A hora da virada: agora começa o jogo

Luiz Inácio Lula da Silva - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Lula disse ao presidente russo Vladmir Putin que não participará de fórum em São Petersburgo no mês que vem, um dia antes, falou durante um discurso “agora que começou o jogo”, as pernadas de Alexandre Silveira (Minas e Energia) e do senador Randolfe Rodrigues (Sem partido) em Marina Silva (Meio Ambiente) acabaram, as críticas contra Alexandre Padilha por parte da base deram uma pausa e o grupo de assessores do Congresso também se acalmou.

Desde quarta-feira o Planalto vive momentos de relativa calmaria e talvez a ida de diversos deputados para seus respectivos estados também tenha contribuído, e muito, para isso mas uma outra coisa também ajudou, como Lula disse: “agora que começou o jogo”.

Os recados do presidente no discurso da noite da quinta-feira (25) foram claros sobre qual caminho Lula irá seguir: o da política. Nada de confrontos frontais como vimos no governo Dilma ou as estripulias e delinquências que vimos com Jair Bolsonaro.

Só existe uma coisa que supera insaciável a fome de emendas dos parlamentares: votos. Um Lula popular é um puxador de votos formidável, um presidente por si só, já costuma ser mas com aprovação alta então…

E é claro que Arthur Lira (PP-AL), que hoje ocupa o posto de primeiro-ministro de Schrödinger, já percebeu isso. não por menos ficou incomodado (pasmem) de não ser consultado pelo Planalto antes do lançamento do pacote de medidas para reduzir o preço dos carros “populares”.

No Congresso há quem acredite que Lira dorme apenas 4 horas por noite, acompanha quase todas as notícias em tempo real e todos os dias estuda o regimento da câmara. Um verdadeiro viciado em política. Por isso, não é de se espantar que o presidente da Câmara já percebeu a estratégia do governo.

Lula já decidiu que irá se aproximar ainda mais de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) como uma maneira de ter um plano B caso as coisas fujam demais de controle na Câmara e o próprio presidente terá reuniões periódicas com lideranças no Congresso, não, Lula não vai trocar tiros com Lira mas vai mostrar que o que tem a oferecer aos que forem leais.

Não será nenhuma surpresa se Lula anunciar mais medidas na área econômica em breve e se concentrar ainda mais em ações que gerem impacto direto na dia a dia dos brasileiros. Por isso, não é muito difícil que os embates com o Banco Central e a extorsiva taxa de juros se intensifiquem ou que o Planalto busque formas de contornar isso (como por exemplo, aumentar a meta da inflação).

Lula sabe que a forma mais fácil de impactar diretamente a vida das pessoas é através do consumo, não é por menos que falou tanto da famigerada “picanha e cervejinha” durante toda a campanha eleitoral.

O que está sendo desenhado por Lula e seus ministros é a política na prática, este caminho está obstruído? Vamos por outro! Entrar numa guerra total contra o presidente de um dos poderes é em suma essência, um aspecto da antipolítica. A política é a arte do convencimento e do diálogo por isso o presidente disse: não podemos nos assustar com a política.

E Lula tem todas as ferramentas para fazer política, bons ministros, bons assessores e em que pese as criticas sobre Alexandre Padilha, é inegável que ele é um homem de diálogo e articulação, viveu a vida inteira na política, nada que alguns ajustes e planejamento com o presidente e líderes da base não resolvam.

Marina que a esta altura do campeonato já teria deixado o governo, fez questão de sinalizar que está mais próxima do que nunca do presidente. Não é por menos que uma fonte no Congresso Nacional fez questão de ressaltar:

“Ela [Marina] e Guajajara são da elite do governo”.

A base do presidente no Congresso acredita que Lula não vai abrir mão de nenhuma das duas.

Talvez tenha demorado um pouco mais do que o Brasil e os brasileiros gostariam (lembrem-se: Lula ainda irá chegar no seu sexto mês de mandato) mas parece que Lula e o governo começaram a entender que o Brasil de 2023 não é o mesmo de 2003.

A hora da virada chegou.

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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