Plano Lula: a armadilha do pragmatismo irreal

Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil

[Esse é o terceiro texto de uma série que prometi aqui]

No primeiro texto da série “Plano Lula” escrevi sobre a importância do Lulismo. Já no segundo, fui um pouco além da figura do presente com uma breve análise de conjuntura, sobre o futuro do país, principalmente acerca do pleito de 2018.

O assunto desse texto em sequência reflete um debate que irá se aprofundar na medida que o caos político que toma conta do país aponte uma definição: “o que fazer?” diante esse quadro de dificuldade.

São diversas as ações pensadas, inclusive dentro da própria esquerda, para sairmos da crise oriunda do Golpe de 2016. E a escolha para a melhor ação passará, sem dúvidas, pela prática do pragmatismo.

Contudo, uma má leitura da conjuntura pode ser fatal para uma jogada pragmática, afinal, o êxito prático pode nos fazer perder detalhes importantes de construção para demandas duradouras.

Na hora, por exemplo, me vem um fato recente da nossa política: a vitória da presidente Dilma nas eleições de 2014 e as ações tomadas após a vitória que a afastou, justamente, da base social e popular que trabalhou arduamente para a eleger.

Vale relembrar, o documento que o ex secretário da SECOM, Thomas Trauman, “vazou sem querer” com uma análise de que o governo estaria “tomando uma surra” em sua imagem por causa da indicação do Levy. Corroborado com uma análise de Delfim Neto, que não é nada de esquerda mas tem uma visão experiente do processo político e econômico do país, que foi muito feliz em relembrar, numa entrevista ao 247 em março de 2017,  que “Quem votou na Dilma, no dia em que ela nomeou o Joaquim Levy se sentiu traído”.

Outro exemplo foi o “nem que a vaca tussa” que Dilma lançou na eleição mais acirrada da história brasileira para, logo em seguida, mudar regras trabalhistas através de Medida Provisória a ponto do movimento sindical – pilar de sustentação histórico do partido – ter que se pronunciar contra o governo, com a célebre frase “a vaca tossiu”.

A correlação de forças institucionais do momento, com o congresso mais reacionário do país e o mercado financeiro se fortalecendo (seus representantes eleitos, claro) levou o governo a enxergar a necessidade de ceder ao outro lado da disputa.

Ou seja, Dilma em 2014 foi eleita por uma grande frente ampla de esquerda que, embora não formada oficialmente, se juntou principalmente no segundo turno por um projeto de país. E, depois de eleita, sinalizou demais para a direita perdendo o apoio do arranjo popular que a elegeu.

Não é de bom tom tentar ser profeta do acontecido. Mas, com o desenrolar dos fatos, é factível assumir que a leitura do governo Dilma não foi tão verossímil.

Por isso, ficamos na imaginação do que ocorreria se a Dilma tivesse caído com uma agenda progressista em movimento reafirmando bandeiras importantes por país: no mínimo, o debate tomaria outro rumo.

Esse é um erro comum no pragmatismo (prática que não condeno, diga-se de passagem), quando as tomadas de decisões não encontram respaldo na conjuntura.

E esse pode ser o erro da esquerda em geral, caso abra mão da defesa de Lula em prol de uma candidatura que não atenda os anseios em geral. Já vimos em 2014 que vitória em eleição pode não servir de nada e, desde aquele tempo, o apoio popular do dia a dia talvez tenha mais peso que votos em urnas.

O sentimento da população, muito bem traduzidos pelas pesquisas e pelas ruas, é de uma polarização que afunilou, abertamente, na dialética Lava-Jato x Lula.

Veja, por exemplo, a dificuldade enorme que a direita tem em emplacar um candidato pois nenhum candidato tradicional conseguiu assumir o legado da “operação engodo” (como chamou Jessé de Souza) e, com isso, não consegue arrastar os votos da polarização.

O candidato que mais representa, atualmente, a Lava-jato é Bolsonaro, não coincidentemente pelas ideias proto fascistas que ele representa e que são cruciais para a existência de uma operação tão antidemocrática e autoritária.

Nesse sentido, a escolha de um caminho que ignore a saída Lula, tende a seguir o mesmo problema e, com isso, não ter o apoio popular necessário para poder mudar o sistema do país. A resiliência do maior presidente da história nas pesquisas não pode ser ignorada ou analisada como uma simples passagem de votos

Junto com o desejo de votar em Lula há, também, a vontade de se fazer justiça e lutar pelo país. Enquanto nenhum candidato, naturalmente, assumir essa responsabilidade, qualquer saída que ignore Lula será um fracasso como foi o segundo mandato da presidenta Dilma.

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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