Rib: Nelson Marconi fala sobre os reflexos da desindustrialização no emprego

Nesta quarta-feira, 16, o economista Nelson Marconi, publicou na sua coluna no site A Revolução Industrial Brasileira, do jornalista Fausto Oliveira, um texto sobre os efeitos da desindustrialização no emprego.

Leia o texto completo na íntegra.

Desindustrialização e seus reflexos no emprego

Por Nelson Marconi

O processo de desenvolvimento econômico da ampla maioria dos países que constituíram sociedades urbanas com bom padrão de bem estar social tem um elemento em comum: ao longo do tempo, reduz-se a participação econômica de seus setores primários através de uma industrialização; e numa etapa posterior, surgem os serviços modernos, que passam a operar conjuntamente à manufatura.

No Brasil, observamos um processo inverso. Por aqui, acontece uma reprimarização da nossa economia, ao mesmo tempo em que cresce a participação dos chamados serviços tradicionais. E embora seja verdade que os serviços modernos também cresçam no Brasil, sem uma indústria potente que lhe demande com mais intensidade, eles ficam sem fôlego para produzir o crescimento de longo prazo.

São muitas as razões pelas quais um país ainda não desenvolvido, como o Brasil, deveria praticar uma política econômica favorável à manufatura. Entre elas podemos apontar: a) uma elevada correlação entre o grau de industrialização e os níveis de renda per capita em países em desenvolvimento; b) a taxa de crescimento da produtividade na indústria é maior que nos demais setores; c) ela oferece maiores oportunidades de acumulação do capital; d) ela propicia o surgimento de economias de escala; e) avanços tecnológicos; f) maiores encadeamentos produtivos (efeitos para trás e para frente ao longo da cadeia produtiva) e efeitos da disseminação de tecnologia e conhecimento (os chamados spillovers).

Entretanto, gostaria de destacar neste breve texto o impacto que a manufatura exerce sobre o emprego, numa sociedade como a brasileira. Por ser um setor que exibe uma produtividade (mensurada como valor adicionado por trabalhador) próxima da média agregada, a indústria consegue também praticar remunerações similares à média da economia. Além disso, sua participação no quadro geral de empregos tende a ser muito considerável, o que historicamente possibilitou o surgimento de uma classe média urbana onde ela se desenvolveu.  

Parte do nosso desempenho econômico atualmente pífio é fruto da desindustrialização e seu impacto negativo sobre a qualidade do emprego no país. Dados do IBGE mostram que, a partir de 1995 (quando se iniciou a atual metodologia de contagem) há uma clara redução da indústria de transformação na economia, que hoje responde por cerca de 11,8% do valor adicionado (média do período de 2015 a 2019). Enquanto isso, a agropecuária e os serviços mantiveram participação estável, sendo que entre os serviços predominam os chamados serviços tradicionais, não sofisticados. Já os serviços financeiros e de informação aumentaram sua participação. Assim, a estrutura produtiva caminha na direção contrária à costumeiramente observada durante o processo de desenvolvimento econômico.

Alguém poderia argumentar que esta transição é natural da nossa época e que o quadro geral de empregos não está mal devido ao crescimento de participação dos serviços modernos. Porém, uma análise dos dados do IBGE sobre o emprego por setor da economia nos mostrará que os serviços mais sofisticados só empregam 2,5% do total de ocupados. Já os chamados “outros serviços”, que são tradicionais, menos produtivos e em geral mal remunerados, participam com cerca de 30,3% (média de 2015-2019).

Portanto, um dos efeitos mais prejudiciais da desindustrialização é a geração proporcionalmente maior de empregos de baixa qualidade em setores que empregam muito. Ao mesmo tempo, aumentou a quantidade de empregos em setores de alta qualidade, mas que empregam pouco em função de que não há mais um tecido industrial relevante que lhe estimule a crescer.

E assim, aumenta a desigualdade no mercado de trabalho, e por consequência eleva-se a desigualdade de renda. Isto se constitui num novo problema estrutural da economia brasileira. A classe média, cujo crescimento foi propiciado pela industrialização, está encolhendo em função da desindustrialização

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