A nova pesquisa Genial Quaest, realizada entre 6 e 9 de novembro com 2.004 entrevistas, mostra que o governo Lula resistiu ao seu primeiro grande teste de fogo.
A aprovação presidencial sofreu uma oscilação de apenas um ponto para baixo, de 48% em outubro para 47% em novembro. A desaprovação variou de 49% para 50%, o que pode ser considerado estabilidade.
Este cenário de solidez se deu em meio a um dos maiores desafios políticos do ano. A operação policial promovida pelo governador Cláudio Castro no Complexo do Alemão, que resultou em 121 mortos, sequestrando a agenda política nacional.
O episódio impulsionou a criação da CPI da Organização Criminosa no Senado e o projeto de lei de facções na Câmara, consolidando a segurança pública como o epicentro do debate.
A ação pareceu um ato político espúrio, com fins eleitorais, desenhado para empurrar a esquerda para posições contramajoritárias, e neutralizar uma série de vitórias recentes do campo progressista.
A estratégia buscava gerar uma onda popular de apoio a operações violentas, criando uma armadilha política para os representantes do campo progressista, entre eles deputados, senadores, governadores, jornalistas, e sobretudo o presidente Lula.
Por uma ética da convicção, e para defender os valores de suas bases, estes representantes teriam que vir a público para criticar o que entenderam como uma operação desastrosa. Até mesmo para colocar um freio numa onda de violência policial que poderia desestabilizar o país.
E assim o fizeram.
A esquerda, os liberais autênticos (não confundir com “neoliberais fascistas da Faria Lima”) e os setores democráticos da sociedade reagiram com galhardia à provocação sangrenta de Cláudio Castro, mesmo entendendo que sua posição seria minoritária num primeiro momento.
Havia, portanto, a expectativa de que o debate sobre segurança, feito sob efeito das emoções causadas pela operação no Rio, pudesse causar arranhões na aprovação do presidente.
Ajudado por um ambiente econômico sólido, porém, o governo Lula mostrou capacidade de resistência notável em segmentos estratégicos, como seus próprios eleitores, as famílias de baixa renda, e os trabalhadores com ensino médio completo.
Houve ainda surpresas, como uma melhora da aprovação do governo entre evangélicos.
Separamos abaixo alguns gráficos, sempre antecedidos de comentários resumindo os principais pontos.
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Entre os eleitores que votaram em Lula no segundo turno de 2022, a aprovação se manteve em um patamar elevado de 82%, bem acima dos 74% de julho.
Outra boa notícia é a resistência do governo entre os eleitores que não foram votar, entre os quais a aprovação do presidente se manteve estável em 41%, 10 pontos acima do que tinha em julho.
Por posicionamento político, o levantamento indica que entre eleitores identificados como “independentes”, e que poderíamos também classificar de “centro”, a aprovação oscilou 3 pontos para baixo, para 43%, nível porém bem acima dos 38% de julho.
Curiosamente, a popularidade de Lula também oscilou cinco pontos para cima entre os bolsonaristas, saindo de 9% para 14% de aprovação, provavelmente eleitores de baixa renda que estão mais otimistas sobre economia e inflação.
A queda na inflação de alimentos e energia parece ter neutralizado o desgaste na pauta da segurança. Outro fator que pode ter ajudado foi o encontro de Lula com o presidente Donald Trump, do qual 45% dos brasileiros acreditam que o presidente saiu fortalecido.
Por posicionamento político, o encontro com Trump foi especialmente bem avaliado entre os eleitores de esquerda. Em tempos de rede social, é sempre importante para um líder manter suas tropas mobilizadas.
A maioria dos independentes também considerou que o presidente saiu fortalecido do encontro. Até mesmo 30% dos eleitores do bloco “direita não bolsonarista” tirou o chapéu para Lula neste caso.
A força do governo também se manifesta em sua principal base social, as famílias com renda de até dois salários mínimos, onde a aprovação se manteve estável em 54%, com queda de 3 pontos na desaprovação, que foi para 40%. Houve solidez também no setor médio, com renda entre 2 e 5 salários, onde o governo vem seguindo firme com 43% a 46% de aprovação desde julho.
