Em sabatina ao UOL, Ciro diz que eleições na Venezuela não foram fraude

Na sabatina de que participou, agora há pouco, no UOL, o pré-candidato a presidência da república, Ciro Gomes, demarcou as linhas mestras de sua campanha:

  • Não quer aliança com PSDB, partido que, segundo suas palavras, “apoiou um Golpe de Estado e está dentro de um governo que adota uma agenda antipovo e antinacional”.
  • Sua prioridade no momento é se aproximar das legendas de esquerda, como PSB e PCdoB. Ciro não citou o PT, mas deixou claro que um apoio do partido do presidente Lula será muito bem vindo, no primeiro ou, eventualmente, no segundo turno.
  • Quer estabelecer um núcleo político ligado ao trabalhismo e ao socialismo democrático.
  • Centrou fogo em Bolsonaro, candidato do fascismo, um mal que precisamos, diz Ciro, extirpar pela raíz.
  • A questão fiscal brasileira será resolvida baixando impostos para pobre e classe média e aumentando impostos sobre os ricos.
  • As eleições na Venezuela não foram fraude. O governo brasileiro, ao não aceitar o resultado, está sendo apenas vassalo do imperialismo americano.
  • Os golpistas são ingratos com o chavismo, período no qual o Brasil obteve superávits de mais de 5 bilhões de dólares ao ano, com a Venezuela.
  • Vai revogar a Lei do Teto de Gastos.
  • Vai revogar a Lei Trabalhista e propor uma nova reforma, chamando sindicatos e empresários para conversar. A nova proposta visa reestabelecer a segurança no mundo do trabalho.
  • A reforma da previdência precisa ser pactuada democraticamente, protegendo todos os trabalhadores, principalmente os mais vulneráveis. Falou em “renda mínima” (na previdência) para todos e incorporar as aposentadorias rurais ao Tesouro Nacional.
  • Prometeu reunir a academia para discutir a criação de novas fórmulas tributárias e previdênciárias.
  • Disse que as duas primeiras grandes reformas a fazer, logo nos primeiros 6 meses, são a reforma política e a fiscal.

A entrevista segue abaixo. Critique, xingue, mas assista primeiro.

***

Em tempo, resumo da sabatina feito pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada:

Sobre o encontro de Moro com Doria em Nova York: Não é bom para o país que um juiz saia do distanciamento crítico que ele precisa ter, que é uma premissa da autoridade judicial. Todo dia Moro tá com uma gravatinha borboleta – não sei nem que horas ele dá expediente – quase sempre confraternizando com o PSDB…

Há um desequilíbrio em relação aos quadros do PSDB.

Sobre alianças: a gente precisa entender o que tá em discussão: eleição e o dia seguinte à eleição. Não é apenas um jogo eleitoral. É preciso deixar as portas abertas para, amanhã, reformar o país. E isso exige portas abertas para uma tratativa. É inimaginável uma aliança com o PSDB.

PSDB e PMDB fizeram um Golpe por uma agenda anti-pobre, anti-povo…

Não há probabilidade – nem desejo – aliança com o PSDB. Mas preciso deixar as portas abertas para dialogar.

Bolsonaro é uma grava ameaça pelo extremismo. É uma pessoa que não tem medida, nunca administrou um boteco dos pequenos. Como todo fascista, tem dificuldade para lidar com antagonismo. E tem solução toscas, é preciso chamar atenção sobre isso.

Bolsonaro me parece o candidato menos difícil de ser derrotado.

Quando o camarada promete distribuir armas, o que ele promete é um banho de sangue!

E a quem interessa essa propaganda sistemática de vender armas? Será que a indústria de armas está neutra nisso?

Qual país do mundo enfrentou a criminalidade expandindo armamento?

A intervenção no Rio não deu certo, nem pode dar! O traficante, o comando da facção, não estão na favela. O comando está em Ipanema, Copacabana e usa os outros de bucha de canhão.

A sociedade se sente segura quando vê soldado de fuzil. Mas, quando você vê as estatísticas…

E por que o Rio, por que não Fortaleza, Natal? Isso não se explica senão pela politicagem, midiatização do problema!

Vamos convocar os governadores e prefeitos para um grande entendimento nacional pela segurança pública, desde a sistematização das guardas municipais até uma Polícia Federal de Fronteira contra o tráfico.

É necessário trocar a lógica do enfrentamento. Sistematizar a inteligência para mapear e retirar as cabeças do crime organizado. Não com aparato, mas com cortes cirúrgicos promovidos pela inteligência…

Quem consome cocaína é o barão, do bairro rico…

Reforma trabalhista e teto de gastos: os dois serão revogados! Mas os valores envolvidos são objetos de minha preocupação.

Qual país do mundo congela os gastos de Saúde e Educação por vinte anos, mas deixando livres 29% do orçamento para despesas financeiras?

O mercado quer controle?

A solução é fazer um limite para o pagamento dos juros. Como nos EUA: quando se atinge o limite, o governo para e discute com o Congresso.

Eu sou um ex-governador de Estado (atenção, Mercado!), ex-prefeito, ex-ministro, sem um único dia de déficit!

Se buscar no Google, o maior superavit no Brasil foi praticado por mim, durante o governo Itamar!

Para um dos jornalistas: você está intoxicado pela história do mercado…

O governo pode pôr no lombo do povo, deixar o povo morrer no hospital, mas não pode deixar os bancos e financistas serem regulados?

Eu não quero ser o presidente se não for para equilibrar as coisas e proteger o povo.

