Tulio Gadelha acusa campanha de João Campos mas é desmentido por seu próprio chefe de gabinete

Diz o ditado que a política adora a traição mas abomina o traidor.

As eleições em Recife nos permitirão observar se a frase é verdadeira ou não.

Vamos contar a história a partir dos últimos acontecimentos.

Nesta noite de domingo, o deputado federal Tulio Gadelha (PDT-PE) fez uma denúncia cabeluda em seu twitter.

Em resumo, ele acusou o coordenador da campanha de João Campos, candidato do PSB à prefeitura de Recife,  de entrar em contato com seu chefe de gabinete para tentar comprar seu “silêncio”.

É uma acusação gravíssima, com potencial de destruir a reputação dos envolvidos, e manchar a campanha de João Campos.

Entretanto, horas depois, o próprio chefe de gabinete de Tulio Gadelha, o jovem Rafael Bezerra, veio à público desmentir categoricamente a informação. Bezerra disse que o fato relatado por Gadelha “nunca aconteceu”.

A lei mais antiga do mundo (está no Código de Hamurabi) é a que trata da validade de uma acusação, e do risco que o acusador incorre caso não consiga prová-la.

No Direito moderno, essa lei milenar foi traduzida e simplificada numa fórmula muito simples: o ônus da prova é de quem acusa. Tulio fez uma acusação baseada exclusivamente no testemunho de seu próprio chefe de gabinete. Este o desmentiu categoricamente, em tom indignado, e pediu demissão.

A situação em Pernambuco abriu uma crise no seio trabalhista, porque o deputado federal Tulio Gadelha (PDT-PE) rompeu o acordo costurado entre PDT e PSB, de apoiar João Campos à prefeitura de Recife, e decidiu se engajar na campanha da adversária, a petista Marília Arraes.

Gadelha queria se lançar à prefeitura da capital pernambucana, mas as direções nacionais de PDT e PSB firmaram uma parceria, na qual se acordou que o candidato de Recife seria um quadro do PSB, com vice do PDT. Em outras cidades, como no Rio de Janeiro, o acordo foi invertido: a candidata trabalhista ficou na cabeça de chapa, e o PSB teve o vice.

O acordo nacional nas eleições deste ano visa construir as bases para uma eventual aliança em 2022. O PDT tem muita esperança de que, com apoio do PSB, uma legenda de tamanho razoável, que governa muitas cidades no país, o seu candidato Ciro Gomes tenha mais chances de chegar ao segundo turno. Em 2018, havia essa expectativa, mas o PSB preferiu manter a neutralidade no 1o turno, após uma articulação do PT para retirar a candidatura de Marília Arraes ao governo do estado, o que abriu caminho para a reeleição de Paulo Câmara.

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, um dos principais articuladores da aliança entre os dois partidos, não escondeu sua indignação com o que ele chamou de “trairagem”.

A partir de agora, a presença de Gadelha no PDT corre sério risco.

Segundo apuramos, a maioria dos membros da Fundação Leonel Brizola em Pernambuco, instituição que cuida dos interesses políticos do PDT em cada estado, está chocada e decepcionada com a postura de Gadelha. O presidente da Fundação, Pedro Josephi, que foi candidato a vereador este ano (teve 2.103 votos, e não se elegeu), e que era muito próximo de Tulio Gadelha, tem se manifestado nas redes contra a posição do deputado.

Gadelha se isolou em seu próprio partido.

No primeiro turno, o resultado das eleições em Recife ficou bastante apertado, com João Campos obtendo 29,13% do votos, e Marília Arraes, 27,9%.

As primeiras pesquisas mostram vantagem de quase 10 pontos para Marília Arraes, mas o PSB é uma legenda com força impressionante em Pernambuco. O partido – que governa o estado –  elegeu agora 12 dos 39 vereadores da Câmara de Recife. O PT elegeu 3 vereadores. O PSOL, dois. O PCdoB, aliado do PSB, elegeu dois vereadores.

Tem sido uma campanha extremamente agressiva, com acusações mútuas de “jogo sujo” e “fake news”. Apoiadores de Marília Arraes tem espalhado registros fotográficos de santinhos que detratam a petista, associando-os à campanha de João Campos, mas não há provas de que eles vem mesmo da campanha socialista; podem ter sido produzidos por candidatos conservadores, para a campanha de primeiro turno.

Os observadores distantes do caos em que se tornou a eleição no Recife já se perguntam quais serão suas principais consequências? A aliança entre PDT e PSB emergirá mais consolidada? Ou seria o contrário? Ganhando Recife, o PT não teria mais força para obrigar o PSB a ficar neutro mais uma vez, evitando que o PDT ganhe musculatura para disputar com mais competitividade uma vaga no segundo turno nas eleições presidenciais de 2022?

As emoções serão grandes nos próximos dias!

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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