Aço brasileiro, atacado por Trump, corresponde a 53% das exportações brasileiras de manufaturados

Os brasileiros tomaram um susto hoje pela manhã com um tweet bastante agressivo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no qual ele trata a intensa desvalorização do Real ocorrida nas últimas semanas, e que nos prejudica fortemente do jeito que aconteceu, como uma “esperteza” nossa que deveria ser punida.

Para Trump, o Brasil desvalorizou sua moeda para beneficiar nossos exportadores de commodities, em especial do agronegócio, prejudicando os produtores rurais norte-americanos, que competem conosco nos mercados de carnes, algodão e soja, entre outros.

Não botemos panos quentes. A sobretaxa ao aço brasileiro é uma retaliação, um ato profundamente hostil, quase de guerra comercial, contra o Brasil, e baseado numa mentira.

Com a decisão do presidente Trump de voltar a taxar em 25% o aço brasileiro  (os EUA tinham tomado essa decisão em março do ano passado, mas depois recuaram) perdemos duplamente: de um lado, com a desvalorização cambial em si; de outro, com a perda de competitividade do nosso aço junto a um  mercado estratégico.

A desvalorização cambial, que eleva preços de bens essenciais atrelados ao dólar, como o pão, o diesel e a gasolina, não foi causada por nenhum ato calculado do governo. Muito pelo contrário. É fruto antes da incompetência federal, que não está tomando nenhuma medida para conter a deterioração das nossas contas externas, como mostra o gráfico abaixo, do Banco Central, sobre as transações correntes, um dos principais indicadores do balanço de pagamentos.

Entretanto, a desvalorização poderia, de fato, nos trazer algum ganho de competitividade, em especial para o principal manufaturado brasileiro de exportação, o aço. Com a decisão de Trump, todavia, essa vantagem se esfuma.

Recapitulando:

  1. o aço é o nosso mais importante produto manufaturado de exportação. De janeiro a outubro de 2019, exportamos US$ 9 bilhões em aço, mais US$ 1,2 bilhão em obras de aço, o que corresponde, somadas as duas categorias, a 53% de todas as exportações brasileiras de manufaturados.
  2. Os Estados Unidos são o principal comprador do aço brasileiro.

No acumulado dos últimos 12 meses Nov/Out, o Brasil exportou US$ 11,4 bilhões em ferro e aço. Apenas os EUA importaram, no mesmo período, US$ 3,8 bilhões em aço brasileiro, ou 33% de todo aço exportado pelo Brasil. A propósito, as exportações brasileiras de aço, puxadas sobretudo pela demanda americana, vem batendo recordes nos dois últimos anos.

A decisão de Trump representa, obviamente, um duro golpe contra a balança comercial brasileira e se trata de uma medida protecionista, inimiga do livre comércio, o que desmoraliza a filosofia neoliberal do governo. Também significa uma humilhação diplomática muito grande do presidente Jair Bolsonaro, que vem fazendo uma série de concessões unilaterais aos Estados Unidos, que, por sua vez, tem retribuído com intermináveis facadas nas costas do Brasil.

Por que Trump resolveu taxar o aço brasileiro?

A tabela abaixo, retirada do último relatório anual da Associação Mundial de Aço, mostra que os Estados Unidos estão entre os principais produtores mundiais de aço, o que aumenta as suspeitas de que o governo americano apenas buscou um pretexto qualquer para proteger sua própria indústria siderúrgica.

É curioso notar que o Japão, que não tem uma jazida de minério de ferro (matéria-prima do aço), é o terceiro maior produtor mundial de aço, à frente dos EUA, que está em quarto lugar.

O Brasil ocupa a nona posição, mas como é um dos principais fornecedores para os EUA, é considerado o principal competidor da indústria americana de aço.

Apesar de grandes produtores, os EUA tem uma demanda interna tão grande que também são os principais importadores mundiais líquidos de aço.

Na tabela dos principais exportadores líquidos (exportação menos importação) de aço, o Brasil figura em sexto lugar, depois de China, Japão, Rússia, Coréia do Sul e Ucrânia.

Redação:
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