Brasil tem a menor taxa de investimentos da história, o país indo pro brejo… Mas aqui só quem paga imposto é classe média e o pobre. No meu governo, vou diminuir os impostos sobre esses e aumentar sobre os ricos.

Reforma trabalhista permite que um patrão aloque uma senhora grávida em ambiente insalubre. Está escrito! É uma selvageria que o século XIX já revogou!

Mas o mais grave é o trabalho intermitente. Desde a promulgação da Reforma Trabalhista, foram destruídos 180 mil postos de trabalho. Meio milhão de brasileiros perderam a carteira assinada e passaram a ganhar menos de um salário mínimo.

O sucesso do capitalismo moderno depende do consumo de massa. E o consumo de massa depende da renda do povo!

Não pretendo desconsiderar os valores discutidos. Mas quero discutir uma reforma trabalhista moderna – junto dos sindicatos, da academia, estudando a legislação estrangeira.

Não é por causa da CLT que o Brasil perde vagas de trabalho para a China – a culpa é do câmbio…

O problema do investimento não é taxa de juro do governo. Hoje, no Brasil – números da Febraban! – a taxa de juros que o mercado cobra da produção é de 41%.

Qual negócio da economia real paga isso de rentabilidade? Pelo amor de Deus!

O passivo do setor privado está em 2 trilhões. E 600 milhões estão caminhando para créditos de recuperação.

Iminência de uma crise bancária!

O Brasil aceitou que cinco bancos – dois dos quais públicos – concentrem 85% de todas as transações do mercado financeiro. E se eles não competem entre si… O mundo se acabando e os caras enchendo a pança de dinheiro! Só tem um jeito: concorrência.

Privatizações: evidente que não sou favorável.

Não tenho nada contra o capital estrangeiro.

Como disse Deng Xiaoping, não importa a cor do gato, desde que ele cace o rato.

Estamos fechando indústria todo dia!

Qual país do mundo entrega seu regime de águas?

Trump impediu a entrega da Qualcomm!

Contrato de gestão. Metas objetivas para as estatais. Não lotear as empresas com pilantras.

Por que nós vamos deixar a Boeing vir comprar a Embraer?

Vou propor tudo que estou propondo aqui nos seis primeiros meses.

Envolver o povo diretamente, trazer o povo para os debates!

Para o repórter: me chame de Ciro, não de deputado!

Reforma fiscal e política: isso dá pra debater em seis meses! Seis meses é mais que suficiente para qualificar o debate.

Não sou candidato a ditador. O candidato a ditador é o Bolsonaro…

Quando falo do tamanho da dívida pública do Brasil para estrangeiros, pensam que há um erro de tradução, um erro no meu inglês…

Se eu conseguirei entregar ou não? Vai ser a luta da minha vida.

Ocupação de terra é tão selvagem quando você impedir trabalhadores de terem acesso à terra. Você tem que fazer reforma agrária e fazer garantir o estado de direito democrático.

Quando fui governador, chamei o MST: se vocês querem terra, venham aqui, vamos debater. E não tive um problema em quatro anos. Todas as famílias que nos procuraram tiveram acesso à terra.

Mas é tarefa do poder público retirar as ocupações…

O agronegócio está carregando o país nas costas.

A abstenção não se repetirá no Brasil.

O PT, se promover campanha por boicote das eleições, falará a ouvidos moucos.

Temos que empurrar todas as fichas, todas nossas energias, nas eleições!

Não podemos por qualquer circustância deixar essa agenda anti-povo ser legitimada pelo voto.

Venezuela: se a eleição foi uma fraude, por que dois candidatos de oposição se apresentaram? Um tirou 21%, o outro 11%…

O ativismo chavista também passa de todos os limites do aceitável, não se sustenta…

O Brasil, para ser vassalo do imperialismo estúpido, se demite de sua posição de mediador.

Aloysio Nunes diz que o Brasil tem lado no conflito na Venezuela. Desde quando temos lado em disputa de outros países?

Os EUA não respeitam vassalos.

Após reorganizar as relações com o Cone Sul, com a Unasul, precisamos de uma nova relação de seriedade com os EUA. Queremos deixar de ser um mero protetorado para sermos bons amigos, como a França.

Ninguém quer conversar sobre a dívida…

É preciso propôr com clareza um novo modelo para Previdência. E a grande questão é o período de transição.

Hoje, a grande distorção da previdência está no fato de que 2% recebem mais de 1/4 dos benefícios: juízes, políticos, militares…

No processo de destruição das indústrias, o centro da crise é São Paulo.

O Rio tomou uma traulitada das empreiteiras e com o desmonte da Petrobras!

O projeto nacional de desenvolvimento precisa conhecer o país em suas peculiaridades.

Nunca botei um centavo meu na política.

Tenho um apartamento em Forteleza, estou pagando outro em prestações, e tenho dois carros.

A Justiça de São Paulo quis tomar meu apartamento, depois que eu disse que havia corrupção no Ministério da Saúde…

Quando fui deputado, foi meu pior momento na vida pública. Não me deram nenhum projeto para relatar, nenhuma posição nas comissões…

Candidato a Vice: meu projeto precisa se aperfeiçoar numa aliança de centro à esquerda. Vamos hierarquizar passo por passo. Só um companheiro fala por mim nesse aspecto: Carlos Lupi. Nosso parceiro preferencial é com PSB. Aliança no segundo turno com PCdoB.

Trabalhismo e socialismo democrático!

Vamos conversar com quem quiser conversar conosco!

Josué [Gomes] foi sondado por mim mesmo e pelo Lupi.

Quero recrutar um homem ou mulher da produção, baseado no sudeste.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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