Andrei Estivas: o dilema do senador Fabiano Contarato

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado.

Por Andrei Estivas

Nem todo o Brasil sabe, mas o Espírito Santo, um estado de tradição política conservadora, nos presenteou em 2018 com um dos melhores senadores da República.

Fabiano Contarato, 54, é delegado, e chegou ao Senado em sua primeira candidatura numa campanha muito eficiente, com uma estratégia montada ao entorno de seu histórico como policial, de combate aos crimes de trânsito (foi com ele que o Espírito Santo viu as mais robustas operações da “Lei Seca”) e um discurso de combate à corrupção e ao crime.

Desnecessário apontar a grande atenção que essas pautas atraíram nas eleições passadas. Sobretudo elas permitiram que o senador, mesmo sendo um progressista, conseguisse surfar na onda conservadora que levou Bolsonaro ao poder e, ironicamente, derrotar os candidatos organicamente bolsonaristas, como Magno Malta e Ricardo Ferraço.

Entretanto, após se eleger, Fabiano escolheu um lado e se mantém nele com muito vigor: é um dos senadores mais audaciosamente progressistas da Casa, e uma das vozes mais firmes de oposição ao governo Bolsonaro.

Com isso, não é difícil imaginar o nível de violência com que a parcela fanática e radicalizada que apoia o presidente, e que votou em peso em Contarato, achando que se tratava de um deles, ataca-o diuturnamente, a ele e sua família.

Recentemente, um movimento que já era há muito esperado finalmente aconteceu: Fabiano Contarato anunciou que se desfiliará de seu partido, a simpática Rede Sustentabilidade, argumentando que busca uma sigla com “mais enraizamento social” e que esteja mais à esquerda que a Rede. Movimento muito natural e, diga-se, lógico. Um senador dessa envergadura, se deseja se manter no cenário político, precisa aprofundar constantemente suas bases eleitorais e fincar raízes mais sólidas sobre os setores sociais cujos votos deseja fidelizar.

A questão delicada, no caso de Contarato, é que uma parte significativa desse eleitorado já desembarcou de sua base, frustrado com suas posições em defesa da vida, da ciência e, no limite, do nosso país. Mas nem todos os que restaram de seu eleitorado se reconhecem como “esquerdistas” ou algo do gênero. O Senador é a principal voz antibolsonarista no Espírito Santo e agrada a amplos perfis de centro e mesmo de uma direita democrática.

Levando em consideração os critérios que Fabiano Contarato declarou utilizar para encontrar uma nova casa, qualquer cálculo político que o senador faça levam, necessariamente, à seguinte conclusão: dos partidos com representação parlamentar, só estão “mais à esquerda” que seu atual partido, o PCdoB, o Psol, o PT, o PSB e o PDT.

Esses cinco partidos compõem, dessa forma, um leque preliminar de opções de legenda que poderiam abrigar seu mandato senatorial. E no belo Espírito Santo, só os três últimos possuem uma base social eleitoral mais significativa. É seguro afirmar, portanto, que são as três opções mais prováveis para abrigar o mandato de um dos melhores senadores do país.

Como de costume, o Partido dos Trabalhadores já dá como certa a filiação de Fabiano Contarato à legenda, e usa como principal trunfo o convite para lançar o Senador ao Governo do Estado em 2022, contra Renato Casagrande (PSB), que disputará a reeleição e é franco favorito no pleito.

Mas Casagrande é um dos melhores governadores do Brasil no combate à pandemia e é secretário geral nacional de seu partido, peça importante no xadrez político socialista. O ES é, inclusive, ao lado de PE e RJ, um dos três estados mais importantes para o PSB nacionalmente.

Não é segredo para ninguém que o PT nacional fará de tudo para fortalecer o palanque de Lula à presidência da República em 2022, e isso passa fundamentalmente por assegurar o apoio do PSB nacional, que certamente pedirá o apoio do PT à reeleição de Casagrande no ES como um dos preços pelo apoio ao ex-presidente. O próprio Lula já pediu ao partido que abra mão de candidaturas locais em prol da campanha ao Planalto. Então esse apoio à uma candidatura de Contarato ao governo do Estado corre sério risco de ser apenas uma moeda de troca.

Contarato tem um grande futuro pela frente, mas não é provável que haja espaço para ele como candidato ao governo do Estado em 2022, pois o atual governador, independente da aliança partidária que conseguir montar, já traz com ele o eleitorado progressista. Casagrande deverá enfrentar alguém do campo mais conservador, provavelmente aliado do presidente Bolsonaro.

Além disso, quem analisa o cenário político local tem o fundado receio de que, caso o senador se filie ao PT, traga consigo todo o ônus eleitoral desse movimento, terminando por romper com uma base importante do eleitorado antipetista que o elegeu mas que ainda o apoia por ter se tornado também muito crítica ao bolsonarismo. Por este raciocínio, um movimento menos brusco seria se filiar ao PSB ou ao PDT.

O Espírito Santo hoje vive uma situação política estável, com um bom senador e um bom governador. Com um pouco de estratégia e prudência, poderemos manter ou mesmo elevar a qualidade das nossas representações políticas em 2022, e, com isso, ajudar não apenas o povo capixaba, mas todo país!

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