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As lições de André Lara Resende que o Banco Central deveria escutar

“É muito difícil vencer as ideias econômicas estabelecidas, mesmo que estejam erradas”, diz André Lara Resende durante entrevista ao programa Kafé com Kinea. Um dos arquitetos do Plano Real, Resende trava há anos uma batalha intelectual contra o consenso que domina a política monetária brasileira. De dentro do sistema, enxergou as fraturas de um edifício […]

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“É muito difícil vencer as ideias econômicas estabelecidas, mesmo que estejam erradas”, diz André Lara Resende durante entrevista ao programa Kafé com Kinea. Um dos arquitetos do Plano Real, Resende trava há anos uma batalha intelectual contra o consenso que domina a política monetária brasileira. De dentro do sistema, enxergou as fraturas de um edifício que insiste em se manter de pé.

O alvo principal é a obsessão do Banco Central com a taxa básica de juros como ferramenta de combate à inflação. A Selic elevada não passa de um “equívoco” que se perpetua pela força da tradição, não pela eficácia. “A inflação no Brasil não responde diretamente aos juros”, argumenta Resende, desafiando décadas de ortodoxia econômica. A inflação brasileira tem componentes estruturais que escapam ao alcance dessa alavanca monetária. A estratégia é ineficaz e contraproducente.

Quando o governo paga juros elevados sobre a dívida pública, está transferindo uma quantidade massiva de recursos do Estado para o setor privado, especialmente para quem detém títulos públicos. “Política monetária e política fiscal são a mesma coisa na prática”, afirma Resende. Essa transferência de renda, longe de contrair a economia, alimenta a liquidez e contradiz o objetivo declarado de conter a demanda. O remédio que deveria curar a doença acaba por alimentá-la.

A comparação entre Brasil e China é devastadora. Enquanto o gigante asiático multiplicou sua renda per capita por 25 vezes nas últimas décadas, o Brasil mal conseguiu dobrá-la. “A economia brasileira é pensada pela Receita Federal”, critica Resende, apontando para um modelo que prioriza a arrecadação acima de tudo, em detrimento de uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo.

O Brasil não sofre de falta de recursos para investir, mas de falta de visão. “O verdadeiro gargalo não é a falta de dinheiro para investimentos públicos, mas a ausência de bons projetos e de uma concepção econômica que priorize o crescimento.” Enquanto o Banco Central e a equipe econômica insistirem em fórmulas que se mostram ineficazes, o país continuará preso em um ciclo de estagnação, desperdiçando seu potencial e adiando a prosperidade que poderia estar ao alcance.

As lições de André Lara Resende são um convite a repensar os fundamentos da política econômica brasileira, a questionar o que tem sido aceito como verdade absoluta e a buscar caminhos que possam finalmente tirar o Brasil da armadilha do baixo crescimento. A pergunta que fica é: alguém no Banco Central está disposto a escutar?

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Adelson

19/10/2025 - 16h51

Pagaria para ver o Lara Rezende no banco Central!


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