A rejeição dos candidatos a presidente no Rio de Janeiro, segundo o Datafolha

Imagem: Adriano Machado/Reuters, Fabrice Coffrini/AFP e Kleyton Amorim/UOL

O Datafolha publicou, finalmente, a íntegra dos relatórios de pesquisas realizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Vamos examinar, hoje, a pesquisa no Rio de Janeiro, sob um aspecto original: a influência dos presidenciáveis no estado. A análise do desempenho das intenções de voto dos aspirantes ao governo, juntamente com tabela e gráficos,  fica para outro post. 

O Datafolha não fez ou não divulgou, contudo, pesquisa para presidente entre os eleitores fluminenses. Apurou apenas as intenções de voto para governador.

Mas a pesquisa traz uma questão que mede o grau de influência dos três principais candidatos a presidência da república na disputa pelo Palácio Guanabara, que é um bom termômetro sobre como os eleitores fluminenses vêem esses políticos.

Segundo o Datafolha, o ex-presidente Lula é o político mais influente no estado do Rio, com 26% dos entrevistados respondendo que votariam, com certeza, num candidato ao governo apoiado por ele, contra apenas 16% que responderam o mesmo sobre Bolsonaro e 6% sobre Ciro. 

Interessante notar que a influência de Lula se dá em diversos segmentos.

Entre eleitores com escolaridade até o ensino médio, 27% responderam que votariam “com certeza” num candidato ao governo do Rio apoiado por Lula,  19% num candidato apoiado por Bolsonaro, e apenas 4% num candidato apoiado por Ciro. 

Entre eleitores com ensino superior, 20% disseram que votariam “com certeza” num candidato apoiado por Lula, 9% num candidato apoiado por Bolsonaro e 3% num candidato apoiado por Ciro Gomes. 

Já entre eleitores fluminenses menos instruídos, com até o ensino fundamental, 42% responderam que apoiariam, com certeza, um candidato apoiado por Lula, contra 18% para Bolsonaro e 12% para Lula.  

Na segmentação por renda familiar (que soma o que ganha toda a família), o ex-presidente Lula é particularmente influente entre eleitores de baixa renda, que ganham até 2 salários (que correspondem a 45% de todo o eleitorado fluminense): entre estes, 32% responderam que votariam com certeza num candidato apoiado pelo petista, 16% que apoiariam um candidato apoiado por Bolsonaro, e 7% um candidato apoiado por Ciro.

 

Ainda mais interessante que os dados acima são os que mostram a rejeição dos presidenciáveis entre eleitores fluminenses.

Qual o percentual dos eleitores que responderam que o apoio deste ou daquele presidenciável o faria não votar “de jeito nenhum” num determinado candidato ao governo do Rio?

Fizemos tabela e gráficos para ilustrar esses números. 

Lula é o candidato menos rejeitado no Rio de Janeiro. Segundo o Datafolha, 48% dos eleitores fluminenses responderam que não votariam “de jeito nenhum” num candidato ao governo apoiado por Lula. 

Quando perguntados se apoiariam um candidato apoiado por Bolsonaro, 63% responderam que não, de jeito nenhum. 

Entretanto, o candidato Ciro Gomes também parece ter desenvolvido uma rejeição alta entre os eleitores fluminenses. Segundo a pesquisa, 62% dos entrevistados responderam que não votariam, de jeito nenhum, num candidato apoiado por Ciro.

Em alguns segmentos estratégicos, como eleitores do sexo masculino, com mais de 45 anos, de baixa renda, de cor preta e/ou evangélicos, a rejeição do eleitor fluminense a Ciro é a maior de todas. 

Ciro tem rejeição de 68% e 69% nas duas faixas etárias com maior número de eleitores, entre 45 e 59 anos e mais de 60 anos.  Nessas faixas, Bolsonaro tem 61% e 65% de rejeição, e Lula, 51% e 52%. 

Um problema grave de Ciro é que ele está com rejeição em ambos os espectros ideológicos: tanto quem gosta de Bolsonaro como quem não gosta tem rejeição alta pelo candidato. Entre os que gostam de Bolsonaro, sua rejeição é de 78%, o que é normal, tendo em vista seus valores e ideias. Lula é campeão de rejeição entre o eleitor que ainda considera o governo Bolsonaro “ótimo ou bom”, com 84%. 

Entretanto, entre quem não gosta de Bolsonaro, ou seja, quem considera o governo ruim ou péssimo, Lula tem baixa rejeição, de apenas 24%, ao passo que a de Ciro continua elevada, 56%. 

Aparentemente, a estratégia de Ciro Gomes, de atirar freneticamente para todos os lados, com ênfase especial no ex-presidente Lula, está fazendo com que ele ganhe rejeição igualmente em toda a parte. Em 2018, o pedetista teve um desempenho razoável no estado do Rio, obtendo 15,22%, contra 14,69% de Haddad. Bolsonaro pontuou 58%. Entretanto, as áreas onde Ciro conseguiu mais votos foram os bairros “ideológicos”, de esquerda. Em alguns chegou a ficar em primeiro lugar, como Laranjeiras e algumas zonas eleitorais da Tijuca, os mesmos lugares onde os deputados federais mais votados foram Marcelo Freixo e Molon. Com Freixo e Molon hoje apoiando Lula, e com Ciro Gomes recebendo muitas críticas de setores da esquerda, por sua estratégia de jogar sujo contra Lula, ele parece ter perdido muitos votos. E não conseguiu compensá-los do outro, entre o eleitorado bolsonarista. 

Com isso, é provável não apenas que Ciro Gomes tenha, no Rio de Janeiro, um desempenho pior do que tive em 2018, como também arraste, para baixo, os candidatos ao governo e ao legislativo que apareçam a seu lado. 

Em relação a Bolsonaro, seus números sinalizam uma derrota no Rio de Janeiro,  tanto dele como de seu candidato, o governador Claudio Castro, porque, diferentemente do que se viu em 2018, as pesquisas não mostram um bom desempenho do bolsonarismo nem junto as camadas médias,  nem junto aos eleitores de baixa renda. Ou seja, não se formou, até agora pelo menos, um “núcleo” forte, com capacidade para liderar e mobilizar uma grande campanha reacionária e antipetista.  

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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