Ventos de soberania popular sopram pela América Latina. Que nos inspirem a lutar!

Por Leonardo Aragão

As duas últimas semanas registraram dois eventos com potencial de serem marcos para a abertura de uma segunda onda (para usar a palavra do momento) de governos progressistas na América Latina.

A vitória de Luis Arce na Bolívia, retomando um governo do MAS após o golpe contra Evo Morales em novembro de 2019 e o recado forte do povo chileno de que deseja uma nova Assembleia Constituinte para enterrar definitivamente o entulho ditatorial pinochetista. Esses dois fatos históricos são inspirações para toda a América Latina.

Agora as atenções se voltam aos EUA e sua eleição que será finalizada dentro de duas semanas. Não tenhamos falsas ilusões quanto ao que representa Joe Biden. É uma figura de vocação imperialista e que promoverá suas guerras e criará inimigos por conveniência, no entanto, é central na conjuntura mundial que o Partido Democrata derrote Donald Trump por tudo que significa.

Afinal de contas, foi a eleição de Trump que serviu de inspiração filosófica e anímica para que grupos de extrema direita ampliassem sua organização e conquistassem cadeiras em parlamentos mundo afora, sobretudo na Europa, e obtivessem o comando do Estado em alguns países, como no caso do Brasil, da Itália e da Hungria.

A rejeição a um presidente eleito, que não ocorre há 30 anos nos EUA, será uma marca de fracasso histórico desse campo e um sintoma de como onde a extrema direita passa, deixa um largo rastro de destruição, pobreza e ódio.

Os resultados eleitorais da Bolívia e do plebiscito chileno nos dão, além de esperança, lições. Não há vitória política sem ampla mobilização, e mesmo durante a pandemia é possível animar as massas.

O MAS, partido de Evo Morales, golpeado em 2019 e que agora elege Luis Arce, nunca perdeu apoio popular e sempre manteve conectado às demandas sociais da população. Não estava acossado por denúncias de corrupção e a rejeição aos políticos do partido sempre foi muito baixa, as pesquisas durante a campanha atestam esses fatos.

Tampouco podemos acusar um complô midiático como responsável por todos os males que nos acometem. Evo sofreu um golpe e tanto ele como seu partido sofreram todo tipo de linchamento possível da imprensa tradicional boliviana atrelada às elites do país, e um ano depois a população deu a resposta aos golpistas nas urnas.

A Argentina viveu processo semelhante, em um processo de singular habilidade política liderado por Alberto Fernández e Cristina Kirchner, que encerrou um ciclo de 4 anos de um governo neoliberal que provocou estragos por lá, com a esquerda atacada diariamente sem cessar. 

Para nós brasileiros, às voltas com o presidente mais autoritário do continente desde o fim das ditaduras sul-americanas e cuja popularidade segue estável, credenciando-o à reeleição, é urgente promover mudanças na prática política e fincar o pé na realidade.

O Brasil precisa construir urgentemente a superação de personalismos e construir um Projeto Nacional de Desenvolvimento que supere o cenário de terra arrasada de Bolsonaro e reconstrua as instituições e as relações entre os Três Poderes tendo a soberania como eixo central no país. 

Ter o que dizer e mostrar perspectivas e um projeto nítido de desenvolvimento econômico, geração de renda e emprego, trazendo ao nosso povo, além das discussões de quem será o candidato por partido X ou Y, qual a alternativa diante da aventura bolsonarista de destruição nacional, assegurando os direitos sociais e humanos de toda a população. 

Os bolivianos, por exemplo, viviam um momento de crescimento econômico e um cenário de baixo desemprego. Os chilenos conquistaram a oportunidade de escreverem uma nova Constituição com paridade entre os futuros constituintes, um avanço histórico na luta por igualdade entre homens e mulheres no país. 

Esperança é importante, e os episódios na Bolívia e Chile nos inspiram, mas o que os brasileiros que se intitulam de esquerda podem oferecer concretamente ao nosso povo? A resposta a essa pergunta definirá o que podemos esperar para o Brasil na próxima década. 

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