Projeto ambicioso visa ligar Las Vegas aos subúrbios de Los Angeles até as Olimpíadas de 2028
Em abril, a empresa ferroviária Brightline Trains, sediada em Miami, deu início às obras de um projeto que promete oferecer aos Estados Unidos seu primeiro serviço de trem de alta velocidade dedicado. O corredor de 350 quilômetros, denominado Brightline West, conectará Las Vegas aos subúrbios de Los Angeles. A Brightline espera concluir o projeto a tempo para os Jogos Olímpicos de 2028, que ocorrerão em Los Angeles.
A Brightline escolheu os motores Siemens American Pioneer 220, que operarão a velocidades médias de 165 km/h, com uma velocidade máxima anunciada de 320 km/h. Apesar disso, essa velocidade média ainda fica aquém da rede Eurostar, que conecta Londres, Paris, Bruxelas e Amsterdã (300 km/h), do serviço Intercity-Express 3 da Alemanha (330 km/h) e do serviço de trem mais rápido do mundo, o G regional da China, que liga Pequim a Xangai (350 km/h).
Atualmente, há apenas duas linhas ferroviárias nos EUA que chegam a 200 km/h, velocidade mínima não oficial para que um trem seja considerado de alta velocidade. A Brightline, que está prestes a construir a linha Brightline West de Los Angeles a Las Vegas, também opera uma linha de Miami a Orlando, com uma velocidade média de 111 km/h. A outra é a linha Acela da Amtrak, entre Boston e Washington, D.C., que só é considerada de alta velocidade em 80 km de sua rota de 735 km. Isso é consequência do status quo ferroviário nos Estados Unidos, onde trens de carga mais lentos geralmente têm prioridade na infraestrutura ferroviária compartilhada.
Como observou Vaclav Smil, professor emérito da Universidade de Manitoba, na IEEE Spectrum em 2018, há muito se espera que os Estados Unidos alcancem a Europa, a China e o Japão, onde o transporte ferroviário regional de alta velocidade é uma realidade há muito tempo. “Em um mundo racional, que valorizasse a conveniência, o tempo, a baixa intensidade energética e as baixas emissões de carbono, o trem elétrico de alta velocidade seria sempre a primeira escolha para [viagens interurbanas]”, escreveu Smil na época. No entanto, nos Estados Unidos, o financiamento e a aprovação regulatória para tais projetos têm sido escassos.
Agora, o Brightline West, bem como alguns projetos ferroviários pré-existentes em desenvolvimento, como a Rede Ferroviária de Alta Velocidade da Califórnia e a Linha Central do Texas, podem sinalizar uma mudança de atitude que poderia, tardiamente, colocar os trens em pé de igualdade com carros e aviões para os viajantes nos Estados Unidos continentais.
O governo dos EUA, como muitos governos nacionais, comprometeu-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Como isso geralmente exige a descarbonização do transporte e a melhoria da eficiência energética, os trens, que podem funcionar com eletricidade gerada a partir de fontes fósseis e não fósseis, estão recebendo um grande impulso. Como Smil observou em 2018, os trens usam uma fração de megajoule de energia por passageiro-quilômetro, enquanto um motorista solitário, mesmo em um dos carros a gasolina mais eficientes, usará ordens de magnitude mais energia por passageiro-quilômetro.
Brightline e Siemens não responderam às perguntas da Spectrum sobre quais inovações planejam introduzir que fariam a linha de passageiros de Los Angeles a Las Vegas operar mais rapidamente ou talvez usar menos energia do que suas contrapartes asiáticas e europeias. Mas Karen E. Philbrick, diretora executiva do Mineta Transportation Institute na Universidade Estadual de San Jose, na Califórnia, diz que isso não é o ponto principal. Ela observa que os Estados Unidos, tendo focado em carros na maior parte do século passado, já perderam o período em que as principais inovações foram feitas em trens de alta velocidade. “O que é importante sobre o Brightline West e, digamos, o projeto de trem de alta velocidade da Califórnia, não é o quão inovadores eles são, mas o fato de estarem acontecendo. Estou emocionada em ver os EUA se recuperando.”
Talvez a Brightline ou outros grupos que buscam tirar os americanos das estradas e colocá-los nos trilhos possam aproveitar o momento e criar linhas de trem de alta velocidade conectando outros centros populacionais inter-regionais nos Estados Unidos. Com suficientes dessas peças no lugar, talvez algum dia seja possível viajar de trem da Califórnia a Nova York em um único dia, da mesma forma que os passageiros de trem na China podem viajar de Pequim a Xangai entre o café da manhã e o almoço.