O que está por trás da prisão dos “homens de Temer”?

A prisão dos “homens de Temer”, por determinação do ministro Luis Roberto Barroso, nos permite recordar alguns fatos anteriores ao impeachment.

Na famosa “carta” enviada por Michel Temer à presidenta Dilma, o então vice-presidente elenca, como um dos atos de Dilma que mais o aborreceram, a demissão de Edinho Araújo (“a mim ligado”, diz Temer) da secretaria dos Portos.

E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.

O mesmo Edinho Araújo, tão ligado a Temer e à máfia dos portos, vira notícia em meados de março de 2016 por causa de sua decisão de apoiar o impeachment.

No início de 2014, Dilma havia vetado o nome de Eliseu Padilha, indicado pelo vice-presidente Michel Temer, para a secretaria dos Portos. Há uma nota da revista Época, de fevereiro de 2014, que trata do assunto:

A presidente Dilma Rousseff vetou o nome do deputado federal Eliseu Padilha (PMDB-RS) para o cargo de ministro da Secretaria de Portos. Eliseu Padilha foi indicado pelo vice-presidente Michel Temer.

Outro motivo para a ruptura do PMDB com o governo Dilma, também mencionado na carta, foi decisão da presidenta de demitir um nome indicado por Eliseu Padilha para a diretoria da Anac. É interessante lembrar que o próprio Temer diz que “alardeou-se” na época que a saída de Padilha se dera porque este fazia parte de uma “conspiração”. Bem, os fatos posteriores demonstraram que, de fato, Padilha era um dos cabeças da conspiração golpista.

No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas “desfeitas”, culminando com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta “conspiração”.

Não há dúvidas de que o impeachment de Dilma Rousseff, dentre tantos motivos escusos, se deu porque a presidenta representava um obstáculo à corrupção. Removida Dilma, com apoio espúrio da Globo e da Lava Jato, não há mais obstáculos à roubalheira.

A postura de Luis Roberto Barroso, neste sentido, não deve produzir nenhum entusiasmo, porque sua suposta coragem seria muito melhor empregada se tivesse impedido a consumação do golpe.

Prisões cautelares, quando feitas puramente para efeito midiático, não dão nenhum resultado. A luta contra a corrupção exige investigações sérias e discretas, com o acompanhamento igualmente discreto, e imparcial, do judiciário.

O Supremo, se quiser contribuir para a estabilidade democrática, não deveria jogar álcool nos anseios pirotécnicos de uma meganhagem louca por sangue. Investigar é melhor que prender.

A maior contribuição do STF à ordem democrática, hoje ameaçada por inimigos por todos os lados, incluindo o fascismo crescente da extrema direita, é interromper o desmonte do Estado, as privatizações irresponsáveis, e garantir um processo eleitoral justo, no qual os candidatos das principais forças políticas do país possam debater livremente suas propostas.

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No El Pais Brasil

José Yunes, Coronel Lima: PF prende homens de confiança de Temer

Antonio Celso Grecco, dono da empresa Rodrimar, e o ex-ministro Wagner Rossi também foram presos

Dois homens do círculo mais próximo do presidente Michel Temer, o ex-assessor especial da Presidência José Yunes e o ex-coronel da Polícia Militar de São Paulo João Batista Lima, foram presos na manhã desta quinta-feira, 29 de março, em operação deflagrada pela Polícia Federal. O coronel Lima apareceu nas tramas de corrupção reveladas pela Operação Lava Jato, acusado de ser um intermediário do presidente.

Já o advogado José Yunes pediu demissão do cargo de assessor especial da Presidência em 2016 ao ser citado na delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho. Segundo o delator, parte dos 10 milhões de reais repassados em 2014 ao MDB teriam sido pagos no escritório de Yunes – fato que ele nega.

Advogado de Yunes, José Luis Oliveira Lima considerou a prisão de seu cliente ilegal e disse ser uma violência contra a cidadania. “É inaceitável a prisão de um advogado com mais de 50 anos de advocacia, que sempre que intimidado ou mesmo espontaneamente compareceu a todos os atos para colaborar”, disse Lima em nota.

Também foram presos nesta quinta-feira o empresário Antonio Celso Grecco, dono da empresa Rodrimar, que opera no porto de Santos; o ex-ministro da Agricultura e ex-deputado federal Wagner Rossi (MDB).

As prisões, confirmadas ao EL PAÍS pela Procuradoria-Geral da República (PGR), são parte da Operação Skala, deflagrada em São Paulo e no Rio de Janeiro e autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A Polícia Federal informou que não vai se manifestar “a respeito das diligências realizadas na presente data” por determinação do Supremo.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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