Outro dado positivo vem do eleitorado com ensino médio completo, que representa a maioria do país. Nesse grupo, a aprovação de Lula subiu três pontos, de 42% para 45%.
Entre as mulheres, a aprovação oscilou de 52% em outubro para 51% em novembro, mas ainda se mantém cinco pontos acima da pontuação de julho. Entre os homens houve estabilidade, com 43% de aprovação (1 ponto apenas abaixo de outubro), mas ainda 4 pontos acima do patamar do início da série.
A aprovação de Lula entre os evangélicos atingiu o maior patamar dos últimos meses, 38%. O número representa um crescimento de dez pontos desde julho, e pode ser fruto tanto da percepção econômica quanto de uma possível ressonância da postura mais humanista do presidente em relação à violência policial.
O instituto identificou que a violência se tornou a maior preocupação do brasileiro, citada por 38% dos entrevistados. O tema agora está muito à frente da economia, com 15%, dos problemas sociais, com 13%, e da corrupção, com 13%. Mas isso também pode provar que a opinião pública ainda está processando o choque provocado pela matança no Complexo do Alemão, e essa preocupação pode se diluir um pouco ao longo dos próximos meses.
No entanto, ao forçar um debate sobre segurança pública de forma tão abrupta, a direita pode ter “queimado a largada”. A manobra deu ao governo tempo para construir um discurso e ações firmes nesse tema.
A própria pesquisa mostra que a maioria da população (52%) é favorável a que o governo federal assuma mais responsabilidades na segurança pública, indicando um caminho.
A operação no Rio de Janeiro teve aprovação maciça de 67% dos brasileiros. Isso é compreensível, como explica a professora Jacqueline Muniz, do departamento de segurança pública da Universidade Federal Fluminense. Para Muniz, o brasileiro defende a presença do Estado na ocupação de territórios e combate ao crime, e por isso sempre haverá maioria em favor de operações.
O levantamento, no entanto, traz alguns nuances importantes, que ajudam a quebrar a impressão desagradável de que a população brasileira deseja combater violência com mais violência. Um deles é que a maioria dos entrevistados, 55%, não gostaria que uma “operação igual” acontecesse em seu estado.
A maioria (57%) dos eleitores discorda da avaliação de Lula, que classificou a operação policial no Rio como “desastrosa”.
Essa clivagem era exatamente o que a direita queria explorar ao promover esse banho de sangue. Por isso o presidente Lula foi corajoso ao sustentar sua crítica em meio à comoção nacional, mesmo indo contra a maioria, e sob risco de perder 1 ou 2 pontos numa pesquisa de aprovação.
A pesquisa também mostra que a maioria da população (73%) apoia que as organizações criminosas sejam consideradas terroristas. Isso com certeza reflete uma confusão semântica. A população odeia criminosos e os chamará de todos os nomes maus que se lhe oferecerem. Mas a questão do terrorismo é uma questão jurídica complexa, que deve ser deixada para especialistas em segurança pública. A pesquisa não capta o tema de maneira adequada.
O presidente Lula e a esquerda têm a obrigação moral de defender a democracia, os direitos humanos e as garantias fundamentais, mesmo que para isso tenham de correr alguns riscos políticos, como de ficar, temporariamente, em posição minoritária.
A pesquisa Quaest mostra que o presidente Lula e o campo progressista resistiram à tentação de se submeterem, por oportunismo, a um discurso de violência. Saíram talvez um pouco chamuscados, mas íntegros, e sobretudo mais preparados para mais essa guerra cultural.
A razão histórica está ao seu lado. O desafio é trabalhar para, com inteligência e firmeza, reverter essa percepção e evitar que o país enverede por um caminho de autoritarismo e violência.
O episódio revelou o compromisso de parte da sociedade brasileira com valores democráticos e humanistas, e que não se dobram ao clamor por vingança.
Para baixar o relatório da Quaest na íntegra, clique aqui.















Tony
12/11/2025 - 11h50
O Consorcio Fascistoide STF/Globo/PT (em ordem de importancia) eliminou Bolsonaro para nao correr risco algum de nao ganhar as eleiçoes de 2026.