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Notas Internacionais (por Ana Prestes) – 16/09/2021

– Ontem, 15 de setembro, completou um mês da tomada de Cabul, no Afeganistão, pelos talibãs e o anúncio da derrota americana após 20 anos de invasão e ocupação militar do país. No intervalo de um mês os olhos do mundo estavam voltados para o Aeroporto Internacional Hamid Karzai, em Cabul, de onde foram evacuados […]

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– Ontem, 15 de setembro, completou um mês da tomada de Cabul, no Afeganistão, pelos talibãs e o anúncio da derrota americana após 20 anos de invasão e ocupação militar do país. No intervalo de um mês os olhos do mundo estavam voltados para o Aeroporto Internacional Hamid Karzai, em Cabul, de onde foram evacuados os norte-americanos remanescentes no país, além de cidadãos e militares de países aliados dos EUA na ocupação, como Alemanha, França e Reino Unido. Também afegãos, especialmente os que trabalharam diretamente com as forças de ocupação ou com o governo Ashraf Ghani, tentaram deixar o país. Alguns conseguiram outros não e esse ainda é um ponto de tensão com as forças ocidentais. Nesse período, o aeroporto também foi cenário de um ataque terrorista com homens-bomba promovido pelo grupo ISIS-K, um braço do ISIS na região e opositor dos talibãs, que deixou mais de 180 pessoas mortas e dezenas de feridos. Durante esse período, os talibãs também neutralizaram o último ponto de resistência ao seu domínio no país, localizado no vale do Panjshir, onde está baseada a Frente Nacional de Resistência (FNR) liderada por Ahmad Massoud, filho do comandante Ahmed Shah Massoud, assassinado pela Al-Qaeda no início dos anos 2000. Há um debate em curso sobre a participação ou não do governo do Paquistão nesta operação. Na disputa entre Índia e Paquistão, interessa ao governo indiano associar o governo paquistanês aos talibãs. No último dia 7, os talibãs anunciaram seu governo, que será liderado por Mohammad Hasan Akhund e terá como número dois Abdul Ghani Baradar, que foi o negociador com Trump em 2020 e assinou o acordo de Doha para retirada das tropas dos EUA do Afeganistão. Como ministro da Defesa estará o mulá Yaqub, filho do mulá Omar, o ministro do interior será Sirajuddin Haqqani, que possui divergências metodológicas com Baradar. Haqqani parece defender um governo mais linha dura e de ataque frontal ao ocidente, enquanto Baradar faz mais a linha de um governo negociador. Na ocasião, o líder máximo do grupo, Hibatullah Akhundzada, anunciou que o novo governo se esforçará em “fazer respeitar as normas islâmicas e a sharia no país”. Como serão as políticas do Talibã em relação às mulheres e aos direitos segue sendo um grande debate internacional. Na última segunda (13), a alta comissária de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, fez críticas nesse sentido ao novo governo afegão. Segundo Bachelet, “contradizendo as garantias de que o Talibã manteria os direitos das mulheres, nas últimas três semanas, ao invés disso, mulheres foram progressivamente excluídas da esfera pública”. Ela também se referiu ao não cumprimento da anistia prometida a ex-funcionários civis ou de forças de segurança ligados ao antigo governo e proibição a buscas em suas residências. Há denúncias de perseguições a ex-trabalhadores de empresas, órgãos da ONU e organizações não governamentais que operavam no país. Nas últimas horas o novo governo afegão anunciou ter retido cerca de 12,4 milhões de dólares em dinheiro e ouro de ex-altos funcionários do governo (Reuters e outras agências).

– As eleições na Alemanha estão cada vez mais próximas. Serão no próximo dia 26 de setembro. A aliança governista CDU/CSU, da chanceler Angela Merkel, os verdes e a social-democracia disputam a liderança nas últimas pesquisas. Embora, nos últimos dias, o candidato do Partido Social Democrata (SPD), Olaf Scholz, conte com a preferência de mais de quase um quarto dos e das eleitoras. A candidata do Partido Verde, Annalena Baerbock, que começou a corrida eleitoral muito bem posicionada nas pesquisas, deixou de ser a preferida do eleitorado por enquanto. Ela tem feito um discurso mais linha dura contra a Rússia, por exemplo. O candidato de Merkel, Armin Lschet, atual governante da Renânia do Norte-Vestfalia, apesar de ser herdeiro de uma chanceler popular mesmo após 16 anos de governo, não está em uma situação confortável na corrida em que representa a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU). Ele possuía uns 24% e hoje caiu para 20%. Interessante lembrar que Scholz fez e ainda faz parte do governo Merkel como ministro das finanças e vice-chanceler. (Fonte: Flávio Aguiar – RFI)

– A relação entre EUA e China teve um novo capítulo nos últimos dias. Até agora, desde a posse de Biden em janeiro, os dois presidentes ainda não se encontraram pessoalmente. Há uma tentativa dos EUA em promover o encontro durante a cúpula do G20 no final de outubro em Roma. No último dia 9 os dois presidentes se falaram por telefone e o tema foi que “se evite um conflito”, de acordo com os anúncios da Casa Branca à imprensa. Foi a segunda chamada telefônica entre eles. Segundo fontes da imprensa chinesa, o presidente Xi teria dito: “se China e EUA se enfrentarem, ambos países e o mundo sofrerão”. No telefonema, o presidente Biden teria proposto um encontro presencial, mas Xi, que não deixa o solo chinês já há cerca de 600 dias, não deu nenhuma sinalização para o possível encontro. Inclusive não deverá estar em Nova Iorque na próxima semana para a Assembleia Geral da ONU.

