Uma teoria psicológica sobre o lulismo juvenil de Bretas

(De lulista a morista: Bretas oferecendo pipoca a Sérgio Moro)

Por Pedro Breier

Obrigado pela sua postura no depoimento. É relevante a sua história para todos nós. Para mim, inclusive, que aos 18, 17 anos estava aqui num comício na avenida Presidente Vargas com 1 milhão de pessoas. Vivíamos um momento diferente no país. Estava lá, usando boné e camiseta com o seu nome.

As palavras acima foram proferidas pelo juiz Marcelo Bretas e dirigidas a Lula, durante depoimento realizado ontem (5) por videoconferência. Lula, com seu bom humor habitual, disse que chamaria o juiz para participar de um próximo comício.

Ao tomar conhecimento desta estranha manifestação espontânea de Bretas, lembrei-me imediatamente das acaloradas discussões que tomaram o Brasil no período que precedeu o golpe de 2016.

A partir de 2015, o antipetismo histérico atingiu seu ápice. Era comum, então, que os favoráveis ao impeachment antecedessem seus argumentos com colocações ao estilo Bretas.

“Eu sempre votei no Lula” ou “eu fazia campanha pro PT” virou uma espécie de salvo-conduto autoconcedido para posicionar-se a favor do golpe.

Na época, uma amiga me contava, aos risos, de uma colega de trabalho que sempre precedia seus posicionamentos reacionários com um “Eu fui fundadora do PT!”.

Até no filme sobre a Lava Jato essa espécie de justificativa aparece. Em uma cena, o pai de um dos investigadores questiona o filho sobre a seletividade da operação e este responde: “Quem cai na nossa mão é investigado. Até parece que eu não votei neles também. Eu fiz campanha, esqueceu?”

Tamanha recorrência do mesmo recurso “argumentativo” é bastante interessante, a ponto de este colunista pedir licença aos leitores para lançar uma tese psicológica de botequim sobre o tema.

A minha teoria é a seguinte: no fundo, bem no fundinho, no nível subconsciente, o antipetista atávico sabe que seus posicionamentos políticos decorrem de sentimentos nada nobres como o ódio de classe e o racismo.

O ódio das classes média e alta, usado como combustível para a derrubada do governo Dilma, nunca foi ao PT especificamente, mas à ascensão social que os governos petistas representam no imaginário popular – e, em boa medida, na prática.

Sabendo disso, ainda que inconscientemente, a mente do antipetista tenta, de forma instintiva, esconder essas motivações profundas para dar um ar de legitimidade aos seus posicionamentos conservadores/antipovo/antidemocráticos.

Daí o estrondoso sucesso da tática de alegar que sempre votou no PT, fez campanha ou até que usou boné e camiseta do Lula quando era jovem.

Quer dizer, o estrondoso sucesso passou.

Depois que o golpe mostrou a que veio, por meio do desastre que atende pelo nome de governo Temer, a tática saiu de moda, junto com as panelas e a camisa da CBF.

P.S.: Para quem quiser prescrutar os verdadeiros posicionamentos políticos de Bretas, aqueles que ficam (mal) escondidos sob o suposto lulismo juvenil, recomendo o artigo Os recados abertamente fascistas de Marcelo Bretas, do Miguel do Rosário.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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