Relato de ‘operação intimidatória’ surge enquanto Itália e Grécia reiteram apelo para que Israel garanta a segurança da flotilha
Uma flotilha pró-Palestina com destino a Gaza disse que foi abordada e assediada por barcos da Marinha israelense que cortaram os sistemas de comunicação de uma de suas embarcações líderes, enquanto Itália e Grécia reiteraram os apelos para que Israel garanta a segurança das pessoas a bordo.
A Flotilha Global Sumud (GSF), transportando cerca de 500 pessoas, incluindo a ativista climática Greta Thunberg e a ex-prefeita de Barcelona Ada Colau, disse que teve um encontro com embarcações da marinha israelense que circularam o “barco líder” da frota por cerca de seis minutos enquanto desabilitavam remotamente seus sistemas de comunicação.
“Nas primeiras horas desta manhã, as forças navais de ocupação israelenses lançaram uma operação intimidatória”, afirmou em um comunicado. Na manhã de quarta-feira, a flotilha estava ao norte do Egito, a cerca de 220 km de Gaza, onde tentativas anteriores foram interceptadas.
Um dos tripulantes do barco da frente, o ativista turco Metehan Sarı, disse à agência de notícias Anadolu que navios da Marinha israelense se aproximaram a uma distância de 5 a 10 metros. “Este foi um dos maiores atos de assédio que enfrentamos até agora. Tentaram nos assustar, mas não tivemos medo”, disse ele.
Em uma declaração conjunta de seus ministros das Relações Exteriores na quarta-feira, Itália e Grécia apelaram a Israel para “garantir a segurança dos participantes e permitir todas as medidas de proteção consular”. A declaração também reiterou o apelo para que os ativistas entregassem a ajuda humanitária a bordo à Igreja Católica para distribuição, o que os organizadores rejeitaram, alegando que sua intenção é desafiar o bloqueio naval israelense a Gaza.
O bloqueio naval foi imposto por Israel em 2009, uma intensificação do bloqueio de Gaza imposto em 2007, em resposta à tomada do território pelo Hamas. Foi condenado em diversas ocasiões pelas Nações Unidas, que o classificaram como “uma violação direta dos direitos humanos internacionais e do direito humanitário”.
O comboio está sendo escoltado por um navio da Marinha espanhola, que oferece cobertura em caso de ataques de drones. Até terça-feira, também era escoltado por um navio de guerra italiano que, segundo os organizadores, oferecia aos participantes a oportunidade de abandonar suas embarcações.
Francesca Albanese, relatora especial da ONU para a Palestina , criticou a retirada italiana. “Enquanto a Flotilha se prepara para entrar nas águas de Gaza com sua missão humanitária, o governo italiano se prepara para abandoná-la, deixando Israel livre para cometer novas violações e prosseguir com o genocídio sem ser perturbado”, disse ela em uma publicação no X.
Na noite de terça-feira, o governo espanhol informou ter contatado a flotilha e “recomendado urgentemente” que ela não entrasse na zona de exclusão declarada por Israel para a segurança de todos os envolvidos. Fontes governamentais em Madri disseram que, embora a missão da flotilha fosse “louvável e legítima”, a vida de todos os seus integrantes deveria ser a prioridade.
Eles também disseram que o barco de patrulha naval espanhol Furor, destacado para auxiliar a flotilha, não cruzaria a zona de exclusão declarada por Israel, pois isso colocaria a embarcação e sua tripulação em risco. No entanto, disseram que o barco permaneceria em um raio operacional e estaria de prontidão caso um resgate fosse necessário.
Em entrevista à TVE da Espanha na manhã de quarta-feira, o ministro da transformação digital da Espanha, Óscar López, disse que a segurança deve ter precedência e defendeu a decisão do governo.
“As pessoas precisam lembrar que o que essas pessoas estão fazendo é levar comida e remédios, e esta não é a primeira vez que Israel bloqueia a ajuda ao povo palestino”, disse ele.
“E essa é uma causa que não poderia ser mais justa e que merece toda a nossa empatia e compreensão. Mas o governo precisa tomar decisões, e o que o governo não vai fazer é colocar um barco espanhol nestas águas que foram declaradas zona de exclusão israelense… Fomos até onde podíamos e ainda estamos lá.”
Nas últimas semanas, o governo italiano pediu repetidamente à flotilha que evitasse o confronto com Israel e entregasse ajuda por meio de portos israelenses ou cipriotas.
Os ativistas, no entanto, insistem que sua operação não é sobre a ajuda — que eles descrevem como amplamente simbólica — mas sobre quebrar o “cerco ilegal” de Israel ao território.
O deputado do Partido Democrata Italiano Arturo Scotto, falando ao La Repubblica a bordo de um dos navios da flotilha, reconheceu seu medo conforme eles se aproximam de Gaza, mas insiste que a missão prosseguirá.
“A flotilha certamente já mostrou uma coisa ao mundo: o imperador está nu. Israel, uma grande potência militar, teme cerca de 40 pequenos barcos? Não, sabe que esta missão expôs suas mentiras criminosas e indignas.”
A flotilha foi atacada na semana passada por drones que lançaram granadas de efeito moral e pó de mico, causando danos leves, mas sem feridos.
A Marinha israelense informou que está se preparando para assumir o controle de mais de 50 embarcações que estão dentro de seu raio de alcance de interceptação. A unidade de comando naval de elite Shayetet 13 está supostamente de prontidão para a operação, que pode envolver o reboque de navios até o porto de Ashdod ou o afundamento de alguns no mar, de acordo com a emissora pública israelense Kan.
Em uma publicação no X, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, disse que a rejeição da flotilha à proposta italiana de descarregar ajuda em Chipre provou que “seu verdadeiro propósito é a provocação e servir ao Hamas”.
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, também pediu à flotilha que interrompesse sua missão, alertando que qualquer tentativa de quebrar o bloqueio poderia comprometer uma recente iniciativa de paz mediada pelos EUA entre Israel e o Hamas.
Tentativas anteriores de ativistas de romper o bloqueio naval em Gaza, ilegal segundo o direito internacional, foram impedidas à força pelo exército israelense.
Em 2010, 10 ativistas turcos foram mortos por comandos israelenses que invadiram o navio Mavi Marmara que liderava uma flotilha de ajuda humanitária em direção a Gaza.
Publicado originalmente pelo The Guardian em 01/10/2025


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