Lula tem rejeição de quase 60% na classe média paulista

Mulheres com bandeira durante Marcha da Família com Deus pela Liberdade. (25.03.1964. Foto: Acervo UH/Folhapress. Negativo: 21492.64)

Se João Doria tem um problema grave de rejeição em São Paulo, especialmente na capital, onde 55% dos eleitores afirmaram “não votar de jeito nenhum” no tucano, segundo o Ibope,  o ex-presidente Lula carrega uma bola de chumbo ainda mais pesada junto à conservadora classe média paulista: entre eleitores com renda familiar superior a 5 salários, o percentual de rejeição a Lula chega a 58%.

Segundo o TSE, São Paulo atingiu este ano 33 milhões de eleitores (22% do eleitorado nacional). Isso significa que o eleitorado paulista de “classe média”, ou seja, que ganha mais de 5 salários, corresponde a 6,2 milhões de pessoas. É maior que a população da Noruega, que tem 5,2 milhões de habitantes.

Entre eleitores paulistas com ensino superior, os mesmos 58% declararam rejeição eleitoral ao ex-presidente. Jair Bolsonaro também tem elevada rejeição entre eleitores com ensino superior: 37%.

Segundo a base usada pelo Ibope, cerca de 30% dos eleitores paulistas tem curso superior, o que corresponde a 9,5 milhões de pessoas, quase a população da Suécia, que é de 9,9 milhões.

Na média geral, Lula tem rejeição de 43% em São Paulo, a maior de todos os candidatos.

O único candidato com rejeição próxima de Lula em São Paulo é Fernando Collor: 36% dos paulistas disseram não votar nele “de jeito nenhum”.

Jair Bolsonaro, um candidato cujos índices de rejeição estão crescendo rapidamente, tem 31% de rejeição em São Paulo. O segmento onde Bolsonaro tem mais rejeição no estado é  justamente onde ele, até pouco tempo, tinha mais votos, entre jovens até 24 anos: hoje ele tem rejeição de 48% entre eleitores desta faixa etária.

A base social que ganha mais de 5 salários é grande em São Paulo. Segundo o Ibope, corresponde a cerca de 20% da população no estado. É maior que o número de eleitores com renda familiar até 1 salário mínimo, que correspondem, segundo o cálculo usado pelo Ibope, a 16% da população paulista.

É importante lembrar que essa renda de 5 salários é “familiar”: ou seja, se marido e mulher ganham 2,5 salários cada um, já fazem parte desse grupo. Não é exatamente uma “elite do dinheiro”.

O grupo mais pobre, até 1 salário de renda familiar, tradicionalmente, não rejeita tanto os políticos: nessa base, onde reside a força principal do ex-presidente, sua rejeição é a segunda maior, 26%, um número relativamente baixo, e atrás de Collor, que tem 32% de rejeição entre pobres paulistas.

 

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Lula e São Paulo: uma relação de amor e ódio

Apesar de ser o mais rejeitado no estado, Lula lidera as intenções de voto, com 24%. O ex-presidente lidera em todas as regiões, capital, periferia e interior, mas o destaque maior vai para a capital, onde tem 27% das intenções, mais que o dobro do segundo colocado, Jair Bolsonaro, que tem apenas 11% na capital.

A força de Bolsonaro permanece muito concentrada no eleitorado masculino, onde ele tem 24% dos votos, contra 26% de Lula. Entre mulheres, Lula tem mais que o dobro de votos de Bolsonaro: 22% X 10%.

Na estratificação por classe, a força de Lula está no eleitorado paulista mais pobre, com renda familiar até 1 salário, onde ele tem 34% dos votos, contra 5% de Bolsonaro.

Na faixa de renda superior, com famílias paulistas que ganham mais de 5 salários por mês, Lula ainda é forte, apesar de cair 17%, empatado com Alckmin, com 16%, e atrás apenas de Bolsonaro, que tem 23% nessa faixa.

 

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Cenário sem Lula

Caso o ex-presidente não consiga registrar a sua candidatura, o principal herdeiro de seus votos, por enquanto, é Marina Silva, que cresce de 8% para 13%. A migração de votos lulistas para Marina fica nítida quando olhamos a estratificação por renda: Marina tem 10% dos votos dos eleitores com renda familiar até 1 salário, num cenário com Lula, e passa para 16% num cenário sem a presença do ex-presidente.

Fernando Haddad, possível substituto de Lula, tem apenas 4% entre famílias com renda de até 1 salário, mesmo percentual de Ciro Gomes (que tinha 2% nesta faixa, no cenário com Lula).

