Braga Netto queria “oferecer a cabeça” de Freire Gomes, comandante do exército

O Ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-Ministro da defesa, general Walter Braga Netto - Reprodução: Andre Borges/NurPhoto/Getty Images

O general Braga Netto, integrante da cúpula militar mais próxima ao então presidente Jair Bolsonaro, envolveu-se até a medula na conspiração golpista contra o resultado que emergiu das urnas.

Candidato a vice na chapa de Bolsonaro, e ministro da Defesa de março de 2021 a abril de 2022, Braga Netto trabalhava intensamente para convencer o alto oficialato a aderir ao plano golpista. Mas encontrava resistências. A mais importante vinha do então comandante do Exército, o general Freire Gomes.

Em diálogo com outro militar, Ailton Gonçalves, Braga Netto concorda que seria necessário “oferecer a cabeça dele aos leões”, referindo-se a Freire Gomes. A frase significava afastar Freire Gomes do cargo, substituindo-o por algum militar que topasse a aventura golpista proposta pela cúpula.

Braga Netto deixa bem claro que estava alinhado à conspiração golpista, e procura jogar a culpa pelo o que “está acontecendo” (ou seja, a passagem do tempo sem que um golpe se materializasse) no general Freire Gomes, a quem faz a seguinte acusação: “omissão e indecisão não cabem num combatente”.

Braga Netto coordenava o ataque às reputações de militares que não queiram aderir ao golpe. Em mensagem a Ailton Gonçalves, orienta-o a atacar o tenente-brigadeiro Baptista Junior, xingando-o de “traidor da pátria”. Netto incrimina ainda, com seus elogios, o almirante Almir Garnier, ao descrevê-lo como apoiador da conspiração golpista.

Abaixo, o trecho do despacho de Xandão:

(…) O investigado Walter Souza Braga Netto, inclusive, chegou a encaminhar para Ailton Gonçalves Moraes Barros uma mensagem que teria recebido de um “FE” (Forças Especiais), com a seguinte afirmação: “Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do Gen Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”.

Em resposta, Ailton Barros sugere continuar a pressionar o General Freire Gomes e, caso insistisse em não aderir ao golpe de Estado, afirmou “vamos oferecer a cabeça dele aos leões”.

O investigado Braga Netto concorda e dá a ordem: “Oferece a cabeça dele. Cagão”. Ainda no contexto do referido diálogo, o investigado Braga Netto encaminha uma mensagem de texto, seguida de uma imagem (cortada), que teria relação com a residência do General Freire Gomes. Diz: “Em frente à residência do general Freire Gomes agora”, como evidenciam imagens acima colacionadas.

Em relação ao investigado Walter Souza Braga Netto, reitera-se que a representação da Polícia Federal indica, também, que a sua atuação não se restringiu em determinar ataques ao General Freire Gomes. Ainda no 15/12/2022, o investigado Walter Souza Braga Netto enviou mensagem para Ailton Gonçalves Moraes Barros, orientando-o a atacar o Tenente-Brigadeiro Baptista Júnior, a quem adjetivou de “Traidor da pátria”, e elogiar o Almirante-de-Esquadra Almir Garnier Santos.

As referidas mensagens vão ao encontro, conforme aponta a Polícia Federal, dos fatos descritos pelo colaborador Mauro Cid, que confirmou que o então Comandante da Marinha, o Almirante Almir Garnier, em reunião com o então Presidente Jair Bolsonaro, anuiu com o Golpe de Estado, colocando suas tropas à disposição do Presidente, tudo de acordo com as imagens acima lançadas (fls. 190-191).

Por fim, a autoridade policial traz elementos indicativos da real expectativa que permeava o grupo quanto à permanência no poder, discorrendo ainda sobre a relação entre os todos os cinco eixos de atuação da organização criminosa que, embora ostentem finalidades específicas, foram utilizados como suporte para verdadeira execução de um golpe de Estado no Brasil. (…)

Clique aqui para baixar a íntegra da decisão de Moraes.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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