Advogada revela complô nazista entre governo Bolsonaro, gabinete paralelo e Prevent Sênior

Inconscientemente cultivamos certos vocábulos, cuidamos deles como plantas necessárias à nossa alimentação espiritual. E assim combatemos o seu uso exagerado, caricatural, leviano. São palavras que carregam mensagens importantes demais para que deixemos sua força se diluir.

Nazista é uma dessas palavras.

Não se chama um adversário de nazista apenas porque ele é conservador, por exemplo. Wiston Churchill era conservador, e não era nazista. Tampouco se deve confundir nazismo e desonestidade. Um sujeito pode ser desonesto, criminoso, corrupto, até mesmo um assassino. E ainda assim não ser um nazista. Inversamente, um sujeito pode ser, nas aparências, o mais honesto de seus concidadãos, reputação ilibada, bom marido, bom pai, trabalhador, e ser o mais repugnante dos nazistas.

E o que é o um nazista? Sabemos, por livros e filmes, quem foram os nazistas alemães, mas quem são os nazistas hoje? A que espécie de seres humanos poderíamos chamar de nazistas sem que isso parecesse leviano, ridículo, exagerado?

O depoimento da advogada Bruna Morato desta terça-feira 28 de setembro de 2021 nos autoriza a usar o termo com relativa precisão científica. Ela denunciou a existência, no Brasil de hoje, de um complô nazista, que tinha como objetivos, qual o nazismo, poder e dinheiro.

Qual o nazismo, falsificava a realidade.

Qual o nazismo, não dá valor a vida humana.

Qual o nazismo, é essencialmente autoritário.

Não é coincidência que o lema da Prevent Sênior era o mesmo da SS nazista: lealdade e obediência.

A empresa fazia experiências ilegais com seres humanos, fraudava os resultados, e estabeleceu um “pacto” com a cúpula do governo federal. O pacto, patrocinado pelo próprio presidente da república, incluiu a queda do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que não estava de acordo com os “protolocolos” macabros e negacionistas que a Prevent, depois de aplicar em seus próprios hospitais, queria que fossem sancionados legalmente pelas autoridades. Conseguiram: no dia seguinte a demissão de Mandetta, o uso da cloroquina seria chancelado pelo ministério da saúde.

O depoimento de Bruna encaixa algumas peças fundamentais no tabuleiro, iluminando o quadro geral.

Houve um crime contra a humanidade.

Há culpados.

E há motivos: o presidente Bolsonaro, enlouquecido pelo poder e cego por sua brutal ignorância e insensibilidade humana, não queria que a pandemia atrapalhasse seus planos políticos. Quando identificou que as medidas necessárias para combater o vírus poderiam implicar em perda de sua popularidade, ele se desesperou e cometeu crimes contra a humanidade.

Covarde, egoísta, ignorante, Bolsonaro se refugiou no negacionismo, de um lado, e na transferência de responsabilidades, de outro. Tentou, o tempo inteiro, lançar o ônus das medidas impopulares nas costas de prefeitos e governadores, os quais, sem as ferramentas financeiras da União, se viram em situação extremamente difícil. Até mesmo aliados do presidente, como o governador de Goias, Ronaldo Caiado, foram obrigados a se distanciar dos delírios egoístas e tirânicos de Bolsonaro, e apoiar as políticas públicas necessárias à contenção do vírus, por mais impopulares que fossem.

A Prevent Sênior não era apenas alinhada ideologicamente ao presidente da república. Seus sócios tinham outra enorme afinidade moral com Bolsonaro: sua absoluta ausência de empatia com as pessoas, incluindo seus próprios clientes, submetidos a um processo consciente de extermínio, em nome da redução de custo.

Enquanto Bolsonaro falava, em suas lives, que não adiantava lutar contra o vírus, e que morreria quem tivesse de morrer, um discurso de eugenia, os donos da Prevent Sênior impunham, a seus próprios médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, protocolos baseados em pesquisas fraudadas pela própria empresa.

Quando Bolsonaro passou a usar a economia como justificativa para seu negacionismo e covardia, a Prevent Sênior fez o mesmo, ou seja, procurou aumentar seus lucros através de tratamentos de baixo custo e sem comprovação científica.

Bolsonaro e seus apoiadores usavam os dados fraudados da Prevent Sênior para justificar suas falas em defesa de tratamento precoce, e a Prevent Sênior usava as falas de Bolsonaro para vender o tratamento precoce a seus clientes como uma solução barata para a Covid.

Esperemos o relatório da CPI, e apresentemos a denúncia a justiça brasileira e aos tribunais internacionais.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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