 

Os eleitores de Haddad estão muito concentrados na capital, onde ele atinge 7% do eleitorado; na periferia, porém, seu índice cai para 2%, e no interior, para 1%.

A ausência de Lula faz Boulos sair da marca dos 1%, e pontuar 2% na capital e entre famílias com renda superior a 5 salários.

Ciro Gomes vai a 6% em cenário sem Lula, e tem forte pontuação em alguns segmentos, empatando ou mesmo ultrapassando Bolsonaro.

Entre eleitores com renda familiar superior a 5 salários, Ciro marcou 11 pontos, superando Marina Silva, que tem 9 pontos. Ciro tem boa pontuação no interior de São Paulo, 7 pontos.

O candidato do PDT fica à frente de Bolsonaro em dois segmentos de baixa escolaridade: até 4ª série e até 8ª série, do ensino fundamental, onde ele pontua 6% e 10%, respectivamente, contra 5% e 9% de Bolsonaro. Haddad tem 3% dos votos de eleitores com formação até 4ª série e 0% dos eleitores que cursaram até a 8ª série.

Outro setor forte de Ciro é o eleitorado com mais de 55 anos, onde ele marcou 10 pontos, empatado com Bolsonaro, que tem 11 pontos. Haddad tem apenas 1% do eleitorado mais velho.

Bolsonaro, como sempre, tem um voto muito desequilibrado na questão de gênero. Em São Paulo, no cenário sem Lula, ele tem 10% do voto feminino. Marina e Ciro tem 9% e 7% entre as mulheres paulistas, respectivamente.

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Conclusões

A pesquisa Ibope em São Paulo nos permite entender alguns pontos da sondagem nacional do mesmo instituto, também divulgada há pouco.

Por exemplo: por que Ciro Gomes não cresceu no Ibope?

O candidato do PDT tem aparecido muito nas redes sociais, de maneira que causou estranhamento, até por parte de seus adversários, que tivesse apenas 8% das intenções de voto no Ibope, nos cenários sem Lula, e 4%, nos cenários com a presença do ex-presidente. No Datafolha de algumas semanas antes, Ciro tinha 6% com Lula e 10% a 11% sem Lula.

As aparições de Ciro, porém, não tem chegado ainda ao eleitor de baixa renda. O eleitor mais pobre não assiste Roda Viva, não acompanha as sabatinas do UOL e da Jovem Pan, nem participa de polêmicas de twitter.

Apenas eleitores com renda familiar superior a 5 salários tem acompanhado as entrevistas, sabatinas e aparições públicas dos candidatos. É nesta faixa que Ciro tem crescido.

Para ilustrar essa observação: o último Datafolha estimou que Ciro Gomes (em cenário sem Lula) já tem 17% entre eleitores com renda entre 5 e 10 salários, consolidando um firme segundo lugar neste segmento, 6 pontos à frente de Marina Silva, que tem 11 pontos. Ciro pontuou, ainda segundo o Datafolha, 14% dos eleitores com renda familiar acima de 10 salários, contra apenas 3% de Marina.

Entre eleitores com mais de 60 anos, Ciro Gomes lidera o Datafolha, com 13%, acima de Bolsonaro (12%) e Marina (10%).

 

Homens & Mulheres

A pesquisa Ibope para São Paulo trouxe ainda uma tabela sobre o “interesse nas eleições”. Repare a diferença entre homens e mulheres. São dados muito interessantes, e que podemos generalizar para o país todo.

Enquanto 29% dos homens afirmaram não ter “nenhum interesse” nas eleições, um total de 42% das mulheres disseram a mesma coisa.

Isso confirma minha teoria de que o voto masculino antecipa tendência, porque as mulheres costumam se interessar pelos candidatos em datas mais próximas às eleições, e tendem a votar conforme sua classe social.

A teoria não é boa para o campo progressista, porque sinaliza que Bolsonaro pode estar mais forte do que parece. No último Ibope nacional, por exemplo, Bolsonaro tem 24% entre homens e 10% entre mulheres (cenário sem Lula).

Segundo essa teoria, Marina Silva, por sua vez, tenderia a cair. No Ibope nacional, Marina tem 10% entre homens, empatada com Ciro, que tem 9%.

No último Datafolha (nacional), Ciro e Marina estão empatados com 12% entre homens, bem consolidados num segundo lugar; Alckmin tem apenas 7% entre homens, na mesma pesquisa. Ainda no Datafolha, Bolsonaro tem 26% entre homens…

 

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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