Rússia, China e Venezuela no caminho da integração

O processo de integração entre China, Rússia e Venezuela segue em proporção exponencial as sanções impetradas pelos Estados Unidos contra estas nações. Mas nesta equação existe uma força ainda mais indutora, que se apresenta com o crescente êxito que as companhias chinesas e russas tem logrado com investimento no país sul-americano. Na nação de Bolívar, existe uma repleta gama de riquezas, como a maior reserva de petróleo do mundo, a segunda reserva de gás da América, e enormes quantidades de ouro e coltan.

Nesta seara, o modelo dos gigantes asiáticos produziu resultados para seus setores comerciais impulsionando as decisões políticas. Desta forma os conglomerados russos e chineses, formados com capitais conjuntos do Estado e do setor privado, se postam a exercer cada vez mais pressão sobre a formulação destas políticas que levem de encontro à aliança com a Venezuela.

Nas últimas duas décadas, as corporações multinacionais russas e chinesas, muitas delas cheias de dinheiro, tornaram-se poderosas ferramentas de política externa para seus respectivos regimes. Mas uma vez eles se viam como forças modernizadoras que ajudariam a abrir negócios e campos em outras sociedades.

É necessário destacar o protagonismo das gigantes de energia como a Gazprom e Rosneft, que são indutoras de capitais gerando valores para Rússia e uma função de atração as ex-nações soviéticas. Essas empresas garantiram a influência russa na geopolítica regional, tanto melhor para o período pós-soviético.

Da mesma forma, na China durante as presidências de Jiang Zemin (1993-2003) e Hu Jintao (2003-2013), ampliou-se a rede financeira e de crédito, como o Banco Industrial e Comercial da China e o Banco Agrícola da China, bem como do setor de energia e da indústria pesada. Empresas como a Sinopec, a Sinochem e a Railway Construction Corporation da China foram consideradas precursoras da modernização.

No entanto, atualmente , seria impróprio confundir as práticas destas companhias chinesas em patamar de equivalência de uma Exxon-Mobil ou uma Microsoft, em relação aos Estados Unidos. Em verdade se no caso da nação americana os altos executivos costumam se infiltrar diretamente para a sala de reuniões do gabinete político, as megacorporações chinesas representam há muito tempo uma fusão de empresas e do Estado refletindo um interesse comum aos dois campos.

Além disso, como a Gazprom, a Rosneft e as gigantes tecnológicas chinesas ZTE e Huawei se tornaram mais essenciais para seus respectivos governos, os interesses comerciais e estatais tornaram-se ainda mais difíceis de desvencilhar. No cuidado com seus “campeões nacionais”, os governos da Rússia e da China parecem estar seguindo políticas que comungam políticas do Estado, que em muito beneficiam resultados econômicos.

Diante deste contexto, uma conjunção de interesses beneficia uma dinâmica de integrar objetivos comuns a Venezuela e os dois asiáticos. Por meio de sua afiliação com o monopólio estatal de petróleo da Venezuela, a Petróleos de Venezuela (PDVSA), a Rosneft canalizou mais de 17 bilhões de dólares em empréstimos ao governo caribenho durante a última década. Enquanto isso, a Rosneft ganhou três milhões de toneladas de petróleo em 2017 de suas operações na Venezuela. Em geral, a Rússia investiu em muitas indústrias venezuelanas, do setor bancário à montagem de ônibus. Ao mesmo tempo, a Venezuela tem sido um dos maiores compradores de armas russas entre os países da América Latina.

Em contra partida, Rússia tem ganhado áreas de exploração mineral com grande produtividade.É neste conjunto de ideias que a Rússia aloca sua ajustada estratégica. Desta forma as negociações próximas à Caracas garantem ganhos de mão dupla, lucro e investimento. O país asiático conseguiu negociar a sua participação no ‘Arco Minero’, uma área de 114.000 quilômetros quadrados, com riqueza mineral, localizado a sudeste do Estado Bolívar, onde estima-se que existam 7.000 toneladas de reservas de ouro, cobre, diamantes, coltan, ferro, bauxita e outros minerais.

Devido a esses créditos e outros laços econômicos, Putin segue no sentido de apoiar Nicolás Maduro, assim como refutar em público qualquer intervenções estrangeiras na Venezuela. Os interesses da Rosneft na Venezuela são simplesmente muito profundos para se retirar, especialmente com as sanções ocidentais que tentam golpear não só o país caribenho mas os dois asiáticos.

Em termos monetários, a China, que tem investimentos na Venezuela estimados em cerca de US $ 60 bilhões, pelo menos três vezes mais que a Rússia. A aproximação, ainda nos primeiros anos do século,permitiu a China uma fonte estratégica de petróleo que garantiu suas altas taxas de crescimento, e muito necessária para sua economia em rápido crescimento de demanda por energia. Chávez por conseguinte conseguiu reduzir, naquele momento, a dependência da Venezuela dos Estados Unidos como um de seus principais mercados de exportação. Em nossos dias, os gigantes tecnológicos chineses ajudaram o regime de Maduro em seus esforços de vigilância interna e (como a Rússia), a China vendeu armas caras à Venezuela.

Este conjunto de fatos sugere que se China mantém uma aliança estratégica com a Venezuela, e deixa para a Rússia posições mais radicais na crise com os EUA. O Kremlin, de fato, está competindo ativamente com os estadunidenses, descreveu a tentativa da entrega das supostas ajuda humanitária através da fronteira, como ato que visava contrabandear armas para a oposição.

A China, estrategicamente, utiliza uma postura mais moderada devido as suas negociações comerciais em curso com os Estados Unidos. Antes de estender seu prazo para impor tarifas mais altas às importações chinesas, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que a Huawei e a ZTE poderiam estar inseridas nos termos do acerto comercial sino-americano. Isso certamente agradaria Xi Jinping. O porte destes conglomerados em muito pesam no processo de desenvolvimento chinês e por conseguinte se valem do interesse do Estado em protege-las. Com a capacidade de impedir que empresas norte-americanas vendam insumos cruciais para empresas chinesas, a administração Trump poderia causar sérios danos à ZTE e à Huawei.

O resultado mostra que tudo está conectado. Os conglomerados nacionais russos e chineses com capital estatal e privado são os responsáveis pelo peso do desenvolvimento destes países num mundo globalizado. Em verdade, se no primeiro momento eram interesses geopolíticos das nações asiáticas, a história do tempo presente da Venezuela e a rentabilidade das companhias russas e chinesas apontaram para um paradigma de integração tanto no político,como no econômico. Neste caminho a Venezuela já vende seu petróleo em Yuan, e se encaminham tratativas para o comércio utilizar moedas nacionais, excluindo o dólar.

Em muito, a insensatez estadunidense de transformar ações pontuais de sanções em política recorrente, permitiu uma reunião de países no campo oposto à sua demanda. O modus operandi da Rússia e China lança um olhar que demostra o quanto é viável para potencias mundiais desenvolverem seus interesses respeitando a soberania da outa nação, neste sentido a paz agradece.

Tulio Ribeiro: Túlio Ribeiro é graduado em Ciências econômicas pela UFBA,pós graduado em História Contemporânea pela IUPERJ,Mestre em História Social pela USS-RJ e doutorando em ¨Ciências para Desarrollo Estrategico¨ pela UBV de Caracas -Venezuela
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