A Abreu e Lima e o lavajatismo crônico da Folha

Confesso que estou cansado dessa polarização destrutiva, este embate estéril, entre a luta contra a corrupção e a preservação do Estado democrático de Direito.

Os internautas conhecem minha opinião, exposta em centenas de artigos nos quais venho denunciando, desde 2004, o avanço do sistema de justiça sobre a política, sempre com a cumplicidade dos governos petistas, que acharam que poderiam comprar, através de concessões infinitas, o apoio do truculento corporativismo das instituições repressivas do Estado.

É preciso, no entanto, encontrar uma abordagem e uma semântica novas para resolvermos esse impasse, uma solução de equilíbrio e bom senso.

A grande imprensa nacional, extremamente conservadora desde sua origem, apoiadora de todos os golpes antidemocráticos que vitimaram ou tentaram vitimar nosso país, em 1954, 1961, 1964 e 2016, hoje vive hoje o desafio – e os riscos – de enfrentar um governo de extrema-direita que, a partir de seu próprio radicalismo, a considera “esquerdista”.

A Folha informa hoje que a CVM encontrou indícios de que “a ex-presidente da Petrobras Graça Foster interferiu indevidamente nos trabalhos da Comissão Interna de Investigação (CIA) da estatal, criada para apurar irregularidades nos investimentos na construção da Refinaria Abreu e Lima”.

Logo no início, a reportagem lembra um antigo factoide lavajatista: “a partir de 2009, quando o projeto da refinaria passou para a fase de execução, a previsão de custo da mesma mais que triplicou em dois anos, de US$ 4,1 bilhões para US$ 13,3 bilhões.”

Ora, a Folha omite um fato essencial para explicar o aumento do custo do projeto: a descoberta do pré-sal, que ocorreu em 2006, mas cuja confirmação se deu nos anos seguintes, ou seja, depois do projeto inicial da refinaria. Com isso, o projeto da Abreu e Lima foi modificado, para preparar o país para refinar o novo petróleo que seria retirado das camadas do pré-sal.

Por isso, os custos aumentaram. Porque se resolveu fazer uma refinaria maior.

E aí, no meio da matéria, encontro mais uma informação bizarra:

Em depoimento, o diretor Pedro Barusco chegou a classificar o projeto como “uma burrice”, o chamando de “programa de aumento de custo”.

Ora, a troco de que a Folha de São Paulo dá crédito a uma opinião completamente apócrifa, descontextualizada, de um ladrão confesso da estatal, e que admitiu que roubava há décadas dentro da empresa, sem nunca ter sido flagrado pela polícia federal ou ministério público, só o foi quando estes ganharam autonomia e força nos governos petistas?

Em nenhum momento da matéria, o jornal menciona o fato de que o Brasil, em toda a sua história moderna, sempre foi profundamente deficitário em derivados de petróleo, e que isso sempre consistiu num dos maiores entraves a nosso desenvolvimento.

Até hoje, o principal item de importação do Brasil são derivados de petróleo, a maior parte comprados de refinarias norte-americanas.

Nos últimos 12 meses, importamos mais de US$ 6 bilhões em óleo diesel, sendo que 84% veio dos Estados Unidos.

A matéria também não tem a decência de informar que a Abreu e Lima efetivamente produz derivados, e assim ajuda ao país a abastecer seus caminhões, suas fábricas, suas usinas termoelétricas.

A capacidade de processamento da Abreu e Lima é de 230 mil barris de petróleo por dia, e o seu foco (70%) é justamente o óleo diesel.

Essa informação é até fácil de encontrar no site da Petrobras. Mas faltam ainda informações sobre o faturamento da refinaria, o número de empregos diretos e indiretos gerados, e qual o impacto positivo que ela tem na redução do déficit de nossa balança comercial de petróleo.

Sem essas informações, os brasileiros que consomem a imprensa comercial associam a Abreu e Lima apenas às eventuais irregularidades que tenham sido cometidas em sua construção.

A imprensa e seus leitores ficam reféns de uma visão asfixiantemente burocrática, jurídica, da maior refinaria do país!

Isso sim é burrice!

Como o consumidor tem uma relação apenas indireta com a refinaria, ou seja, ele não a vê em seu dia a dia, então não se forma, na opinião pública, a consciência de sua importância estratégica para a soberania energética do país.

Vale dizer que os governos petistas tem culpa disso, porque esnobaram justamente aquilo que é mais importante para a estabilidade de uma nação, no médio e longo prazo: um sistema de comunicação e cultura que permita a consolidação de uma consciência política minimamente bem informada. O erro começou já nos governos Lula, mas se agravou muito na era Dilma, quando o boom das commodities refluiu. Graça Foster, a presidente da Petrobras nomeada por Dilma, interrompeu qualquer processo de comunicação da estatal. Eu ouvia, na época, protestos de petroleiros indignados com o fato da presidência da estatal censurar até mesmo a circulação de notícias factuais da empresa entre os próprios funcionários. Graça Foster, seguindo uma orientação geral da presidente Dilma, fez o jogo da grande mídia: comunicação zero.

Essa falta de comunicação, somada ao aumento das dificuldades econômicas, foi um dos adubos para a eclosão das “jornadas de junho” de 2013, cuja interpretação hoje é vista, oportunisticamente, apenas como uma “conspiração internacional”.

Até acredito que os serviços de inteligência estrangeiros, somados a interesses comerciais muito evidentes das grandes corporações privadas, tenham aproveitado a ocasião para iniciarem uma campanha clandestina de desestabilização do governo brasileiro. Se quisermos encontrar uma recompensa financeira para isso, basta olharmos para o aumento brutal das importações de óleo diesel dos Estados Unidos.

Mas que o imperialismo adota práticas imperialistas não deveria ser surpresa para ninguém.

Que a Folha de São Paulo, assim como toda a grande imprensa nacional, se mantenha fiel ao imperialismo que paga sua publicidade, também não me surpreende.

O que me impressiona é que essa estupidez jornalística, esse lavajatismo vulgar, ainda tenha receptividade na opinião pública brasileira, depois de tudo que aconteceu.

Publicar uma reportagem em que a única opinião sobre uma das primeiras refinarias construídas no país após décadas de ausência total de investimento no setor, vem de um bandido como Pedro Barusco, é demais!

Redação:
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