas no estado, as quais foram perdendo contato com a própria sociedade e suas bases organizadas, estruturando-se cada vez mais numa rede fisiológica cuja fragilidade ficou patente no impeachment, quando todos os caciques do PMDB, que haviam sido aliados do PT em todos os anos de bonança, se voltam, num gesto de vergonhosa traição, contra o governo Dilma. A corrupção, evidentemente, traz enormes prejuízos econômicos para o estado, mas estes não são determinantes. Os seus efeitos políticos, de empoderar Eduardo Cunha e Moreira Franco, e arrastar o PMDB para o lado da direita golpista, é que foram as consequências mais dramáticas.

 

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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vitor

26/03/2018 - 16h54

Ancorado em obras super-faturadas e PowerPoints do Eike Batista, só se for…

Zakk

26/03/2018 - 09h53

Muito bom, o Dr. Miguel não aceita opiniões contrárias as suas e dele comentários.

Beto Castro

25/03/2018 - 14h36

E pensar que todo este estrago na Nação destruindo o futuro do Rio de Janeiro e de todas as regiões do país foi feito por uma dúzia de altos traidores da Pátria que se venderam a uma potência estrangeira por um punhado de dólares e não aparece um patriota, mesmo militar, para os fuzilar sumariamente em praça pública sem julgamento. Doze governadores do PT e seus aliados permanecem paralíticos e omissos vendo a Pátria ser totalmente destruída e saqueada por ladrões locais e colonizadores abjetos e desumanos. E o estrago maior ainda está para acontecer com uma guerra fratricida entre milhões de desempregados e desesperados famintos do país dividido em dois. Lamentável, muito lamentável!


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