Será Lula maior que as eleições?

Foto: Ricardo Stuckert

Primeiramente, destaco que tenho certa percepção que “fulanizar” processos sociais tão complexos é bem perigoso. Além disso, comparar uma pessoa com o pleito mais importante de uma democracia pode parecer descabido. Contudo, nesse momento, penso que são assuntos tão interligados que permitem a comparação.

Até mesmo por isso, o título é uma reflexão e não uma afirmação. Confesso que gostaria de afirmar que Lula é maior, mas, obviamente, seria apostar alto demais num assunto que levará anos e anos de estudo.

Mas vamos ao assunto.

Começo argumentando que Lula não é maior que o país ou que a própria conjuntura. O presidente é uma grande figura política, de fato, mas que ainda está em formação na história. Penso, por exemplo, que ainda demanda tempo para que sabermos se Lula será, ou não, maior que Vargas.

Mas fato é que as eleições se apequenaram de tal forma depois do Golpe que a população parece ter desacreditado efetivamente que algo vai mudar com as urnas e, por isso, abandona o interesse pelo pleito.

E, claro, interesse é crucial para importância de determinado tema.

Soma-se isso ao fato de as campanhas experimentarem o menor valor de recursos financeiros dos últimos anos e uma legislação cheia de dúvidas. Essa dificuldade, certamente, atrapalha na publicidade e no alcance das eleições. É notório que o Brasil vive o clima eleitoral mais “morno” dos últimos anos.

Bom, se o assunto eleições estão em baixa, o tema Lula está em alta, há muito tempo.

Lula tem grande destaque na grande mídia, na história recente, desde 2005 com o escândalo do mensalão que assombrou o PT até março de 2014, quando Barbosa finalizou a AP 470. No mesmo ano, começou a Lava Jato e o pesadelo golpista começou a tomar forma, de novo, surfando no antipetismo ensandecido. Ou seja, mais de uma década de ataques incessantes de uma das mídias mais concentradas do mundo.

Portanto, para o bem ou  para o mal, Lula e o PT foram os personagens centrais por anos e anos da política brasileira. Todo mundo, amando-os ou odiando-os, sabe quem eles são e o que eles fizeram.

Considerando que, atualmente, o antipetismo se concentra no antilulismo (ataques concentrados no candidato), veremos que a disputa que o país vive gira, na verdade, em torno de uma polarização entre Lula e um anti-Lula (hoje, Bolsonaro).

Enfim, as centenas de capas da Veja contra o presidente, os milhares de minutos no Jornal Nacional fez o Brasil inteiro debater, durante anos, o presidente. Quando o assunto é Lula todo mundo tem algo a dizer com alguma (boa) dose de paixão.

Por isso o assunto Lula faz tanto sucesso e é difícil de silenciar, como quis fazer parte da mídia.

Vejam que, faltando cinco semanas para a eleição, por exemplo, tema ONU foi amplamente debatido e parece gerar mais atenção que temas tradicionalmente polêmicos em época de eleição. Um julgamento do TSE pelo Facebook parece ganhar mais destaque que entrevista de presidenciável na TV em horário nobre.

Bom, a história nos dará, algum dia, essa resposta. Mas uma pista muito boa poderá vir já no resultado do primeiro turno: se Lula conseguir transferir voto para seu candidato, hoje o Haddad, terá sacramentado sua grandeza.

 

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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