O líder iraniano declara que qualquer diálogo com os EUA é inútil e prejudicial ao Irã, reforçando a defesa da soberania nuclear do país
Em um mundo onde a diplomacia é frequentemente confundida com capitulação, e a resistência, com beligerância, a firmeza do Líder Supremo do Irã, Ayatollah Ali Khamenei, surge não como um obstáculo à paz, mas como uma defesa essencial da soberania nacional contra a política de canhoneira disfarçada de diplomacia que caracterizou a era Trump.
A recente declaração de Khamenei, descartando qualquer diálogo com os Estados Unidos, não é o raio de um líder intransigente, mas o reflexo calculado de uma nação que aprendeu, na pele, o custo amargo da confiança depositada em Washington. A retórica maximalista e as ações unilaterais do governo Trump – desde o abandono criminoso do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) até o assassinato do General Qassem Soleimani – não são simples mudanças de política; são atos de guerra não declarada. Diante disso, qual seria a racionalidade de sentar à mesa com quem brande o porrete enquanto propõe “negociar”?
Leia também:
Khamenei rejeita diálogo com EUA e afirma riscos ao Irã
Síria admite ‘medo de Israel’
Excesso de IA cansa equipes e atrasa resultados
Khamenei está correto ao afirmar que, nas circunstâncias atuais, um diálogo seria inútil e prejudicial. Inútil, porque a administração Trump demonstrou repetidamente que seu objetivo não é a coexistência ou a verificação de um programa nuclear pacífico, mas a rendição incondicional do Irã e a desmontagem de seu projeto de desenvolvimento tecnológico soberano.
Prejudicial, porque qualquer concessão sob essa coação seria interpretada como fraqueza, abrindo caminho para exigências ainda mais severas. A “negociação” que Washington oferece é, como bem definiu o Líder Supremo, uma imposição disfarçada.
A acusação de Khamenei de que os EUA usam as conversações como cortina de fumaça para operações militares não é teoria da conspiração; é uma leitura realista dos fatos.
O ataque israelense a instalações iranianas em junho, supostamente com anuência tácita de Washington, e os relatos de planos de bombardeio de Trump a sítios nucleares são a prova viva de que, para o eixo Washington-Tel Aviv, a diplomacia é apenas mais uma tática no arsenal de guerra. Esperar que o Irã negocie séria e abertamente sob a mira de várias armas é uma afronta à inteligência internacional.
Além do nuclear, a postura de Khamenei reflete uma compreensão geopolítica profunda. O elogio ao mártir Sayyed Hassan Nasrallah e ao Hezbollah não é mera saudade; é o reconhecimento de que, em um cenário de assédio constante, o poder de dissuasão é a verdadeira moeda da paz.
O Hezbollah e o eixo de resistência não são “gangues terroristas”, como gosta de pintar a propaganda ocidental, mas forças legítimas de defesa que surgiram diretamente da resistência à ocupação e à agressão. São o contraponto necessário ao desequilíbrio militar na região, um desequilíbrio fomentado e financiado pelos próprios Estados Unidos.
A defesa do programa de enriquecimento de urânio vai ao cerne desta questão. É o direito de uma nação dominar a tecnologia para seu desenvolvimento pacífico – para gerar energia, avançar na medicina e na pesquisa. Ao tentar estrangular este programa, os EUA não estão preocupados com a proliferação nuclear; estão determinados a impedir que o Irã ascenda como polo de poder independente e exemplo de autossuficiência para o mundo islâmico.
Portanto, a rejeição de Khamenei ao diálogo não é um fechamento de portas, mas uma condição prévia para qualquer conversa futura que valha a pena: o fim da política de intimidação e a demonstração de respeito mínimo pela soberania iraniana.
Enquanto os EUA insistirem em uma política externa de extrema-direita, que substitui o direito internacional pela lei do mais forte, a resistência estratégica pregada por Teerã permanecerá não apenas como uma opção válida, mas como a única opção digna para uma nação que se recusa a ser subjugada. A postura de Khamenei é um lembrete crucial de que algumas coisas são, de fato, inegociáveis.


Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!