Deputados comentam o golpe de Estado de 1964, que completou 60 anos

Acervo Câmara dos Deputados

Deposição do presidente João Goulart, em 1º de abril de 1964, marca o início da Ditadura Militar no Brasil, que se estende até a posse de José Sarney, em 15 de março de 1985

A deputada Luiza Erundina (Psol-SP) e os deputados General Girão (PL-RN) e Pompeo de Mattos (PDT-RS) comentaram em entrevistas os reflexos do golpe de Estado de 31 de março de 1964, que completa 60 anos neste domingo.

Erundina afirma que a data deve ser permanentemente lembrada pelas próximas gerações. “A data não é para se comemorar, mas se rememorar, para evitar que o País passe por situações como aquela”, disse.

Erundina considera que as ameaças atuais de retrocesso democrático ou um novo golpe militar ocorrem por causa dos traumas deixados pelos 21 anos de ditadura. Ela pede a retomada das investigações de desaparecidos políticos que ainda não tiveram as ossadas identificadas. “Queremos justiça para aqueles que sofreram torturas e assassinatos, para que seus familiares e companheiros possam rezar, acender uma vela, e agradecer por seu sofrimento e sacrifício”, disse.

Girão defende as Forças Armadas e afirma que a história é deturpada | Acervo Câmara dos Deputados

Contrarrevolução

General Girão aponta para a necessidade de entender o movimento militar dentro do contexto da Guerra Fria. Ele lembra que as Forças Armadas foram inicialmente apoiadas pela sociedade, com manifestações populares. General Girão afirma que o movimento militar foi uma contrarrevolução contra uma tentativa de instaurar o comunismo no Brasil.

“Nas Forças Armadas, a gente lamenta muito que quem na época tentou implantar o comunismo no Brasil voltou, assumiu o poder e insiste em contar uma história diferente”, afirmou o deputado. “Dizem que as Forças Armadas implantaram um regime ditatorial. Todos os presidentes militares foram eleitos em sessão do Congresso Nacional”, acrescentou.

General Girão disse temer que a democracia atual esteja sendo limitada, em particular com relação à liberdade de imprensa, de opinião e de manifestação. “Não se pode dizer que estamos em uma democracia plena. A classe política brasileira precisa resolver os nossos problemas. Não podemos creditá-los a instituições como as Forças Armadas”, opinou.

Mattos: maior alvo do regime militar era o trabalhismo | Acervo Câmara dos Deputados

Trabalhismo

Pompeo de Mattos lembra que seu pai foi preso em 1964 e, ainda criança, teve de visitá-lo na cadeia. “Quem o prendeu nunca disse a razão da prisão, e o meu pai morreu sem saber. Ou seja, não tinha motivação.”

Segundo Pompeo de Mattos, o maior alvo do regime militar era o trabalhismo, ideal do presidente deposto João Goulart e do ex-governador gaúcho Leonel Brizola, que na data do golpe exercia o mandato como deputado federal, para depois seguir ao exílio. Com o processo de redemocratização e a volta dos exilados políticos, em 1979, Pompeo de Mattos participou da fundação do PDT, liderado por Brizola.

“O golpe deixa um saldo de muita angústia, de muitas dores para muitas famílias no Brasil, mas de consciência dos tempos de luta. Sobraram cicatrizes, divisões, angústias, sofrimento, pessoas morreram, desapareceram”, relata Pompeo de Mattos.

O deputado considera necessário zelar pela democracia para evitar recaídas. Segundo ele, a maior necessidade é melhorar as condições de vida da população. “Para nós termos democracia, precisamos ter a população com dignidade. Não com milhões e milhões de pobres abaixo da linha de miséria. O pilar econômico da democracia é fundamental. Que democracia é esta em que as pessoas não têm casa, emprego, renda? Tudo isso inibe a liberdade”, alerta.

Publicado originalmente pela Agência Câmara de Notícias em 29/03/2024 – 12h13

Reportagem: Francisco Brandão

Edição: Wilson Silveira

Cláudia Beatriz:
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