Tarifas e controles de Trump aumentam a procura por metais preciosos, enquanto investidores buscam proteção contra riscos geopolíticos
O brilho ofuscante do ouro, que nesta segunda-feira (13) atingiu a marca histórica de US$ 4.044 por onça, não é apenas um reflexo do metal em si. É o espelho de um sistema global em convulsão, um voto de desconfiança massivo na ordem econômica liderada pelos Estados Unidos e um claro sinal de que a era da hegemonia incontestada do dólar enfrenta seus tremores mais significativos. A disparada dos preços, acompanhada pela prata, não é um evento isolado de mercado; é a consequência direta e previsível de uma política externa americana errática e de uma soberania econômica chinesa que se recusa a ser subjugada.
O catalisador imediato para esta corrida aos portos seguros tem nome e sobrenome: Donald Trump. Sua decisão de impor tarifas punitivas de 100% sobre produtos chineses e novos controles sobre a exportação de softwares essenciais não é uma tática de negociação, é um ato de guerra econômica.
É a instrumentalização do poder comercial para tentar conter, de forma unilateral e agressiva, o desenvolvimento tecnológico e a autonomia de outra nação. Esta não é a linguagem da diplomacia ou do comércio justo, mas da coerção. O mercado, com sua lógica fria, entende o recado: a instabilidade tornou-se a política oficial da Casa Branca.
Neste tabuleiro de xadrez geopolítico, a resposta de Pequim é uma aula de estratégia e defesa da soberania. Ao restringir elementos e equipamentos de terras raras, a China não está apenas retaliando, está lembrando ao mundo de sua posição crucial nas cadeias de suprimentos globais e de seu direito inalienável de proteger seus recursos estratégicos.
É fundamental notar a nuance que a imprensa ocidental muitas vezes ignora: Pequim defendeu suas ações como justificadas e, crucialmente, absteve-se de impor novas taxas sobre produtos americanos. Esta postura demonstra uma contenção calculada. Enquanto Washington aposta no caos e na escalada, Pequim move suas peças com a precisão de quem defende seus interesses nacionais de longo prazo, sem ceder à provocação imediata.
A análise de Kyle Rodda, da Capital.com, que aponta o “ressurgimento de riscos devido às tensões comerciais inflamadas”, captura apenas a superfície do fenômeno. A questão mais profunda é a erosão da confiança. Por décadas, o mundo operou sob a premissa de que os títulos do tesouro americano e o dólar eram os ativos mais seguros. Hoje, essa premissa está sendo desmantelada. A busca frenética por ouro e prata, com ganhos anuais de 54% para o primeiro, não é apenas uma aposta contra a inflação, mas uma aposta contra a própria previsibilidade da política econômica e externa dos EUA.
Este movimento é amplificado pela fragilidade interna da economia americana, evidenciada pela expectativa quase unânime de novos cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve. Os mercados não estão apenas reagindo à guerra comercial; estão antecipando que o Fed será forçado a baratear ainda mais o dólar para tentar mitigar os danos causados pela própria Casa Branca.
A fala iminente do presidente do Fed, Jerome Powell, é aguardada com ansiedade, não por esperança de soluções, mas para medir a profundidade da crise. Cada corte de juros, embora possa animar Wall Street no curto prazo, é mais um prego no caixão do poder de compra do dólar e mais um incentivo para que investidores e, mais importante, bancos centrais de todo o mundo, diversifiquem suas reservas para ativos tangíveis e soberanos como o ouro.
Até mesmo o cenário doméstico americano, com uma paralisação do governo que atrasa a divulgação de dados econômicos essenciais, contribui para essa percepção de desgoverno. Enquanto Trump se ocupa em culpar os democratas, a máquina administrativa da maior economia do mundo falha, reforçando a imagem de um império em desordem.
Portanto, a alta histórica dos metais preciosos é muito mais do que uma notícia para as páginas de economia. Ela simboliza uma transição de poder e a busca global por alternativas a um sistema financeiro refém dos caprichos de Washington. É a prova material de que as nações, a começar pela China, não estão mais dispostas a aceitar passivamente o uso do poder econômico como arma de dominação.
Cada grama de ouro comprado é um voto pela multipolaridade, pela estabilidade e pelo direito soberano de cada nação de traçar seu próprio destino econômico, livre de tarifas e sanções unilaterais. O ouro não mente, e hoje ele nos diz que o mundo está mudando.


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