Está todo mundo cansado de CPI

Brasília- DF- Brasil- 02/02/2016- Sessão solene do Congresso Nacional para abertura dos trabalhos legislativos do segundo ano da 55ª Legislatura. Foto: Lucio Bernardo Jr./ Câmara dos Deputados

Se a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o 8 de janeiro já está virando água, as outras Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) também não estão mobilizando Brasília até o momento, nem sobre o Movimento Sem Terra (MST), sobre as Lojas Americanas ou sobre as apostas esportivas.

Há um entendimento que essas CPIs não possuem de fato um muitos subsídios que justifiquem as suas respectivas relevâncias. Principalmente porque nenhuma delas receberá a cobertura que a CPI da pandemia recebeu. Além disso, boa parte dos parlamentares está mais preocupada com a votação de projetos, destinação de verbas e articulações com o governo do que outros assuntos.

Há um consenso quase unânime que as comissões não renderão votos e em alguns casos servirão apenas para dialogar com aqueles que já são seus eleitores cativos. O próprio Palácio do Planalto está mais preocupado com a economia, captação de investimentos e reconstrução do país do que com a CPMI ou outras comissões, na verdade, sequer enxergam elas com alguma preocupação.

No caso da CPI das Lojas Americanas, conforme já revelado por estado coluna, parte dos deputados creem que ela servirá apenas como instrumento de extorsão contra acionistas da empresa e a não ser que revele um esquema de desvios escandaloso ou comprove que a crise na empresa foi de fato, intencional, dificilmente gerará algum barulho relevante e dado o que falam sobre a comissão, dificilmente veremos algo impactante por lá.

Já a CPI do MST, essa, além de não atrair a atenção ou interesse de qualquer parlamentar relevante, já vai sair do forno como um antro de radicais, uma vez que a oposição indicou apenas os nomes mais extremistas para a comissão e suas lideranças. Nem mesmo entre os membros do movimento com quem a coluna conversou, ela gera preocupação.

Recentemente a Diretora Nacional do MST, Ceres Hadch declarou:

“Estamos [o MST] preocupados com o tempo e os gastos públicos que vamos ter com essa CPI, que tem como finalizada tentar mais uma vez criminalizar um movimento social legítimo, no momento em que precisamos reconstruir o Brasil e melhorar a vida do povo”.

Ou seja, o próprio MST em posição oficial está mais preocupado com o desperdício de tempo e recursos da comissão do que com algo efetivo.

Já uma fonte próxima à uma importante e histórica liderança do Congresso Nacional, afirma que essa série de CPIs é uma estratégia de Arthur Lira (PP-AL) para chantagear o governo, embora veja que nenhuma das tem algum potencial de criar problemas ao governo. Essa mesma fonte também avalia que as CPIs iniciarão o trabalho num momento onde o governo começou a acertar os rumos com a sociedade através das medidas mais recentes envolvendo redução de custos de combustíveis e gás de cozinha, aumento de renda média dos brasileiros e o novo PAC.

Já a liderança petista, Gleisi Hoffman (PT-PR), afirmou, em exclusividade à coluna:

“Mesmo sabendo que a CPI do MST só foi instalada como uma tentativa de tirar o foco das discussões que o Brasil realmente precisa, assumimos o compromisso de defender o movimento que mais contribui com a segurança alimentar do país e vamos aproveitar para apresentar dados e divulgar a verdade sobre a agricultura familiar, que produz alimento sem veneno e ainda ajuda a conservar a natureza”.

Já sobre a CPMI do 8 de janeiro, ela também disse:

“Sobre a CPI dos atos de 8 de janeiro, não queríamos a princípio que fosse instalada porque entendemos que já há investigações em andamento, e que o Congresso tem que focar em discutir as pautas urgentes do país, mas insistiram tanto que saiu a CPMI. Não temos nenhum medo e agora é ouvir todos os envolvidos para chegarmos à verdade e saber quem financiou o crime contra a democracia”.

No Planalto, empolgados com as boas notícias dos últimos dias e com foco quase que absoluto no alinhamento do relacionamento com o Congresso, dificilmente o governo irá direcionar esforços para alguma das comissões. O que talvez explique também a ausência do deputado André Janones (AVANTE-MG) e a falta de engajamento do governo em garantir a sua indicação na CPMI do 8 de janeiro coo titular.

O governo está mais determinado em aproveitar a falta de uma oposição organizada para promover os avanços e projetos que acredita serem positivos para o país e os parlamentares estão preocupados em quantos votos podem ter com isso no próximo pleito.

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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