– No último dia 5 de setembro houve um golpe militar na Guiné-Conacri. Um grupo de militares liderados pelo tenente-coronel Mamady Doumbouya deteve o presidente do país, Alpha Condé (90 anos), suspendeu a Constituição, dissolveu o governo e demais instituições e fechou fronteiras terrestres e aéreas. Tanto a Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) como a União Africana suspenderam o país das plataformas e tentaram intervir para a libertação do presidente Condé. Foi permitida a visita de uma comissão da CEDEAO que alegou ter encontrado o presidente em bom estado de saúde. Os presidentes do Congo e da Turquia ofereceram asilo para o presidente deposto. Hoje (16) ocorre uma cúpula da entidade sobre o golpe em Acra, Gana. Umaro Sissoco Embaló, presidente da Guiné-Bissau, tem sido um dos articuladores das iniciativas internacionais frente ao golpe. A Guiné-Conacri faz fronteira com a Guiné-Bissau e é um dos países mais pobres do mundo.

– No Haiti, houve novidades quanto às investigações sobre o magnicídio do presidente Jovenel Moise. O primeiro-ministro do país, Ariel Henry, demitiu o promotor Bel-Ford Claude horas depois que um representante do Ministério Público solicitou a um juíz que abrisse investigação contra o premiê como réu no caso do assassinato. A alegação é de que Henry teria falado poucas horas após o crime por duas vezes ao telefone com um dos suspeitos de ter ordenado o assassinato, o ex-oficial Joseph Felix Badio (fonte: El País). Até agora, 44 pessoas estão em prisão domiciliar preventiva, inclusive 18 colombianos, implicados no caso do assassinato de Moise, inclusive há policiais que faziam a segurança do presidente entre os presos. Outra novidade é que no último sábado as principais forças políticas do país concordaram em redigir uma nova Constituição e organizar eleições ao final de 2022 para a sucessão de Moise. No intervalo até as eleições e posse do novo governo, Henry conduzirá um governo de unidade “apartidário” com membros ainda a serem nomeados. Mas a revelação dos telefonemas às 4h e 4h20 da manhã entre Henry e o possível executor do crime na madrugada do magnicídio pode colocar tudo em suspenso.

– No Peru, a vice-presidente, Dina Boluarte, informou que estão sendo coletadas assinaturas para um referendo que permita a convocação de uma nova assembleia constituinte. A atual constituição peruana está vigente há 28 anos e não prevê a instauração de uma nova Assembleia Constituinte, portanto será necessário fazer uma reforma constitucional que pode ser proposta pelo presidente, o próprio Congresso ou 0,3% dos aptos a votar no país. Recentemente 10 parlamentares do partido Peru Livre apresentaram um projeto neste sentido.

– Na Argentina, após o mal resultado do governo no PASO, que são as primárias eleitorais obrigatórias que funcionam de antessala das eleições propriamente ditas, funcionários e ministros do governo Fernandez colocaram seus cargos à disposição. Na província de Buenos Aires, onde governa Alex Kicillof, membros do governo também colocaram seus cargos à disposição. A Frente de Todos teve resultados negativos em 17 unidades territoriais – províncias, incluindo a de Buenos Aires. 

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Ana Prestes

Ana Prestes Socióloga, mestre e doutora em Ciência Política pela UFMG. Autora da tese “Três estrelas do Sul Global: O Fórum Social Mundial em Mumbai, Nairóbi e Belém” e do livro infanto-juvenil “Mirela e o Dia Internacional da Mulher”. É membro do conselho curador da Fundação Maurício Grabois, dirigente nacional do PCdoB e atua profissionalmente como assessora internacional e assessora técnica de comissões na Câmara dos Deputados em Brasília.

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Comentários

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Paulo

16/09/2021 - 23h10

Como assim, os “hermanos” ministros colocaram seus cargos à disposição. A Argentina não é um Regime Presidencialista? Os cargos já não são de nomeação exclusiva do presidente da República? É um “gesto simbólico”? Para quê?

Valeriana

16/09/2021 - 12h32

Eu enviaria essa tal de Bachelet para trocar umas ideias civis e democraticas sobre os direitos humanos com os barbudos…kkkkkkkkkkkkkkk

Bandoleiro

16/09/2021 - 12h17

Sorte da Argentina que “tem um Presidente” como diziam as esquerdetes….kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk


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