A multinacional britânica BP anunciou nesta segunda-feira, 4, a identificação de uma nova jazida de petróleo e gás natural no prospecto Bumerangue, localizado em águas profundas da Bacia de Santos, a cerca de 404 km da costa do Rio de Janeiro. Segundo a empresa, trata-se da maior descoberta realizada pela companhia desde 1999, quando foi encontrado o campo de Shah Deniz, no Mar Cáspio.
Com área superior a 300 km², o campo do Bumerangue foi arrematado pela BP durante o 1º Ciclo da Oferta Permanente de Partilha da Produção, promovido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em dezembro de 2022. Pelo modelo de partilha, a empresa será responsável por recuperar até 80% dos custos de produção, e o percentual de óleo-lucro destinado ao Estado brasileiro será de 5,9% após a recuperação dos investimentos.
O poço perfurado alcançou profundidade total de 5.855 metros, sendo 2.372 metros em lâmina d’água. A BP informou que o reservatório está situado em formações de carbonato do pré-sal e apresenta uma coluna de hidrocarbonetos com cerca de 500 metros. A companhia também relatou a presença de níveis elevados de dióxido de carbono, o que pode exigir ajustes técnicos nos métodos de extração.
Empresa prevê polo de produção no Brasil
O anúncio foi feito por meio de comunicado oficial, assinado por Gordon Birrell, vice-presidente executivo de Produção e Operações da BP. “Estamos entusiasmados em anunciar essa descoberta significativa no Bumerangue, a maior da BP em 25 anos”, declarou Birrell. “O Brasil é um país importante para a BP. Estamos explorando o potencial de estabelecer um polo de produção material e vantajoso no país.”
A BP detém 100% da concessão do bloco, e a estatal Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA) atua como gestora do contrato de partilha. A empresa anunciou que realizará análises laboratoriais para avaliar melhor o potencial da jazida, além de planejar novas atividades de avaliação, ainda sujeitas à aprovação regulatória.
A descoberta no Bumerangue se soma a outros nove achados da BP realizados ao longo de 2025, distribuídos entre Brasil, Trinidad e Tobago, Egito, Líbia, Golfo do México, Namíbia e Angola. A companhia reafirmou o compromisso de manter sua produção global entre 2,3 milhões e 2,5 milhões de barris de óleo equivalente por dia até 2030, com possibilidade de expansão até 2035.
Modelo de partilha e gestão nacional
O bloco do Bumerangue foi licitado sob regime de partilha de produção, no qual a União recebe uma parcela do excedente em óleo após o ressarcimento dos custos exploratórios. No caso da BP, essa parcela foi definida em 5,9% do volume produzido, conforme estabelecido no edital da ANP. A PPSA será responsável por acompanhar a execução do contrato, fiscalizar a medição da produção e comercializar a parcela do óleo pertencente à União.
Especialistas do setor avaliam que a descoberta reafirma o potencial da Bacia de Santos como uma das principais fronteiras de exploração de petróleo e gás no mundo. Segundo dados da ANP, a região concentra a maior parte da produção nacional de óleo e gás, com campos como Lula, Búzios e Mero, operados por outras grandes companhias do setor energético.
Impacto técnico e comercial
A presença de alto teor de dióxido de carbono (CO₂) nos hidrocarbonetos encontrados é um fator que pode aumentar a complexidade da operação no campo do Bumerangue. O gás ácido exige tecnologias específicas para separação e reinjeção nos reservatórios, o que pode impactar os custos e os prazos de desenvolvimento. Ainda assim, a extensão da coluna de petróleo e a localização estratégica tornam o ativo relevante para os planos de expansão da BP.
O anúncio ocorre em um contexto de reconfiguração da matriz energética global e aumento do interesse por ativos de alta produtividade. O Brasil, em particular, tem atraído grandes investimentos em exploração e produção de petróleo em águas profundas, especialmente na área do pré-sal, onde os reservatórios costumam apresentar elevada produtividade por poço.
Perspectivas para a indústria nacional
A descoberta no campo do Bumerangue deve reforçar o papel do Brasil no mercado internacional de energia. Com a ampliação das reservas confirmadas e a crescente participação de empresas estrangeiras nos leilões da ANP, o país se posiciona como fornecedor relevante de óleo e gás nos próximos anos.
A BP, por sua vez, busca expandir suas operações fora do Reino Unido, com foco em ativos de baixo custo e alta produtividade. A empresa tem priorizado investimentos em regiões com estabilidade regulatória e infraestrutura consolidada, critérios que o Brasil tem cumprido no setor de exploração e produção offshore.


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