Frente ampla democrática já nasceu grande

Centenas de milhares foram às ruas neste domingo, 21 de setembro, para protestar contra as tentativas da extrema direita de aprovar dois projetos que soaram como um pacto de impunidade: a chamada PEC da bandidagem, destinada a criar um escudo jurídico contra investigações da Polícia Federal sobre crimes cometidos por parlamentares e presidentes de partidos, e, no fim da noite, o avanço da urgência do projeto da anistia, voltado a perdoar políticos criminosos envolvidos em ataques ao Estado Democrático de Direito.

A dimensão dos atos surpreendeu. Foram manifestações expressivas em todas as capitais e em diversas cidades médias, provando que a rejeição popular à PEC da bandidagem e à anistia não era apenas uma tendência das pesquisas, mas uma realidade concreta, visível nas ruas.

A extrema-direita bolsonarista havia estendido uma bandeira gigante dos Estados Unidos no 7 de setembro de 2022, em ato a favor da anistia dos golpistas. A resposta simbólica veio agora, no mesmo espaço em frente ao MASP, com uma bandeira do Brasil do mesmo tamanho. Um xeque-mate imagético. O verde e amarelo retomado como expressão de soberania nacional, e não como adereço de submissão.

O erro estratégico do bolsonarismo foi grosseiro. Primeiro tentou aprovar a PEC da bandidagem. Horas depois, fez avançar a urgência do projeto da anistia. Na cabeça da população, as duas medidas se fundiram como partes de um mesmo mecanismo de autoproteção criminosa. O resultado foi imediato: uma implosão política da extrema direita diante da força das ruas e das redes.

“O Brasil não tem povo, tem público”, escreveu Lima Barreto. Sua crítica à passividade política ressoa até hoje. Alguns tentaram desqualificar o 21 de setembro como festa da classe média ou da intelectualidade. O que se viu foi o contrário. As ruas foram tomadas por trabalhadores, estudantes, moradores das periferias, mas também por setores da classe média e da intelectualidade. E todos são povo. Botar 40 ou 50 mil no Rio, em São Paulo, e centenas de milhares em todo o país não se explica por nichos restritos.

Foi uma vitória incontestável do movimento social, uma conquista das ruas e das redes, que atuaram de forma coordenada para desmontar o discurso da extrema direita. Cada vez que um parlamentar bolsonarista tentar defender a PEC da bandidagem ou a anistia no Congresso, a esquerda terá as imagens das multidões como resposta. A semana começa com a atmosfera política transformada: a frente democrática mais forte e mais preparada para os embates que virão.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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