Análise: o desafio de vencer Eduardo Paes no segundo turno

O relatório completo da última pesquisa Datafolha trouxe uma ligeira recuperação de Marcelo Crivella, que naturalmente traz preocupações às chapas de oposição ao prefeito, especialmente de Martha Rocha (PDT), a qual vinha apresentando crescimento consistente nas últimas semanas, e, desta vez, ficou estagnada.

Segundo a pesquisa, Paes lidera com 31% (alta de 3 pontos sobre pesquisa da semana anterior), seguido de Crivella (alta de 2 pontos) e Martha Rocha (que ficou parada). Benedita da Silva perdeu dois pontos e aparentemente se afasta – ao menos por enquanto – da possiblidade de conquistar uma vaga no segundo turno.

Um dado preocupante para a campanha de Martha é que, segundo a pesquisa, o seu principal adversário, Eduardo Paes, começou a herdar o voto de Crivella, em especial no segundo turno. Parece ter havido uma mudança no cenário, talvez em virtude da sinalização de Bolsonaro em favor de Paes.

Segundo a pesquisa, herdaria 28% dos votos de Crivella, casos estes decidissem não mais votar no prefeito, ao passo que Martha ficaria com 18% desses votos. Benedita herda apenas 2% dos votos de Crivella, o que é mais uma sinalização de sua pouca competitividade num eventual segundo turno.

Por outro lado, é provável que o eleitor de Crivella que poderia migrar para Paes seja o menos dispostos a fazê-lo.

Outro desafio de Martha Rocha é ampliar o percentual de eleitores de Benedita dispostos a migrar para a sua candidatura. No momento, uma boa parte (21%) dos eleitores da petista migrariam para a candiatura de Eduardo Paes, bem mais do que os 12% dispostos a votar em Martha Rocha.

Um ponto interessante da pesquisa é que, pela primeira vez, o PDT de Martha Rocha apresenta pontuação relevante entre os partidos preferidos dos eleitores, embora ainda muito longe do PT, líder nesse quesito. Segundo o Datafolha, 3% dos entrevistados mencionaram o PDT como seu partido de preferência, contra 10% do PT e 4% do PSOL.

Isso significa que os três partidos mais preferidos pelos cariocas estão no campo da esquerda  O PDT ainda supera numericamente o PSOL entre as faixas de renda até 2 salários e de 2 a 5 salários, entre os quais tem 3% e 4% das preferências. O PSOL é o maior partido entre eleitores com renda familiar acima de 10 salarios, entre os quais tem 13% das preferências, contra 9% do PT e apenas 1% do PDT.

Na tabela estratificada da pesquisa estimulada, destacamos alguns pontos:

  • entre homens, Martha Rocha já tem 16%, empatada com Crivella, que tem o mesmo percentual. Benedita tem a metade disso. Isso é um bom sinal para Martha, porque tradicionalmente o eleitor masculino escolhe antes seu candidato.
  • Entre mulheres, Martha Rocha tem apenas 10%, contra 15% de Crivella.
  • Martha tem desempenho equilibrado em todas as faixas etárias., com 11% a 14%; diferente de Benedita, que vai mal entre eleitores com mais de 60, entre os quais pontuou apenas 5%.
  • O ponto fraco de Martha está entre eleitores menos instruídos, com até o ensino fundamental, entre os quais ela pontua apenas 9%, empatada com Benedita, e muito atrás dos 19% de Crivella, ou dos 35% de Paes.
  • Entre eleitores com ensino superior, Martha pontua 15%, contra 12% de Crivella e 9% de Benedita.
  • Na divisão por renda, o melhor desempenho de Martha está entre eleitores com renda entre 2 e 5 salários, e acima de 10 salários, o que também é um bom sinal: a candidata cresce por baixo e por cima.

Na pesquisa de rejeição, chama a atenção os altíssimos percentuais de Crivella, o que praticamente o inviabiliza no segundo turno, embora não necessariamente no primeiro turno.

Segundo o Datafolha, Crivella tem 57% de rejeição, percentual que sobe para acima de 60% entre eleitores com renda familiar acima de 2 salários.

Eduardo Paes tem uma rejeição no limite do que seria perigoso para ele, 33%. Mais que isso, poderia inviabilizar sua candidatura no segundo turno; mas vale destacar que, entre eleitores homens, a rejeição a Paes chega a 38%, entre jovens de 25 a 34 anos, atinge 42%; e – o que parece ser o mais danoso para sua candidatura – entre eleitores evangélicos, 45% disseram que não “votariam de jeito nenhum” em Eduardo Paes.

Benedita tem rejeição total de 30%; o que não seria considerada muito alta, se ela não tivesse apenas 8% das intenções de voto. Entre eleitores de 45 a 59 anos, Benedita tem rejeição de 36%. Uma curiosidade: entre eleitores que se declararam espíritas ou kardecistas, a petista em rejeição alta, de 43%.

Matha Rocha mantém rejeição baixa em todos os estratos.

Nos cenários de segundo turno, Eduardo Paes ampliou sua vantagem sobre Benedita, que agora é de 21 pontos, e conseguiu reverter a desvantagem que tinha com Martha Rocha, que chegou a ultrapassá-lo na pesquisa anterior, mas hoje fica 6 pontos atrás.

Na análise dos números estratificados dos cenários de segundo turno, chama a atenção a vantagem de Martha Rocha sobre Eduardo Paes junto a diversos estratos importantes: eleitores evangélicos, homens, jovens até 24 anos, jovens de 35 a 44 anos, eleitores com ensino médio, e famílias de baixa renda.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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