Ciro vai bem no JN, mas erra ao não bater na Lava Jato

Foto: André Carvalho/CNI.

Assisti na íntegra a entrevista do presidenciável Ciro Gomes ao Jornal Nacional.

No geral, ele foi muito bem. O domínio sobre a economia do país que Gomes tem é muito bom e o ajuda a passar uma imagem do político que sabe resolver, uma boa tática para contrapor o discurso apolítico que afunda o país numa baita crise de identidade.

Contudo, há, ainda, uma pequena falha no discurso do Ciro que, ao meu ver, foi responsável pelo o único tropeço que o presidenciável cometeu. Ciro titubeou ao ser confrontado com o moralismo barato (e vagabundo) do William Bonner e isso pode custar caro para sua campanha e, principalmente, para sua trajetória pessoal.

Ciro pareceu, por um momento pequeno, nas cordas por causa de um ação que coloca o presidente do PDT, Carlos Lupi, como réu no Distrito Federal.

É muito óbvio que a postura de Bonner frente a Lupi é antidemocrática e, diria mais, desumana. Quem assiste a fala do global, sai com a impressão que o pedetista é mesmo culpando, quando, na verdade, ele ainda vai ser julgado em três instâncias! Presunção da inocência é um direito humano básico e não pode ser deixado de lado.

Esse tipo de moralismo barato tem matado a política nacional. Todas as instituições que fazem política com o voto – como legislativo e executivo – foram atingidas por esse tribunal jurídico-midiático. Já a burocracia, como Judiciário e o próprio MP, apesar de participarem ativamente do Estado, saíram ilesos desse furacão.

É muita ingenuidade acreditar que isso seja coincidência. O discurso duro “contra a corrupção” é encampado, principalmente, pela mídia e pelo judiciário, montando um trator de assassinato de reputações que só aponta para quem incomoda o establishment (Não à toa Bolsonaro tá apanhando igual cachorro sem dono da mídia) e vira uma valiosa arma política.

Não tem outra saída para quem acredita na recuperação do país sem o enfrentamento direto a essa cultura nefasta da criminalização da democracia. E, para isso, a Lava Jato deve ser fortemente debatida e confrontada.

Ainda sobre a entrevista, Ciro, infelizmente, bebeu um pouco da água do falso moralismo. Renata Vasconcelos quase gritou de alegria com a confirmação de que “Lula sabia de tudo”.  Em outro momento, Gomes avançou um pouco e disse que a Lava-Jato é torta pois não tem nenhum tucano preso. Isso é uma verdade, mas está longe de ser a principal causa do problema.

Não se pode deixar de lado, por exemplo, o próprio judiciário e a mídia do escopo da operação capitaneada porSérgio Moro. Segundo a operação sensação do país, os empresários compram políticos, que podem perder mandato, mas não compram juízes, praticamente vitalícios no cargo. Sei.

Além disso, há ainda, pelos menos, mais dois erros na abordagem de Gomes sobre a Lava Jato: 1) relembrar que a operação só foi alimentada para viabilizar um Golpe de Estado no país e implantar uma agenda neoliberal e 2) demonstrar a verdade sobre o impacto da Lava-Jato no setor produtivo do país, um dos pilares do plano de governo Pedetista.

Claro, Ciro não é nenhum revolucionário raiz. Ele tá prometendo um tipo de enfrentamento impossível de se fazer sem as massas ou sem a força bruta do Estado, portanto, é natural que ele tenha uma postura cautelosa com um tema de apelo popular de tamanha dimensão.

Entretanto, Gomes vem construindo uma musculatura de longo prazo e ainda tem muita vida política pela frente e pode, se quiser, estar na vanguarda do combate ao que se chama de “ditadura jurídico-midiática”. Não precisamos ir muito longe para vermos exemplos recentes de posições erradas custando alto no médio prazo. Marina que o diga, afinal, se ela tivesse uma posição melhor frente as eleições de 2014 e o Golpe, essa eleição cairia no colo dela.

Por fim, vale ressaltar, que Lula já fez a parte dele, amarga quatro meses na prisão por isso (todos sabem que se Lula desistir da disputa é solto no dia seguinte). Ciro precisa apresentar a cota dele sobre esse tema, sob o risco de não ser reconhecido pelos seguidores lulistas como futuro herdeiro do legado do ex-presidente, fato que pode acontecer em Outubro próximo ou em 1, 2 ou 5 anos.

 

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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